23/8/2015, postado por As’ad AbuKhalil, The Angry Arab
Tradução Vila Vudu
O camarada Raed Charaf que estava lá, explica:
“Estive lá hoje entre 18h e 21h. Vi realmente grupos organizados de jovens adolescentes, todos com menos de 20 anos, chegando juntos, andando em filas, cada um com garrafas d’água nas mãos, amarradas juntas, de um jeito esquisito. Não eram menos de 300, com certeza, e às 20h já havia gente da rua que gritava “Khandaq el-Ghamik“,[1] outros chamavam-nos de “mendassin” [“infiltrados”]. Devo dizer que havia grupos que cantavam abertamente (com tambores) que vinham de Hayy El Selloum, a multidão estava adorando tudo aquilo (o tambor sempre anima, e os versos eram muito bons para a idade deles). Mas chegaram os outros, com as garrafas plásticas e com ar agressivo, forçando o caminho entre as pessoas reunidas.
Francamente, não pareciam maus, eram como gente dessa idade. Aproximei-me de um deles que estava cobrindo o rosto com uma daquelas máscaras de Anonymous e perguntei “Quem são vocês, rapazes? Parecem um grupo organizado”. Ele respondeu: “Somos cidadãos libaneses. Por que você acha que seríamos outra coisa?” Respondi: “Sim, mas, além de cidadão libanês, são o quê?” Ele fingiu que não me ouvira e se afastou.
Tenho certeza de que não foi totalmente franco, mas tampouco me pareceu agressivamente defensivo…
Isso, para contar que, do que pude ver, de Khandak El Ghamik ou não, aqueles grupos organizados (e eram organizados, sem dúvida alguma) não manifestaram qualquer agressividade ou zanga contra os manifestantes; estavam furiosos, isso sim, com as forças de segurança. Mas também não parecia que tivessem algum assunto especial com as forças de segurança, só estavam querendo abrir caminho para ficar na fileira da frente.
Acho que eles vieram procurar briga, disso não tenho dúvida. Se Nabih Berri está organizando uma peça de teatro, ou coisa parecida… Foi muito competente, aliás, como sempre é. Aqueles rapazes podiam ser Amal, ou o que fossem, mas, francamente, acho que a atitude deles é genuína, independente de que esteja ou não sendo instrumentalizada. E repito: não notei nenhum tipo de agressividade neles contra outras pessoas que estavam ali. Não foram grosseiros com as mulheres, nem com ninguém que estava por ali… A menos que isso tenha acontecido em outro ponto, que eu não conseguia ver de onde estava. Não sei, a coisa hoje foi grande e muito descentralizada, diferente da manifestação de ontem. Por isso não pude acompanhar grande parte do que estava acontecendo.
Ouvi que desde a manhã, eles criaram problemas, e sei que o tol3et ri7etkoun [ár. طلعت_ريحتـكم (Vocês fedem)]: os considera sabotadores, mas acho que todo o movimento já ultrapassou as ONGs iniciais organizadoras.
Não sei o que aconteceu com as forças de segurança, saí de lá pelas 21h e parecia que alguma coisa já estava acontecendo na outra ponta da manifestação, mas não chegava até onde estávamos.
Temos de encarar os fatos, na França, por exemplo, em Paris, há bandos de adolescentes como aqueles, chamados “casseurs” [‘vândalos’] que participam de manifestações e quebram vitrines e saqueiam lojas e queimam carros. Não é manifestação política, acontece onde haja muitos jovens sem ocupação nem lazer em bairros pobres, que querem conhecer o que a cidade ‘dos ricos’ tem a oferecer. Para saber do que se trata, acho que alguém deve sentar-se com eles amanhã, durante o dia, antes do clímax da agitação, e ter uma conversa decente com eles.
Se continuarem a não dizer nada e mantiverem os esquemas defensivos, pode significar que são ‘encorajados’ de fora. Se não for assim, vamos encarar: tinha mesmo de acontecer, mais dia menos dia, na Lebanonesia.
Por falar nisso, na manifestação de hoje havia mais gente que ontem, muitos elementos da classe média baixa e de classes populares – o que, na minha opinião, é sinal de sucesso da manifestação. Estimo que haja lá cerca de 10 mil pessoas.” *****
[1] Referência ao movimento Al Amal de Nabih Berri, cuja base eleitoral está no bairro desse nome, em Beirute [NTs, com ajuda de Tlaxcala]