Jogadas de fechamento, no tabuleiro sírio. Guerra Perdida é Perigo. EUA-OTAN, Arábia Saudita, Turquia: frenesi de perdedores.

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14/2/2016, Prof. Tim Anderson, Global Research, Canadá, 2016

Traduzido por Vila Vudu
Guerra perdida é negócio perigoso. Depois que Henry Kissinger ajudou a sabotar as conversas de paz de Paris em 1968, por razões de política doméstica, a Guerra do Vietnã ainda se arrastou, feroz, por mais sete anos. No fim, a derrota de Washington foi mais humilhante e mais milhões de vidas foram destruídas.

O processo de Genebra sobre a Síria é diferente em muitos aspectos, porque é farsa. A OTAN e as monarquias do Golfo patrocinadoras fingem que apoiam grupos da ‘oposição’ síria e que combatem os grupos extremistas que elas mesmas criaram.

Mas os perigos são muito reais, porque os sauditas e a Turquia podem reagir de modo imprevisível, diante do fracasso do projeto que promoveram durante cindo anos, para fazer rachar a Síria. Os dois países ameaçaram invadir a Síria, para defender ‘seus quadros’ da derrota inevitável ante a poderosa aliança que a Síria forjou com Rússia, Irã, Iraque e o melhor partido do Líbano.

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Já deveria estar suficientemente claro agora que todos os grupos armados antigoverno ativos na Síria foram criados por Washington e aliados. Vários funcionários veteranos dos EUA já o admitiram. O objetivo sempre foi ‘mudança de regime’. Mesmo assim, a farsa de uma “Guerra contra o ISIS” prossegue, com uma mídia-empresa servil oferecendo-se como escudo para impedir que todos vejam que o ‘rei está nu’.

Genebra 3 realmente trouxe alguns resultados. Primeiro, nenhum dos grupos da ‘oposição’ paga pela OTAN conseguiu arranjar cara apresentável ou crível. Segundo, e mais importante, EUA e Rússia continuaram falando e realmente desenvolveram outro plano para desescalar. Não é conclusivo, mas é encorajador.

Caíram as máscaras dos ‘rebeldes moderados’: todos já sabemos quem são, e são o grupo internacionalmente proscrito “Frente al-Nusra (al-Qaeda na Síria) e seus aliados salafistas de longo prazo, Jaysh al Islam (Exército do Islã) e Ahrar as Sham. Esses dois últimos são o que restou dos grupos salafistas sírios. No norte da Síria juntam-se a eles também Turquia e sauditas, num grupo de nome nada moderado: o Exército da Conquista, Jaysh al Fatah.

Esses grupos extremistas representam poucos sírios. Como a jornalista da MINT Press Mnar Muhawesh mostrou claramente no editorial “A visão apocalíptica para a Síria, das oposições patrocinadas pela OTAN”, não são diferentes, em ideologia, do ISIS.

Não é novidade para ninguém que os grupos da al-Qaeda não primam pelas competências para negociar. Mas se alguém ainda não soubesse, eles já o comprovaram mais uma vez em Genebra. Perderam a guerra em campo, ‘exigiram’ a capitulação dos que os derrotaram e, não conseguindo o que ‘exigiam’, saíram da sala batendo a porta.

Deixando-se de lado os terroristas sustentados pelo ocidente, quem seria a verdadeira oposição síria?

Em primeiro lugar, há os grupos que criaram a Declaração de Damasco de 2005, mas no início de 2011 já estavam alinhados com o estado e o exército sírios, quando a insurreição dos salafistas sequestrou as manifestações a favor de reformas.

Alguns desses como Haytham Manna e o ex-ministro Qadri Jamil apareceram em Genebra. Outros, como o poderoso Partido Social Nacional Sírio [ing. Syrian Social National Party (SSNP)] já em 2011 apoiavam o governo de Bashar al Assad.

Outros mais deixaram-se ficar à margem, frustrados ante o sequestro violento, pela Fraternidade Muçulmana, do movimento pró-reformas. O artigo de Sharmine Narwani em RT, “As conversações de Genebra levarão diretamente de volta às reformas que Assad propôs em 2011?” ilustra muito bem esse aspecto. Como a Declaração de Damasco deixou claro, a maioria da oposição síria rejeitava o patrocínio estrangeiro e os violentos ataques contra o Estado sírio.

Em segundo lugar, há os curdos sírios, que eram abertos à contribuição estrangeira, mas rejeitaram ataques contra o exército e o Estado sírios. A maior parte das armas com que os curdos sírios lutam lhes foram fornecidas por Damasco. Dado que optaram por se alinhar com o Exército Sírio, não com os salafistas, a presença dos curdos sírios em Genebra foi furiosamente vetada por Erdogan ou seus clientes.

Assim, restaram Rússia e EUA para discutir supostos objetivos comuns (destruir terroristas), com Erdogan e os sauditas sibilando de fúria. Os objetivos das duas grandes potências são totalmente diferentes. A maior diferença aparece na evidência de que os ‘procuradores’ a serviço de Washington na Síria praticamente sumiram, ante o crescimento do grupo 4+1 (Rússia, Síria, Irã, Iraque e Hezbollah).

Essa mudança, por sua vez, ameaça fazer gorar o plano Bush, para um “Novo Oriente Médio”. Os EUA, que queriam controlar a região, agora estão bem próximos de perdê-la toda.

A Rússia por sua vez, persegue interesses dela na região, apoiando seus aliados em obediência estrita à lei internacional. Usa seu poder aéreo na Síria acompanhando as forças que combatem em solo, de Síria-Irã-Iraque-Hezbollah. Essa é a força que avança, de vitória em vitória, em solo sírio.

A boa notícia é que, no que pesem os objetivos tão amplamente diferentes, Washington Moscou continuaram a conversar e conseguiram um acordo provisório em Genebra, de três cabeças.

O primeiro acordo tem a ver com ajuda humanitária, que enfrenta graves obstáculos por causa de vários cercos em andamento. Alguns desses cercos limitam movimentos de grupos da al-Qaeda, como em Foua e Kafraya no norte; mas cada vez mais são cercos construídos pelo Exército Sírio em torno de combatentes da al-Qaeda que se escondem em cidades e vilas como Madaya e no leste de Aleppo. Grande parte da ajuda por terra chega através do Crescente Vermelho Sírio supervisionado pelo governo da Síria, mas está em processo de organização a entrega de socorro e mantimentos por ar, organizado para Deir eZorr e alguns outros locais.

Segundo, há um processo político que (como ficou acertado) acontecerá exclusivamente entre os sírios, não condicionado e inclusivo. Diferente do que dizem matérias jornalísticas no ocidente, não há ainda nenhum plano para esse processo, nem para eleições no curto prazo. A posição síria, apoiada pela Rússia, é a de que a Constituição síria (e a agenda legalmente construída para eleições) prevalece e é plenamente vigente, até que o povo sírio vote para reformar a própria Constituição.

Por fim, há o terceiro acordo sobre ‘cessação de hostilidades’, a ser implantado imediatamente, e com uma força tarefa incumbida de fiscalizar os detalhes. Esse cessar-fogo não se aplica a qualquer grupo que o Conselho de Segurança da ONU identifique como grupo terrorista. Assim, não se cogita de cessar-fogo contra o ISIS ou a Frente al Nusra. O principal entrave aqui é que a Rússia quer que os grupos Jaysh al Islam e Ahrar as Sham (que, ambos, colaboraram durante anos com a Frente al-Nusra) sejam acrescentados à lista dos grupos terroristas definidos pelo Conselho de Segurança da ONU. Se Washington aceitar, os dois grupos perderão o crachá de “rebelde moderado”. Não há em campo qualquer outra força substancial. Sauditas e Erdogan enlouquecerão de fúria.

Como os EUA administrarão essas tensões? O governo Obama sempre abordou de longe o conflito sírio, posição que faz lembrar a “negabilidade plausível” que a CIA sempre procurou assegurar para si mesma, em relação aos esquadrões da morte na América Latina. Mas cresceram os problemas de credibilidade, e Washington parece mais dedicada a descobrir um meio para escafeder-se de qualquer confronto, do que interessada em tentar algum novo e mais desesperado gambito. Com certeza qualquer outro movimento pode levar a grave escalada na guerra, sem qualquer garantia de sucesso.

Será que Washington permitirá que Erdogan e os sauditas iniciem grande escalada? E eles tentarão, sem a aprovação dos EUA? Não creio que tentem. Obama resistiu às provocações de sauditas e israelenses, quando se aproximava o acordo final para o Irã. Não conseguiram arrastar nem Bush, para confronto direto com a Rússia, e não foi por falta de convite de Mikheil Saakashvili, da Geórgia.

Por seu lado, a Rússia está bem preparada para enfrentar alguma provocação vinda pela fronteira turca. A boa lógica sugere que derrotados perdem suas guerras. Mas são tempos muito perigosos.*****

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