Israel prefere a Al Qaeda ao Hezbollah 1

Entrevista 14 janeiro de 2017 publicada no Russian Times

Tradução livre de Abu Hana Cairus

“Israel, ao longo da Guerra Civil na Síria, bombardeou repetidamente instalações militares sírias. Por outro lado, nunca atacou grupos afiliados a Al Qaeda, ” observa a jornalista independente norte-americana de origem libanesa, Rania Khalek, acrescentando que Israel prefere apoiar a Al Qaeda, pois ao contrário do Hezbollah, não a considera uma ameaça.

O exército sírio acusou Israel de bombardear o Aeroporto Militar de Mezzeh, na zona oeste de Damasco e alertou Israel sobre as consequências desta “agressão flagrante” perpetrada cerca de meia-noite da última sexta-feira. O ataque causou danos em uma das mais importantes instalações militares sírias. O governo sírio alega, que o ataque atribuído a Israel, demonstra seu “apoio a grupos terroristas. ”

Russian Times (RT): qual foi sua reação à notícia que Israel havia bombardeado um aeroporto militar sírio?

Rania Khalek (RK): fiquei surpresa, mas ao mesmo tempo lembrei que, durante o conflito na Síria, Israel bombardeou repetidamente instalações militares sírias e nem uma única vez atacou grupos afiliados a Al Qaeda. Na verdade, alguns membros do governo sírio se referem a Israel como a “Forca Área da Al Qaeda. ” Também não é novidade a espécie de acordo existente entre Israel e a Al Qaeda na fronteira em Golã. Os israelenses, já admitiram inclusive, que oferecem tratamento médico a membros da Al Nusra para que eles retornem ao campo de batalha. Recentemente, o Instituto de Estudos de Segurança (Nacional) em Israel, divulgou um artigo de cunho estratégico produzido pelo alto escalão político e militar israelense. Neste documento, fica patente a posição israelense em substituir o governo sírio por um estado sectário sunita. Eu suponho, que seria algo como a Arábia Saudita, ou outros estados sectários que apoiam os rebeldes. Isto porque o Hezbollah é uma das maiores ameaças na região e os israelenses preferem apoiar a Al Qaeda, que não constitui uma ameaça a Israel.

RT: você participou de um evento nos EUA promovido pelo no Conselho Atlântico chamado “Combatendo a Al Qaeda na Síria: uma estratégia para o próximo presidente. ” O encontro reuniu destacados defensores dos chamados rebeldes moderados na Síria, incluindo Charles Lister, pesquisador sênior do Instituto do Oriente Médio. Como você analisa o que foi discutido neste evento sobre o atual estágio do conflito na Síria?

RK: foi muito interessante porque lá estavam pessoas afiliadas a entidades de pesquisa, que nos últimos cinco anos, tem defendido a atual escalada militar do Ocidente na Síria. Agora, a administração Trump diz defender a diminuição da escalada militar e não querer mais a deposição do governo sírio. Assim, o que vi foi a repaginação da posição oficial dos especialistas sobre a Síria com intuito de acomodar suas posições naquilo que agradaria Trump. Dessa maneira, ao invés do chamado “aspecto humanitário”, eles passaram a priorizar a derrota da Al Qaeda na Síria. É interessante notar que as mesmas pessoas, nos últimos cinco anos, apoiaram políticas que empoderaram a Al Qaeda na Síria. Agora defendem a derrota da Al Qaeda fazendo exatamente o contrário do que eles vinham fazendo, como por exemplo, armar grupos sunitas. Estes são classificados como “oposição moderada”, mas nenhum dos panelistas elaborou, definiu ou pode citar um desses grupos moderados. Eles também mencionaram a necessidade de depor o governo sírio ainda com a ideia de estabelecer uma “zona de exclusão aérea. ” Então, estas são as mesmas politicas apenas com mudanças cosméticas. Por último, eu concluí que os panelistas não apenas defendem a continuação do fornecimento de armas para os rebeldes, mas especificamente visam o Irã. Eles tentam induzir a um alarmismo tremendo em relação ao Irã e o Hezbollah. Isto é outra coisa importante sobre Trump, ele é muito anti-Irã, o que faz estes especialistas se aproveitem deste detalhe. Não sei irá funcionar, mas vamos ver o que acontece. Espero que não consigam.