Argentina: Quem lucra com a morte de Nisman?

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A resposta é simples, a sua morte beneficia os mesmos que tem trabalhado para fraudar processos, esconder e falsificar provas e impedir que se chegue à verdade no intricado caso dos atentados contra a Embaixada de Israel e a AMIA, na Argentina. 
Alberto Nisman, fiscal do caso AMIA encontrado morto em Buenos Aires não possuia provas para sustentar suas denúncias contra a presidente argentina, Cristina Kirschner, mas após sua morte se torna uma ferramenta muito útil na mão dos opositores que buscam demonizar o governo argentino, cuja representante teve a ousadia de denunciar os crimes de Israel e EUA, na ONU, em setembro de 2014.

Natália Forcat

Os atentados terroristas acontecidos na Argentina em 1992 e 1994, que deixaram dezenas de mortos e feridos, estão envolvidos num emaranhado de mentiras e pistas falsas, acontecimentos suspeitos como mudanças nas declarações de testemunhas, versões contraditórias apresentadas por técnicos, etc. Os atentados também tem sido objeto de pressões de estados estrangeiros, tanto por parte de funcionários da embaixada estadunidense na Argentina, como de pessoas ligadas ao governo iraelense. Ambos se envolveram diretamente no caso e pressionaram a justiça argentina para que a República Islâmica do Irã seja declarada culpada pelo atentado ocorrido contra as duas entidades judaicas, embora não exista qualquer prova que incrimine o Estado persa.
A morte de Nisman, no dia que deveria se apresentar para explicar sua denúncia contra a presidente argentina e membros de seu governo, fortalece os que defendem a acusação fantasiosa, que pretende vincular o Irã ao atentado pois deixa no ar a impressão que o governo argentino queria eliminar um personagem que seria “incômodo”. A oposição interna chegou a declarar que “seria pouco provável que se trate de um suicídio”, apresentando a hipótese de homicídio. Com isto tentaram provocar manifestações públicas contra o governo mas que não tiveram a adesão esperada.

A mídia brasileira, repercutindo a posição adotada por Clarin e outras mídias argentinas de oposição, também estão empenhadas na construção de narrativas que impliquem o governo argentino na morte do fiscal do caso AMIA, mesmo sendo mais que evidente que sua morte só beneficia a oposição anti-K e os grupos que pressionam para que o Irã seja declarado culpado.
Cabe lembrar que Cristina Kirschner, em 2009, exigiu na ONU que a República Islâmica do Irã colaborasse com a investigação extraditando os 5 funcionários iranianos indiciados. Nessa época a DAIA (Delegação de Associações Israelitas Argentinas) apoiava as ações da presidenta, porém, todo mudou quando o Irã aceitou o pedido de colaboração nas investigações e foi elaborado um memorando de entendimento entre os dois países. Este acordo previa a criação de uma Comissão da Verdade, composta por juristas internacionais e o direito da Argentina de interrogar os iranianos imputados. As entidades judaicas acharam inadmissível o acordo e começaram a acusar o governo e o chanceler Héctor Timerman de “se aliar ao Irã”. Ou seja, estas entidades pretendiam que o Irã fosse considerado culpado, sem direito a defesa e deixando ele fora das investigações. Com esta manobra ficou evidente que não é o Irã, nem o governo argentino, que estão tentando esconder algo.

Envolvimento da embaixada estadunidense

Cables emitidos pela embaixada estadunidense em Buenos Aires e filtrados por Wikileaks para Página/12, revelaram que Washington pressionou durante anos para que as investigações deixassem de lado as chamadas “pistas internas” e se focassem em implicar o Irã no atentado. Segundo os cables filtrados, funcionários da embaixada pressionaram diretamente Alberto Nisman. O cable de 22 de maio de 2008 foi assinado pelo próprio embaixador estadunidense Earl Anthony Wayne e revela as exigências que vinham sendo feitas a Nisman para que este deixasse de lado investigações de outras pistas e concentrasse as investigações em acusar o Irã. Nos cables também é citado em reiteradas ocasiões um membro da DAIA.

Denúncias falsas

Em carta publicada pela presidenta argentina, em 19 de janeiro de 2015, e titulada AMIA. Otra vez: tragedia, confusión, mentira e interrogantes, a mandatária lamenta a morte do fiscal e aponta a hipótese de que as denúncias apresentadas por este contra ela e membros de sua equipe tenham objetivos políticos como o de associar o seu governo ao terrorismo e que teria se tentado aproveitar a comoção internacional causada pelo ataque contra a revista Charlie Hebdo.

Entre os pontos da denúncia apresentada por Alberto Nisman contra o governo argentino estão a afirmação de que o chanceler Timerman teria feito na Síria, em 2011 um pacto de impunidade para favorecer o Irã e a existência de um plano de troca de petróleo por grãos argentinos. Também foi dito que o governo teria acordado o levantamento dos alertas vermelhas da Interpol para beneficiar os iranianos indiciados no caso. Todas estas acusações são falsas. O levantamento dos alertas vermelhos foi desmentido de forma categórica  pelo próprio secretário Geral da Interpol, Roland Noble. Argentina nunca fez qualquer troca de petróleo por grãos como disse Nisman e também não existe qualquer prova que, no encontro acontecido entre Timerman e o chanceler iraniano, Ali Salehi, na Síria, tenha sido feito qualquer acordo para favorecer o Irã. Na verdade esta aproximação fez parte da busca de entendimento para a realização de um julgamento internacional do caso e se tratou de uma reunião oficial, com testemunhas, etc.

Concluindo, o fiscal Alberto Nisman teria grandes problemas para explicar as gravíssimas denúncias feitas sem qualquer fundamento, na sua apresentação no Congresso Argentino. A maioria dos especialistas no assunto e até o juiz do caso AMIA, Canicoba Corral, consideraram as acusações carentes de qualquer valor provatório. O fiscal foi encontrado morto dentro do banheiro do hotel, o seu corpo estava caído contra a porta, do lado interno, e havia um revólver de calibre 22 com uma bala detonada. A perícia descartou qualquer possibilidade de presença de outras pessoas no local do incidente, que estava sob forte esquema de segurança e trabalha com a hipótese de suicídio.

O que levou o fiscal a fazer a escolha pelo suicídio, ainda não é possível saber mas com certeza ele é mais útil morto para os grupos nacionais e internacionais que fazem oposição a Cristina Kirschner e querem isolar cada vez mais o Irã.
 



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