Paralelos, analogias etc. 

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5/6/2021, Martyanov, Blog Reminiscence of the Future

Escrevi longamente sobre essa questão, ao citar brilhante artigo de Irina Alksnis há alguns anos. Releiam aqui:

“Contudo, para ouvir esse conselho simples – e nem falar de aceitá-lo e segui-lo –, os EUA têm de parar, pelo menos por algum tempo, e calar-se. Parar de criar ondas de vento com declarações, exigências e ameaças, as quais aparecem ou como esquisitas, ou como absolutamente estúpidas, pela óbvia improbabilidade de elas algum dia se concretizarem. Mas parar e calar-se parece ser precisamente o que os EUA não são capazes de fazer. Resultado disso é que prossegue o infinito carrossel declaratório: Moscou, Assad tem de sair! Russos, imporemos a liberdade de navegação no Estreito de Kerch! Russos, castigaremos vocês pelo apoio a Maduro. Mas o mais insultante para os norte-americanos é que só a Rússia compreende os norte-americanos. Porque nós, russos, nunca esquecemos a dor que há por trás daquelas ameaças.”

Como vocês talvez saibam, odeio paralelos históricos – a maioria deles não têm nem a profundidade nem o contexto necessários. Mas é verdade que, ontem, Vladimir Putin mostrou um paralelismo direto (ru. com legendas em inglês), entre o modus operandi da União Soviética e o modus operandi dos EUA.

MOSCOU (Reuters) – O presidente Vladimir Putin da Rússia disse que os EUA erraram ao supor que fossem “suficientemente poderosos” para ameaçar outros países. Esse erro, disse Putin, levou à decadência e ao fracasso da União Soviética. Segundo a agência russa de notícias TASS, Putin fez esse comentário durante conferência de imprensa no final da 6ª-feira, ao falar sobre as sanções dos EUA contra a Rússia. “Ouvimos ameaças do Congresso, de outras fontes. Tudo é feito no contexto do processo político doméstico dos EUA” – disse Putin, citado pela agência. “O povo que faz isso, provavelmente assume que os EUA teriam tal poder econômico, militar e político, que se safariam dessa. Mas não é grande coisa. É só o que eles pensam.” Putin disse que o comportamento dos norte-americanos faz lembrar a União Soviética. “É o problema dos impérios: os impérios creem que tenham poder suficiente, para cometer determinados erros. ‘Subornamos aquela gente, provocamos, fazemos negócios, metemos coleiras neles, ameaçamos jogar nossos navios de combate contra eles.’ E o problema estaria resolvido. Mas os problemas só se acumularam. Até que chegou o momento em que já não conseguem resolver problema algum.”

Esse momento aconteceu em 2014. E de lá para cá, como todos vocês sabem, as coisas já não vão muito bem para os EUA, especialmente no campo no qual os EUA se autoproclamam “a melhor e maior força de combate na história do mundo”. Tento identificar o processo pelo qual os EUA chegaram a essa conclusão. Essa é a questão que me dedico a tentar responder em meus livros e nesse blog, já há sete anos. Mas Putin acerta, sim, pelo menos no que tenha a ver com as grandes, se não imensas, limitações do poder norte-americano, o qual, para começar, como qualquer poder, não é estático e passa por transformações ininterruptas.

Essa afirmação de Putin, aquele dramático “não temos obrigação de alimentar todos [na Ucrânia]” (em russo; começa em 1:42) e a expressão de intensa satisfação no rosto de Gerhard Schroder são bons indicadores da posição da Rússia para a próxima cúpula em Genebra e péssima notícia para a Ucrânia. Quero dizer: isso e, claro, também o fato de que o primeiro estágio do gasoduto Nord Stream 2 está concluído. Na verdade, esse é o pior pesadelo da Ucrânia, porque a Rússia realmente não quer apoiar economicamente a Ucrânia, seja como for. E a principal questão hoje é QUEM pagará pelo estrago feito na Ucrânia. Com certeza, não será a Rússia.

As frágeis tentativas para convencer a Alemanha a aceitar que a Ucrânia seja incluída nas negociações EUA-alemãs sobre o gasoduto NS2 não passam de circo político. Ninguém quer na própria sua folha de pagamento esse país, já reduzido ao status de latrina. Claro que os EUA querem continuar a usar a Ucrânia como porrete contra a Rússia, mas… mas… mas… Ora! É preciso que cada tiro gere alguma vantagem! E a Ucrânia é inimiga da Rússia, não do Iraque.

Quanto mais depressa aquele gado que enche os gabinetes do Departamento de Estado compreender isso, especialmente o grupo chefiado pela gangue dos Kagans, que trabalha com a Rússia, melhor para os EUA.

Porque os EUA absolutamente não estão em posição que lhes permita usar a Ucrânia para pressionar a Rússia, porque a Rússia reagirá, se perder a paciência, e a reação dos russos deixará exposta a terrível fragilidade dos EUA.

E essa é a principal razão pela qual os norte-americanos tanto atormentam os russos, tentando chegar a um acordo sobre a realização da cúpula.

Embora eu não concorde com a comparação de eventos recentes em torno da Ucrânia, de um lado, e a Crise dos Mísseis Cubanos, de outro lado, não há dúvidas de que a única opção que restaria aos EUA, caso a Rússia decidisse “resolver” o caso com a Ucrânia, seria escalar para resposta nuclear, no esforço desesperado para reduzir os enormes danos políticos e de reputação, efeito de a Rússia aniquilar as Forças Armadas da Ucrânia (VSU) e a soberania ucraniana.

Até os mais estúpidos e ensandecidos neoconservadores em D.C. compreendem isso e querem viver. A próxima reunião de cúpula tratará primariamente disso (alguém em Washington captou a mensagem e ficou com medo).

Ainda não tenho como prever os procedimentos em Genebra em termos de como Putin se comunicará com Biden, mas a questão é sempre essa e, portanto, não estou realmente preocupado com procedimentos. Desde que os excepcionalistas norte-americanos comecem a compreender que não são assim tão excepcionais, ok – podemos todos evitar uma grande guerra, e melhor assim para todos. Putin, obviamente, conhece o estado atual dos EUA, e a conversa que se ouve vinda de Moscou indica que a Rússia é absolutamente confiável, e quando diz, a Rússia ‘quer dizer’ exatamente o que diz.

Desde que os EUA não cometam alguma estupidez na Ucrânia, tipo tentar “reconstruir” o Exército Ucraniano – ideia duvidosa em tempos melhores para os EUA, e atualmente esquecida – as coisas ficam bem, e a Europa obtém seu gás, dando assim à Alemanha uma pequena chance extra no combate econômico, antes de que o Bundestag se encha de globalistas identitaristas e ‘verdes’ e tais, cujo objetivo é converter a já periclitante Alemanha em latrina padrão ‘terceiro mundo’. Mas isso é assunto interno da Alemanha – cada povo merece o governo que eleja. Nesse sentido, o paralelo que Putin aponta entre a União Soviética e os EUA não está errado.

Problema é que, como escrevi recentemente, os EUA simplesmente chegaram aos próprios limites, e não há mais como expandi-los.
Trata-se hoje de outro paradigma, completamente novo.

Traduzido peço Coletivo Vila mandinga

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