Entrevista com o Presidente Bashar al Assad ao canal 02 da Holanda 1

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Presidente da Síria Bashar Assad

 17/12/2015

Canal 2: Senhor Presidente, após quatro anos de guerra em seu país, o que resta da Síria?

Presidente Assad: O que resta é o que está relacionado ao povo. Se falarmos sobre a infraestrutura, boa parte foi destruída nos últimos quatro anos e alguns meses. O que restou é saber como as pessoas conseguiram resistir diante dessa ideologia obscurantista que os terroristas, vindos de diferentes países, trouxeram consigo. Acredito que a maioria das pessoas passou a apoiar o governo, independentemente de sua filiação política. Elas continuam a apoiar a unidade da Síria e a integração de sua sociedade, como uma sociedade diversificada.

Canal 2: Ouvimos bombardeios todos os dias, até mesmo aqui, em Damasco, perto de onde estamos agora. O senhor disse que há unidade e que as pessoas confiam em seu governo. O senhor ainda está tão confiante quanto a isso?

Presidente Assad: Eu estou mais confiante agora do que antes. Se você for para as áreas controladas pelo governo, você verá todas as diferentes cores da sociedade síria sem nenhuma exceção. Mas se você for para as áreas controladas pelos terroristas, você verá, talvez, uma parte deste espectro sírio, do espectro social, ou talvez não veja habitantes mas sim combatentes. O contraste entre as duas situações é muito claro.

Canal 2: Cerca de 4.000 sírios fogem do seu país todos os dias. Até agora, este número chegou a 4,3 milhões. Certamente o senhor deve ter ouvido algumas de suas histórias, sobre os motivos de estarem saindo. Como o senhor se sente quando as ouve?

Presidente Assad: São, sem dúvida, histórias tristes. Elas relatam as dificuldades de cada pessoa e cada família. Como você disse, nós vivemos essas histórias diariamente. Mas não basta sentir. Temos que ver o que é possível ser feito. Eles saíram por causa dos ataques terroristas diretos. Porque os terroristas atacam a infraestrutura, e por causa do embargo ocidental que levou ao mesmo efeito psicológico provocado pelos terroristas, direta ou indiretamente. Acredito que a maioria deles está pronta para voltar ao seu país. Eles ainda amam seu país, mas a vida na Síria, talvez, não seja suportável em situações adversas.

Canal 2: O Senhor diz que a maioria deles está pronta para voltar, mas baseado em muitas histórias que eles contam, eles fogem do terrorismo, é claro, mas muitos deles também fogem de seu governo e de suas forças armadas.

Presidente Assad: Você está na Síria agora e pode ir para as áreas que estão sob o nosso controle. Poderá ver que algumas das famílias dos terroristas ou extremistas ou militantes, como queira chamá-los, vivem sob a supervisão do governo e com o apoio do governo. Então, por que estas famílias não deixaram a Síria?

Canal 2: Ok. Ouvimos, no Ocidente, histórias de sírios que vêm até nós. Eles falam sobre tortura, sobre a existência de pessoas na prisão, sobre coisas feitas por suas forças armadas e que esta é a razão para que tenham saído. Existe verdade nestas histórias?

Presidente Assad: Vamos falar sobre os fatos. Os fatos vão te dizer se é verdade ou não. Se você estivesse torturando, atacando, matando o seu povo ou coisa parecida e enfrentasse a animosidade dos governos ocidentais e dos países mais ricos do mundo, como os países do Golfo, a Turquia e os nossos vizinhos, que estão contra mim como presidente ou contra o governo, como você poderia resistir por quase cinco anos, em tais circunstâncias, se você não tem o apoio popular? E como você pode ter o apoio popular se você estiver torturando o seu povo? Mas se existirem erros, na realidade isso pode acontecer em qualquer lugar.

Canal 2: Então há erros?

Presidente Assad: Claro. Especialmente quando há guerra. Talvez ocorra um erro isolado, cometido por uma única pessoa. Isso pode acontecer. Existe um caos e, por vezes, isso pode acontecer. Isso não está descartado. Mas existe uma diferença entre ter este tipo de erro e ter uma política que preveja a tortura ao povo e a perda de seu apoio.

Canal 2: O senhor está dizendo que não existe tal política?

Presidente Assad: Não, definitivamente.

Canal 2: Hoje a Human Rights Watch, e antes disso as Nações Unidas, divulgou um relatório dizendo há casos generalizados de mortes em centros de detenções, desde o início dos acontecimentos, em 2011. Existe alguma verdade nestes relatórios?

Presidente Assad: Se você quiser verificar a credibilidade desses relatórios, confirmar se são politizados, se estão contando só um lado da história, volte ao que eu disse há pouco sobre Damasco ser bombardeada. Tem que ver o que acontece a cada intervalo de dias, quando muitos civis inocentes são mortos. Estes relatórios mencionaram algo a respeito disso? Existem várias evidências que têm sido divulgadas pelos terroristas na internet, como fotos e vídeos sobre torturas, matanças, decapitações. Eles mencionaram algo a respeito dessas histórias?

Canal 2: Então são unilaterais? Até mesmo a ONU?

Presidente Assad: Claro, definitivamente, são politizados. Até mesmo a ONU é controlada pelos Estados Unidos e os Estados Unidos são contra a Síria. Esta é a realidade, todo mundo sabe disso.

Canal 2: Mas vocês são parte da ONU. A Síria é membro da família das Nações Unidas.

Presidente Assad: Claro, mas a ONU é uma instituição politicamente tendenciosa porque está sob o controle dos Estados Unidos e seus aliados.

Canal 2: Então, o senhor está dizendo que os relatórios sobre tortura generalizada e amplas violações dos direitos humanos, após 2011, são tendenciosos e que não são verdadeiros?

Presidente Assad: Eles são baseados em relatos. Você pode pagar a alguém para que ele faça o relato que você quiser. É o que o Qatar está fazendo. Eles divulgam muitos relatos financiados pelos qataris e pelos sauditas. Isso não significa nada. Se você quer fazer investigações, venha para a Síria. Aqui você encontrará a realidade de forma clara.

Canal 2: Dizem que é difícil chegar até a Síria para fazer investigações independentes.

Presidente Assad: Não, não é difícil. Você está aqui, portanto qualquer um poderia fazer o mesmo. Caso contrário, se for difícil para eles virem até a Síria, então será difícil julgar a situação e escrever relatórios.

Canal 2: Vamos em frente. Como o senhor sabe, nós somos da Holanda e meu país está bombardeando o ISIS no Iraque, do outro lado da fronteira. Eles estão lutando contra o mesmo inimigo de vocês. O senhor consideraria a Holanda um aliado?

Presidente Assad: Depende da real intenção. O que você quer dizer com lutar contra os terroristas? Seria por causa do surgimento do ISIS aqui? Seria pelo medo de sua influência ou efeitos na sua região? Se a motivação for o medo, então não, nós não somos aliados.

Canal 2: O senhor acha que a motivação é o medo?

Presidente Assad: Sim, é o medo e não os valores. Por que não lutaram contra o terrorismo desde o início, antes do surgimento do ISIS? A Frente al-Nusra já existia, a Al Qaeda já existia. Existiam muitos terroristas que vocês não combateram. Esta luta contra o terrorismo só começou depois dos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, e depois dos recentes ataques em Paris e em diferentes países europeus. Mas, antes disso, eles não disseram que estavam em guerra contra o terrorismo.

Canal 2: Então o senhor quer dizer que eles se atrasaram em aderir a esta guerra?

Presidente Assad: Deveria ser uma questão de princípio. Quando há o princípio, ele deve ser duradouro e não somente uma reação automática motivada pelo medo. Quando a sua ação é só uma reação a um acontecimento, então a sua ação não se baseia num princípio. A luta contra o terrorismo deve ser um princípio sustentável e duradouro. Deste modo, poderíamos ser aliados.

Canal 2: Então o senhor está dizendo que, no nosso caso, os bombardeiros holandeses contra o ISIS no Iraque são uma reação motivada pelo medo? Que não são sustentáveis?

Presidente Assad: Isso faz parte da política europeia e a política europeia é parte da política americana. Ela não é independente. Todo mundo sabe disso. Portanto, não posso julgar a política holandesa como um caso isolado. Ela é parte da política ocidental em relação ao terrorismo. Ela não é objetiva e nem realista. Na verdade, ela não só é improdutiva, ela é contraproducente.

Canal 2: Mas podemos dizer que eles estão bombardeando o seu inimigo, então, de certa forma, eles o estão ajudando.

Presidente Assad: Quando não há reais intenções e não há uma visão realista, o resultado ocorrerá no sentido inverso. Vocês bombardeiam e, talvez, vocês sejam bem intencionados. Quero dizer, talvez os políticos de seu país tenham boas intenções, mas qual é a realidade? A realidade é que o ISIS vem se expandindo, desde que a coalizão começou, em 2014.

Canal 2: Então o bombardeio não está adiantando?

Presidente Assad: Não, não está adiantando. Você não pode lutar contra o terrorismo sem tropas no terreno. Sem um apoio real, sem uma tutela social para apoia-lo em sua guerra contra os terroristas.

Canal 2: Então o que o senhor está dizendo é que as operações de bombardeio, como as que estão sendo perpetradas pela Holanda, não passam de um show?

Presidente Assad: Talvez seja um show. Isso depende das intenções. Na realidade, não tiveram nenhum resultado e não adiantaram em nada.

Canal 2: O nosso governo decidirá, no próximo mês, se deve ou não iniciar um bombardeio, utilizando o seu espaço aéreo, para bombardear alvos do ISIS na Síria. Já que eles estão debatendo este assunto agora, o que o senhor diria a eles?

Presidente Assad: Isso é ilegal. É uma violação ao Direito Internacional. Nós somos um país soberano. Se eles são sérios na luta contra o terrorismo, o que os impede de procurar o governo sírio para dizer: “Vamos cooperar na luta contra o terrorismo?”. O único obstáculo é que a atual política ocidental em relação à Síria é: “Precisamos isolar este Estado e este presidente e, por isso, não podemos tratar com ele”. Sendo assim, vocês não alcançarão nenhum resultado.

Canal 2: Então o senhor está dizendo que os bombardeios holandeses serão ilegais e que eles devem obter uma permissão do senhor para fazer isso, certo?

Presidente Assad: Devem obter permissão do Governo sírio.

Canal 2: Eles fizeram contato com vocês sobre algum desses assuntos?

Presidente Assad: Ninguém entrou em contato conosco. Alguns governos europeus enviaram suas inteligências a fim de fazer uma espécie de cooperação. Uma cooperação de segurança em relação ao terrorismo, porque eles temem os terroristas. E é claro que nós recusamos.

Canal 2: Eles dizem que há uma autorização para isso, porque o Iraque pediu ajuda, e agora podemos bombardear alvos na Síria também.

Presidente Assad: Não, eles não podem. Eles não têm o direito, isso é ilegal, em todos os sentidos da palavra ilegal.

Canal 2: Bom, o governo holandês disse ainda, se é que isso é importante, que para alcançar uma paz duradoura, isso tem que ocorrer sem o senhor. Talvez haja um período de transição. Mas, em suma, teria que ocorrer sem o senhor. Qual é sua resposta a estes dizeres?

Presidente Assad: Se você, como cidadão holandês, aceitar que alguém da Síria venha lhe dizer quem deve e quem não deve ser o seu primeiro-ministro, então nós também aceitamos. Mas vocês não aceitam e nós também não. Somos um país soberano, tanto se tivermos um bom presidente ou um mau presidente. É um assunto sírio e não europeu. Os europeus não têm nada a ver com isso. É por isso que nós não respondemos e não nos importamos com o que dizem.

Canal 2: Neste caso, vocês não se importam com o que diz o governo holandês?

Presidente Assad: Não. Isso é um assunto sírio. O povo sírio é quem decide quem sai e quem fica. Se o povo sírio não quiser que eu fique, eu tenho que sair hoje, imediatamente.

Canal 2: Mais uma pergunta sobre a Holanda e a nossa vizinha, a Bélgica. Centenas de prováveis jihadistas vêm aqui, para a Síria, provenientes destes dois países. Por que eles estão vindo para cá e o que eles estão procurando?

Presidente Assad: A pergunta mais importante é: Por que eles estão com vocês, na Europa? É natural que eles tenham vindo para cá quando se tem o caos, agora que a Síria foi transformada num viveiro para o terrorismo, porque a Europa, a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar apoiaram estes terroristas de diferentes maneiras. E quando há o caos, é claro que o país passa a ser um foco de terrorismo. É natural que este solo fértil atraia os terroristas do mundo todo. Mas a pergunta é: Por que eles estavam na Europa? Vocês não lidam com o terrorismo de modo realista.

Canal 2: Então, onde a Europa errou ao lidar com eles?

Presidente Assad: Se você está me perguntando sobre o motivo, então existem dois pontos: Em primeiro lugar, os governos europeus não fizeram o que era esperado para integrar essas pessoas em suas sociedades. Eles viviam em bairros isolados, em guetos. Quando você vive em guetos, você se torna um extremista. Em segundo lugar, muitos dos líderes europeus venderam seus valores em troca de petrodólares. Eles permitiram que as instituições sauditas wahhabistas financiassem e levassem essa ideologia extremista obscurantista para a Europa. É por esse motivo que, agora, vocês exportam terroristas para nós. Nós não exportamos terroristas. Na verdade, eles vieram para a Síria, e depois voltam para a Europa.

Canal 2: Eles voltam para nós?

Presidente Assad: Os três criminosos que cometeram os ataques a Paris, todos viviam na Europa. Na Bélgica, na França e em outros países. Eles não viviam na Síria.

Canal 2: Em nível internacional, os Estados Unidos sempre disseram que “O presidente Assad tem que sair”. Já ontem, o Secretário Kerry disse “bem, talvez não imediatamente e não estamos buscando uma mudança de regime”. Agora até os franceses estão dizendo que o presidente pode ser parte de uma solução. Parece que a sorte deles está mudando.

Presidente Assad: (Com sarcasmo) Agradeça-lhes pelo que disseram. Eu já estava arrumando minha bagagem e me preparando para sair. Agora eu poderei ficar. Nós nunca nos preocupamos com o que eles dizem. Eles dizem a mesma coisa há quatro anos. Alguma coisa mudou em relação a esta questão? Nada mudou. Portanto, essa é uma questão síria, tanto faz se o interlocutor é o Obama ou os Estados Unidos ou a Europa ou qualquer outro país. Nós não nos importamos com isso, desde que os sírios queiram que este presidente ou qualquer outro presidente esteja no poder, ele estará lá. Portanto, se eles disserem que o presidente tem que sair agora ou daqui há seis meses ou seis anos, isso não é assunto deles. Simples assim.

Canal 2: Mas isso poderia ajudar nas negociações para alcançar a paz. Refiro-me à posição deles em relação ao senhor.

Presidente Assad: Esta não é a questão. Isso depende do problema que temos na Síria. Ele tem muitos aspectos. Qual é a relação entre a presença deste presidente ou de qualquer outro presidente no poder com a vinda do ISIS, da Frente al-Nusra, da Al-Qaeda e de muitos outros terroristas à Síria para matar e decapitar? Não há nenhuma relação. Isso é só para enganar a opinião pública, só para dizer que o problema, na Síria, é o presidente. Então, quem é mais importante, o presidente ou o país? Claro que a resposta é o país, de modo que o presidente tem que sair. Então, essa é a equação que eles estão tentando promover. E a única equação para o presidente é a opinião pública em seu país, assim como ocorre em qualquer outro país. Fora isso, se eles estão sendo sérios em resolver o problema na Síria, então os líderes europeus deveriam, ao invés de fazer discursos que seriam mais apropriados para igrejas e mesquitas e não para políticos, trabalhar para cessar o fluxo de terroristas, de dinheiro, de apoio logístico e de armamento, através da Turquia. É isso o que eles deveriam fazer.

Canal 2: A Turquia é a chave de tudo isto?

Presidente Assad: Ela é a chave logística. Assim como a Arábia Saudita, que é a outra chave, com seu dinheiro e sua ideologia.

Canal 2: Bem, chegaremos neste ponto. O senhor diz que há a Turquia e a Arábia Saudita. Internamente, existem três iniciativas diferentes para chegar a algum tipo de processo de paz. Quais seriam as partes com quem o senhor estaria disposto a negociar?

Presidente Assad: Qualquer pessoa que carregue armas, mate pessoas e destrua propriedades públicas e privadas é terrorista, portanto, como governo, nós não negociamos com terroristas.

Canal 2: Mas o problema neste conflito é que todo mundo faz isso.

Presidente Assad: Exatamente. Então, como lidar com esta situação? Pelo fato de sermos muito realistas e pragmáticos, fizemos negociações com grupos de militantes e não com organizações. Nós não reconhecemos sua legitimidade para dizermos que estamos negociando sobre o futuro da Síria. Todos eles são terroristas e não têm qualquer agenda política. Nós negociamos com alguns membros para que eles voltassem às suas vidas normais, para desistir de seus armamentos e receber a anistia. Funcionou. Esta é uma solução realista que pode ser aplicada, neste momento, no terreno. Estamos levando esta solução de uma área para outra.

Canal 2: Já que todas as partes estão envolvidas nos bombardeios, nas matanças, inclusive o seu governo, como ficam as partes internacionais, já que todas elas estão envolvidas neste conflito também? Quais seriam as partes com quem o senhor estaria disposto a falar? Seria os Estados Unidos, a Arábia Saudita, a Turquia ou apenas o Irã e a Rússia?

Presidente Assad: Estamos conversando com todos os que querem ajudar a resolver o problema. Não temos um problema em falar. A questão é quem está pronto para apresentar soluções? Esta é a questão.

Canal 2: E quem está pronto para apresentar soluções?

Presidente Assad: Nenhuma das partes que você mencionou. Somente a Rússia, o Irã e seus aliados, são os países que apoiam politicamente o governo sírio ou a legitimidade da Síria. Quanto ao Ocidente, não há nenhuma parte disposta a isso. Poucos são os países que têm essa disposição, mas eles não se atrevem a fazer contato com a Síria para resolver o problema, a não ser que os Estados Unidos imponham a sua agenda sobre eles e sobre nós.

Canal 2: Então, em resumo, eles terão que negociar com tantas partes quanto possível. O senhor estaria disposto a negociar com as partes cujo objetivo final é removê-lo?

Presidente Assad: Claro. Quero dizer, se quiserem me tirar, eles têm as urnas como opção. Nós estamos dispostos e não temos nenhum problema quanto a isso. Eles podem convencer o povo sírio de que há uma alternativa melhor, que esta não é a escolha apropriada para o futuro, e que o presidente sairá. Não há problema quanto a isso.

Canal 2: Isso soa bem. Mas em termos práticos e realistas, se observarmos a história da Síria, qual é o grau de liberdade que os partidos da oposição têm? Qual é a liberdade que os políticos têm para criticá-lo ou para fazer oposição ao senhor?

Presidente Assad: Vou ser objetivo. Nós ainda não nos tornamos como a Europa e isso é uma questão cultural, não apenas política. Mas estamos no caminho para conquistar uma democracia mais ampla na Síria. Estamos caminhando lentamente, mas com segurança. A questão não é o presidente, até porque a Síria não é a minha empresa. É um país com um povo. O que eu quero dizer é que o processo democrático é, ao mesmo tempo, um processo social e político e nós estamos avançando.

Canal 2: Mas pode-se dizer que há quatro anos, houve um passo nesse processo, porém quando as pessoas se manifestaram, houve uma repressão brutal.

Presidente Assad: Quantos se manifestaram? Vocês têm um número? O maior número a que se chegou num dia de manifestações, na Síria, foi de 130.000 pessoas. Vamos duplicá-lo para 300.000 e, novamente, duplicá-lo para 600.000. Não é um parâmetro de comparação para 24 milhões de sírios.

Canal 2: Então o senhor está dizendo que ninguém realmente se manifestou contra o senhor naqueles dias?

Presidente Assad: Não. É claro que houve manifestações, mas era uma mistura de pessoas que queriam, realmente, se manifestar contra um sistema político, no qual eles não acreditavam mais e pessoas, pagas pelo Qatar, para se manifestar no contexto de uma propaganda. E havia terroristas que se infiltraram nestas manifestações para matar os policiais e para que houvesse uma reação. Foi isso o que aconteceu na primeira semana da crise.

Canal 2: Então foi só isso o que aconteceu? A polícia revidou os assassinatos que ocorreram vindos de dentro dos grupos de manifestantes?

Presidente Assad: Na primeira semana, muitos policiais foram mortos pelos manifestantes. Quem são estes manifestantes? Seriam manifestantes pacíficos? Desde o início, havia metralhadoras e armas das mais variadas. Foi isso o que aconteceu. De qualquer forma, se o presidente tiver que sair, ele sairá através da Constituição e das urnas. E se um presidente tiver que chegar ao poder, ele chegará através da Constituição e das urnas. Nestas duas situações, a opinião pública estará refletida.

Canal 2: Havia uma oposição que gozava de credibilidade nos últimos anos? Pessoas com credibilidade que desafiavam o seu poder?

Presidente Assad: Sim, temos uma oposição. Você pode manter um encontro com eles. Estão aqui na Síria, vivem na Síria, eles têm bases de apoio popular na Síria. Temos grandes e pequenas oposições, novas e velhas. Esta não é a questão, mas a oposição existe e tem permissão para atuar.

Canal 2: O que nós vimos, através dos meios de comunicação ocidentais, foram ações brutais de repressão. E agora há uma guerra e relatos sobre barris explosivos, detenções em massa e uso excessivo da violência por parte do governo. Então qualquer pessoa vai pensar muitas vezes antes de se opor ao senhor ou criticá-lo.

Presidente Assad: Esta questão está relacionada aos meios que você recorreu ao enfrentar pessoas que matavam policiais, destruíam e queimavam coisas durante os primeiros dias? Isso não acontecia depois de seis meses, como a propaganda tentou promover no Ocidente. Ou seja, dizer que as manifestações pacíficas transformaram-se em ações armadas por causa da repressão. Isso não é verdade. Eu repito, eles mataram os policiais na primeira semana.

Canal 2: Olhando para trás, o que o senhor teria feito de forma diferente em 2011? E o que teria feito de forma diferente agora?

Presidente Assad: Nós estabelecemos a nossa política baseada em dois pilares, que são o diálogo e o combate ao terrorismo. E hoje nós continuamos lutando contra o terrorismo e vamos continuar o diálogo com todas as partes envolvidas com o que acontece na Síria.

Canal 2: Até mesmo se acontecer o que aconteceu em 2011? O senhor daria a mesma resposta?

Presidente Assad: Se o mesmo acontecer e as pessoas matarem policiais, teremos que responder. Essa é a nossa função como governo.

Canal 2: Para concluir, se olharmos para trás, nos últimos quatro anos, uma grande parte do país está sob o controle de diferentes grupos rebeldes e do ISIS. Pessoas inocentes estão morrendo em ambas as frentes e outras estão sofrendo. O senhor é o presidente do seu país e é responsável por proteger o seu povo. O senhor se pergunta se fez o suficiente para proteger o meu povo?

Presidente Assad: Eu não posso julgar a mim mesmo, porque eu não serei objetivo falando de mim mesmo. Os sírios são quem deve dizer se o presidente fez o suficiente ou não. Você mencionou que, no início, houve a repressão. Muitas pessoas disseram que o presidente não fez o suficiente para reprimir os terroristas. Isso vai contra tudo o que foi publicado no Ocidente. Então, para que sejamos objetivos e para que todos nós, sírios, possamos julgar esta situação, devemos esperar o final da crise, porque o resultado final vai falar sobre o início. Agora estamos no meio da crise, portanto é difícil falar sobre isso.

Canal 2: Mas o senhor consegue se olhar no espelho e dizer: “Eu estou fazendo o suficiente”?

Presidente Assad: Sim, é claro. E isso muda a cada dia. Às vezes você julga a mesma ação de duas, três ou quatro formas diferentes, porque vivemos uma situação que muda rapidamente, então seu humor e seu pensamento acabam se influenciando por todas essas coisas do cotidiano. Então você pode mudar o seu julgamento também, mas nenhum julgamento será concreto e absoluto até superarmos esta crise. Será quando poderemos pensar de forma objetiva e realista sobre minhas ações como presidente.

Canal 2: A última pergunta: Quanto tempo vai levar para chegar a uma solução para a crise?

Presidente Assad: Se os países responsáveis ​​tomarem medidas necessárias para cessar com o apoio logístico e o fluxo de terroristas, posso garantir que levará menos que um ano.

Canal 2: Menos de um ano?

Presidente Assad: Menos de um ano. O problema é que eles continuam apoiando os terroristas, diária e progressivamente, com o objetivo de aumentar o caos e de colocar obstáculos frente a qualquer solução. Porque a solução que eles querem, ou que eles chamam de solução política, significa o fim do Estado e livrar-se, depor, afastar o presidente ou coisa parecida e é por isso que a crise continua.

Canal 2: Então, se não fosse pela interferência externa, vocês acabariam com a crise em um ano?

Presidente Assad: Sem dúvida! Por uma só razão: Porque os terroristas não conseguiram, até hoje, uma tutela social e, por este motivo, nós não estamos preocupados com eles.

Canal 2: Senhor Presidente, muito obrigado.

Presidente Assad: Obrigado por ter vindo a Damasco.

Fonte: Embaixada da República Árabe da Síria

Tradução: Jihan Arar

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Um comentário sobre “Entrevista com o Presidente Bashar al Assad ao canal 02 da Holanda

  1. Responder Renato dez 27,2015 0:57

    Em meio ao caos instalado por forças demoníacas, como pode um presidente dar conta da situação, resolver todos os problemas que se originam dessas forças demoníacas?

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