Só mentiras, mentiras e mais mentiras- Bombas, bombas e mais bombas contra o Irã

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Nuclear deal review meeting in Tehran August 9, 2015. © Raheb Homavandi

21/8/2015, Pepe Escobar, RT

Tradução Vila Vudu

A Associated Press – com grande alarido – distribuiu matéria “exclusiva” mascarando assim o que nunca passou de escandalosa peça de propaganda, segundo a qual, pelos termos do acordo nuclear firmado no P5+1 e ratificado pela ONU, o Irã faria ele mesmo inspeções em alguns dos seus “locais sensíveis”.

Não há uma linha de informação clara na tal matéria da AP.[1] O documento crucial que a AP diz que “viu” não é sequer o acordo final assinado entre a AIEA e o Irã. AP não cita passagem alguma desse documento. O bombástico “exclusivo” aplica-se só aos parágrafos de abertura da matéria em linguagem sensacionalista:
[Aqui, na tradução de O Globo, pra economizar trabalho]

“Um acerto secreto e incomum com uma agência da ONU vai permitir que o Irã use seus próprios peritos para inspecionar um local supostamente usado para desenvolver armas nucleares. A revelação potencialmente polêmica foi revelada em um documento obtido pela AP.”
O artigo nada diz de específico. “Seus próprios peritos” – nesse contexto – significa que o Irã, segundo o acordo, poderia excluir “peritos” dos Estados que tenham suas próprias agendas confrontacionais. Todo mundo sabe quem são os suspeitos de sempre.

Nos termos do acordo final, inspetores da Agência Internacional de Economia Atômica (AIEA) têm de estar presentes em todas as inspeções. A presença adicional de peritos iranianos permite que eles rastreiem e avaliem os inspetores selecionados pela ONU, alguns dos quais podem, sim, ser rematados espiões – exatamente o que aconteceu nas inspeções que a ONU fez nos anos 1990s, no Iraque.

Peritos têm de ser peritados

Gary Sick, especialista em segurança do Irã, foi um dos primeiros a identificar as mentiras da AP. Em Arms Control, 20/7, encontram-se, sintetizado, o que todos os envolvidos e/ou que estejam acompanhando o dossiê iraniano devem saber sobre a testagem de resíduos nucleares.

Nos termos dos procedimentos para o chamado “acesso administrado” [orig. “managed access”] que foram acertados entre o P5+1 e o Irã, “a parte inspecionada deve recolher amostras ambientais num sítio específico, na presença de inspetores da AIEA usando ferramentas e sacos fornecidos pela AIEA para evitar a contaminação cruzada. Segundo ex-funcionários da AIEA esse é procedimento padrão.”

Os cientistas concordam que “o processo garante a integridade da operação de inspeção e das amostras, para todos os envolvidos.”

Em Atomic Reporters encontram-se, em detalhe, os fatos chaves sobre amostragem ambiental e acesso administrado especificamente relacionados ao controverso sítio militar-industrial do Irã, em Parchin. A fonte é impecavelmente confiável: Tarif Rauf é ex-chefe da política de coordenação e verificações de segurança da AIEA, que se reportava diretamente ao Diretor-geral.

Diga-se a favor dele que o diretor da AIEA, Yukiya Amano, distribuiu declaração em que expõe seriamente o sensacionalismo da AP. Yamano destaca que os acordos são “confidenciais” – e que, portanto, a AP não leu documento algum; e defende os procedimentos como “tecnicamente sólidos e consistentes com práticas estabelecidas há muito tempo.Yamano – que arranjou esse emprego por influência dos norte-americanos – não pode de modo algum ser acusado de ‘facilitar’ as coisas para os iranianos.

O que quer a AP?

A AP, agência norte-americana de notícias cujos despachos são reproduzidos na íntegra por incontáveis jornais e revistas em todo o mundo, mas uma vez está sendo usada como veículo de propaganda nua e crua – exatamente como toda a mídia-empresa nos EUA [nos EUA e em São Paulo, no Bairro do Limão, na rua Barão de Limeira, na Avenida Marginal… (NTs)] foi usada como instrumento de propaganda pró invasão, ocupação e destruição do Iraque.

Num nível micro, é mais uma evidência da rampante politização da AIEA. Washington faz exatamente isso há anos.

Num nível macro, as implicações são realmente graves. O “exclusive” aparece em momento extremamente sensível da incansável campanha do Partido da Guerra dos EUA e do lobby israelense contra o acordo de Viena.

Só pode haver um propósito, no movimento de vender o artigo da AP não como mera coluna assinada, mas como “fato”, “informação não enviesada”, notícia de última hora, autêntica notícia-furo: convencer políticos oscilantes, todos eles Democratas, no Capitólio, de que o acordo de Viena é mau acordo.

Sobretudo porque nenhum daqueles políticos lerá o detalhado desmonte da demonização do Irã, uma indústria típica de Washington, que Noam Chomsky faz em Counterpunch.

A AP removeu pelo menos algumas – mas não todas – as mentiras do original “exclusivo”. Mas o dano já estava feito. Se fosse coisa saída da mídia dos países BRICS, especialmente Rússia, China e Brasil, a indignação da “comunidade internacional” seria gigante. Mas a AP tem base em terras excepcionalistas e deve ter pensado que se safaria. Pois não se safou.

Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.

[1] Quanto menos informação prestável inclua, mais depressa os jornais do Grupo GAFE (GloboAbrFSPEstadão) publicam no Brasil: esse besteirol da AP já está publicado em O Globo e na Folha de S.Paulo (e paramos de procurar, porque até denunciar o imbecilismo militante dos jornais-empresas brasileiros é perda de tempo e de energia. É não ler/ver/ouvir, e estamos conversados [NTs)].

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