A derrota de Israel

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Ilustração: Junião/Ponte Jornalismo

Ilustração: Junião/Ponte Jornalismo

Abdel Latif Hasan Abdel Latif, Medico palestino

Após 51 dias de ataques israelenses contra Gaza, por mar, ar e terra, Israel foi obrigado a parar com o massacre contra os palestinos.

Apesar dos mais de quinze mil vítimas palestinas, mortos e feridos, dos quinhentos mil desabrigados, da infraestrutura e mais de onze mil casas e edifícios destruídos, Israel não alcançou nenhum dos seus objetivos: não acabou com o Hamas, não conseguiu enfraquecer a resistência palestina, não acabou com os foguetes e foi obrigado a negociar com uma delegação palestina, que incluía membros do Hamas.

Milhares de palestinos saíram nas ruas de Gaza, Cisjordânia e nos campos de refugiados do Líbano e Jordânia, para festejar o fim dos ataques.

Para eles, a resistência e o povo de Gaza saíram vitoriosos e não poderia ser diferente. Quando o lado mais forte não consegue uma vitória total, ele sai derrotado e quando o mais frágil não é derrotado, é porque sairá vitorioso.

Para os palestinos, os recentes ataques contra Gaza são apenas uma batalha em uma longa guerra que Israel trava contra os palestinos há 70 anos.

A despeito da superioridade militar israelense e das grandes perdas palestinas, Israel não vencerá a guerra. Os motivos são muitos, mas mencionam-se apenas três:

1º As justificativas e mentiras de Israel para lançar seus ataques não mais convencem nem seus aliados.

Em uma entrevista para o site “Democracy now”, Henry Siegman, um dos líderes da comunidade judaica nos Estados Unidos e ex-diretor executivo do Congresso Judaico Americano, disse que nenhum país e nenhum povo no mundo aceitaria viver nas condições que os palestinos de Gaza são obrigados a viver. Disse isso, descartando a justificativa chavão de Israel para suas agressões de que nenhum país toleraria foguetes contra seu território.

Siegman afirmou que a moralidade da ação israelense depende primeiramente da análise de se Israel poderia fazer algo para prevenir o desastre humanitário que está promovendo em Gaza. Poderiam os israelenses fazer algo que não custasse tão alto preço humano? A resposta, certamente, é sim: acabar com a ocupação.

Siegman vai além e questiona a legitimidade de Israel e a sanidade do projeto sionista. Segundo ele, “quando penso que tudo isso é necessário para a sobrevivência de Israel e que o sonho sionista causa reiterados massacres de inocentes em escala ta grande quanto temos assistido, isso nos coloca em crise muito profunda”.

Ele afirma que o objetivo final de Israel é impedir o estabelecimento de um Estado palestino soberano nos territórios palestinos ocupados em 1967.

Siegman afirma que Netaniahu quer obrigar os palestinos a se submeterem ao seu plano de “solução final” do problema palestino: guetos em Gaza e Cisjordânia, sob controle total de Israel.

Ele observa que a solução pretendida por Netaniahu levaria ao desaparecimento de Israel no máximo em 50 anos.

2º A luta dos palestinos é uma demanda pelos mais básicos direitos humanos: liberdade e autodeterminação.

Cada vez mais pessoas percebem a essência dessa luta, deixando a posição israelense cada vez mais indefensável.

Yizthak Frankenthal, judeu israelense, cujo filho foi seqüestrado e morto pelo Hamas em 1994, escreveu no sítio PAZAGORA.ORG, em 2002, que “nos últimos dois anos, parei de vê-los (palestinos) como terroristas e passei a enxergá-los como soldados palestinos. Aqueles que mataram meu filho eram soldados palestinos lutando pela sua liberdade. Seria muito mais fácil odiá-los, mas creio que não é correto classificá-los como terroristas, pois se assim fosse, deveríamos lutar duramente contra eles, o que significa combater a população civil palestina, uma guerra que não podemos vencer”.

Frankenthal lamentou a morte dos filhos e da mulher do líder militar do Hamas, Mohamed Al Daif, durante o mais recente massacre israelense contra Gaza.

Ele perguntou: “Que culpa tem eles? Que culpa tem o próprio Daif? Eles são as vítimas. Nós,judeus, obrigamos os palestinos a se defenderem contra nossos atos. Quando recusamos fazer a paz com eles, quando construímos assentamentos ilegais nas suas terras e quando violamos seus direitos, o que eles podem fazer? O que nós faríamos no lugar deles? Aqueles que acreditam que os massacres podem derrubar um povo que luta pela sua liberdade, estão enganados”.

Frankenthal encerra com a questão: “Quando nós israelenses vamos perceber que apenas Justiça trará segurança para nós”?

O pai do soldado Shalit, seqüestrado pelo Hamas e libertado em troca de prisioneiros palestinos, disse que se fosse palestino, seria “terrorista” do Hamas e seqüestraria soldados israelenses, alegando que aos palestinos, não restaram opções.

Lutar pela liberdade e pelo fim da limpeza étnica, opressão e apartheid promovidos por Israel, é direito e dever dos palestinos. A ocupação é crime contra a humanidade e requer a condenação universal.

3º Para manter o status quo na Palestina ou chegar a uma solução final conforme os termos israelenses, Israel necessita aplicar cada vez mais os mesmos meios que usa desde sua criação: genocídio e limpeza étnica. Poucos no mundo são capazes de defender abertamente esses meios.

Em carta publicada no jornal New York Times, em 23/08/2014, centenas de sobreviventes e descendentes condenaram o massacre de Israel em Gaza.

Escreveram: “Como sobreviventes e seus descendentes judeus do genocídio nazista condenamos o massacre dos palestinos em Gaza e a ocupação e colonização da Palestina histórica em curso.

O genocídio começa com o silêncio do mundo.

Devemos elevar nossas vozes e usar nosso poder coletivo para por fim a todas as formas de racismo, inclusive o genocídio em curso do povo palestino”.

Quando sobreviventes judeus do holocausto nazista irmanam seu sofrimento ao martírio dos palestinos sob ocupação ou mesmo dentro de Israel, o Estado judeu está indo contra o curso da História. Não importa quantas vitórias militares consiga, caminha para sua derrota final.

Abdel Latif Hasan Abdel Latif. Medico palestino

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