Pepe Escobar- ‘Rublogás’: a nova moeda global de reserva lastreada em recursos 

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O rublo russo está bem agora, tendo recuperado seu valor pré-sanções e definido para se tornar uma importante moeda de commodities. Crédito da foto: The Cradle

‘Rublogás’: a nova moeda global de reserva lastreada em recursos 
1/4/2022, Pepe Escobar, The CradleBeirute (Tradução automática por Google Translate, aqui corrigida e revista)

E absolutamente nada é tão complicado quanto a OTAN quer fazer parecer. Se a Europa quiser gás, que deposite seus euros numa conta russa, dentro da Rússia.

O rublo russo está hoje em boa posição, já tendo recobrado o valor de antes das sanções, e está em vias de se tornar importante moeda global de reserva lastreada em recursos.

Saddam, Gaddafi, Irã, Venezuela – todos tentaram e não conseguiram. Mas a Rússia está em outro nível, completamente diferente.

A beleza do jiu-jitsu geoeconômico aplicado por Moscou é sua gritante simplicidade.

O decreto do presidente russo Vladimir Putin, sobre novas condições de pagamento para produtos de energia, foi – como seria fácil prever que seria –, mal interpretado pelo ocidente coletivo. O governo russo não está exigindo exatamente que todo o gás comprado seja trocado diretamente por rublos. O que Moscou quer é ser pago no Banco Gazprom [Gazprombank] na Rússia, na moeda que Moscou determine, não em qualquer instituição bancária nas capitais ocidentais.

Essa é a essência da sofisticação de tipo ‘menos é mais’. O Gazprombank venderá na Bolsa de Valores de Moscou a moeda estrangeira – dólares ou euros – depositada por seus clientes; e creditará o correspondente a cada pagamento, em diferentes contas em rublos, dentro do próprio Gazprombank.

Significa, na prática, é que a moeda estrangeira deve ser enviada diretamente para a Rússia; que não será portanto acumulada em algum banco não russo – onde, vale lembrar, sempre poderia ser facilmente congelada, roubada ou tomada como refém.

Doravante, todas essas transações devem ser transferidas para uma jurisdição russa – eliminando assim o risco de os pagamentos serem interrompidos ou totalmente bloqueados.

Não é de admirar que o aparato subserviente da União Europeia (UE) – ativamente engajado em destruir economias nacionais, em nome dos interesses de Washington – seja intelectualmente despreparado para entender a complexa questão de trocar euros por rublos.

A Gazprom facilitou as coisas nessa sexta-feira, enviando notificações oficiais para suas contrapartes no Ocidente e no Japão.

O próprio Putin foi forçado a explicar por escrito ao chanceler alemão Olaf Scholz, o modo como funciona a coisa toda.

Mais uma vez, muito simples: os clientes abrem uma conta no Gazprombank na Rússia. Os pagamentos são feitos em moeda estrangeira – dólares ou euros – e convertidos em rublos, de acordo com a taxa de câmbio do momento; os rublos são então transferidos para as diferentes contas do Banco Gazprom, para quitar o que as empresas devam à Gazprom.

Só assim fica 100% garantido que a Gazprom receba o que lhe seja devido.

Há aí forte contraste com o que os Estados Unidos estavam forçando os europeus a fazer: pagar pelo gás russo nas contas da Gazprom na Europa… contas que, instantaneamente, seriam congeladas (para só serem desbloqueadas depois de encerrada a Operação Z, as operações militares da Rússia na Ucrânia).

No entanto, os americanos querem que a guerra continue indefinidamente, para “atolar” Moscou, como se fosse o Afeganistão da década de 1980. Por isso os EUA proibiram estritamente o comediante ucraniano que fala para telas verdes em algum lugar – certamente não em Kiev –, de aceitar qualquer cessar-fogo ou acordo de paz. Assim, as contas da Gazprom na Europa continuariam a ser congeladas.

Scholz continuava tentando entender o óbvio, mas seus asseclas econômicos já enlouqueciam completamente, jogando na discussão a ideia de nacionalizar as subsidiárias da Gazprom – Gazprom Germania e Wingas – caso a Rússia decida interromper o fluxo de gás.

É ridículo. É como se os funcionários de Berlim confessassem que acreditam que as subsidiárias da Gazprom produzam todo aquele gás natural, sem sequer levantar os traseiros de suas poltronas aquecidos, em toda a Alemanha.

O novo mecanismo de rublos-por-gás não viola de forma alguma os contratos existentes. No entanto, como Putin já alertou, os contratos existentes podem de fato ser, sim, interrompidos: “Se os pagamentos [em rublo] não forem feitos, consideraremos que houve descumprimento de compromisso assumido pelos compradores, com todas as implicações desse descumprimento”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, foi inflexível. Disse que, nas atuais e terríveis circunstâncias, o mecanismo não será revertido. Ainda assim, não significa que o fluxo de gás seja cortado instantaneamente. A Rússia esperará que os ‘Estados não amigáveis’ – lista de estados hostis que inclui principalmente EUA, Canadá, Japão e UE – honrem a dívida em rublos até a segunda quinzena de abril, início de maio.

Para a esmagadora maioria do Sul Global, o quadro geral abrangente é cristalinamente claro: está ativa aí uma oligarquia atlanticista, que se recusa a comprar o gás russo essencial para o bem-estar da população da Europa, ao mesmo tempo em que obra para armar taxas tóxicas de inflação, contra a mesma população.

Além do Rublogás

Esse mecanismo de gás-por-rublos – tenho chamado de Rublogás – é apenas o primeiro alicerce na construção de um sistema financeiro/monetário alternativo real, para operar em conjunto com muitos outros mecanismos: comércio rublo-rúpia; o petroyuan saudita; o mecanismo alternativo de compensações bancárias internacionais Irã-Rússia (que substitui o sistema SWIFT); e o mais importante de todos, o projeto da União Econômica Eurasiana (China-Eurásia), para construir um sistema financeiro/monetário abrangente, cujo primeiro esboço será divulgado nos próximos dias.

E tudo isso está diretamente ligado ao retumbante surgimento do rublo como nova moeda de reserva lastreada em recursos.

Após os previsíveis estágios iniciais de negação, a UE – na verdade, a Alemanha – terá de enfrentar a realidade. A UE depende do fornecimento constante de gás russo (40%) e de petróleo russo (25%). A histeria das sanções já criou, sem dúvida possível, o revide.

O gás natural responde por 50% das necessidades das indústrias química e farmacêutica da Alemanha. Não há substituto viável, seja da Argélia, Noruega, Catar ou Turcomenistão. A Alemanha é a potência industrial da UE. Só o gás russo é capaz de manter em funcionamento a base industrial alemã – e europeia –, e a preços muito acessíveis, em caso de contratos de longo prazo.

Quebre e interrompa essa configuração e você criará turbulência horrível em toda a UE e além.

O inimitável Andrei Martyanov resumiu assim: “Só duas coisas definem o mundo: a economia física real e o poder militar, que é seu primeiro derivado. Todo o resto são derivativos. E ninguém vive de derivativos.”

O cassino turbo-capitalista norte-americano acredita em sua própria “narrativa” – mais um derivativo que nada tem a ver com a economia real. A UE será forçada pela realidade a passar da negação, à aceitação. Enquanto isso, o Sul Global estará adaptando-se rapidamente ao novo paradigma: o ‘Grande Reset’ de Davos foi reduzido a cacos, pelo ‘Reset Russo.*******

Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

 

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