Tradução Vila Vudu
A evidência de que há real perigo de as atividades terroristas do ISIS, também conhecido como ‘Estado Islâmico’, avançarem bem além do Oriente Médio e diretamente para o coração da Europa, parece ter devolvido vários líderes europeus de volta ao planeta Terra e ao bom senso. O discurso que o presidente Putin fez à Assembleia Geral da ONU, conclamando os europeus a unirem-se e criar uma coalizão para combater contra o ISIS nos termos do que ordena e admite a lei internacional, parece ter finalmente mobilizado os neurônios de alguns líderes políticos no ‘ocidente’.
Um dos efeitos dessa novidade foi já uma declaração de François Holland depois dos atentados terroristas na França, sobre sua intenção de se associar ao processo de constituir uma coalizão internacional para combater contra o ISIS.
Segundo comentários a Business Insider, Iam Bremmer, diretor do Eurasia Group, uma das maiores empresas de consultoria e pesquisa do mundo, a França – que declarou guerra ao ISIS –, está agora à procura de parceiros. “Não há parceiros aproveitáveis entre os ‘rebeldes’ sírios e nunca houve, nem antes dos atentados em Paris” – diz Ian Bremmer. – “Além disso, não há apoio de tropas ‘ocidentais’, para que a França possa iniciar, sozinha, qualquer guerra”.
Segundo especialistas, esse contexto põe Rússia e Irã em posição muito forte; considerado o atual ambiente, é altamente provável que a França comece a cooperar com esses países, não com os EUA.
Mesmo assim, movimentos típicos do ‘ocidente’ e as distorções propagandísticas sempre disseminadas pela mídia-empresa aparecem também aí, como sempre. O respeitado jornal francês Le Monde publicou recentemente um editorial em que diz que “logo que François Holland anunciou sua intenção de construir uma coalizão internacional para combater o ISIS, a Rússia imediatamente se ajustou para se adequar à nova configuração.
Lamentável para os franceses, mas esse seu jornal tão popular só lê os próprios editoriais. Le Monde não sabe, portanto, que essa suposta “intenção” não é coisa que Hollande inventou do nada e, um belo dia, ‘anunciou’. Nunca foi só “intenção”: foi proposta claramente formulada pelo presidente Vladimir Putin ante a Assembleia Geral da ONU. Significa que não foi Putin, mas Hollande, quem (nas palavras do próprio Le Monde) “se ajustou para se adequar à nova configuração”; e foi ótima ideia para Hollande, ter-se ajustado logo, para se adequar rapidamente, porque imediatamente melhorou muito a avaliação do presidente entre os franceses: em apenas poucos dias, já subiu 8 pontos e já alcançou 33%.
Mas as distorções e o serviço de deliberadamente desinformar o grande público não são perversões só francesas: também se veem na grande indústria do jornalismo de massas nos EUA.
Dia 19 de novembro, a RBS norte-americana exibiu, com o ‘noticiário’ sobre o grupo terrorista ‘Estado Islâmico’, um vídeo em que se viam ações das forças aeroespaciais russas, em ataques a posições dos terroristas, e que havia sido distribuído horas antes pelo Ministério de Defesa da Rússia. Problema, só, que o ‘noticiário’ da RBS norte-americana ‘noticiava’ que aquelas seriam aeronaves norte-americanas: “ações da Força Aérea dos EUA, que destruíram mais de uma centena de caminhões-tanques usados para transporte de petróleo”.
Na sequência, via-se também, como material de apoio, outro ataque aéreo da aviação russa, contra instalações de processamento de petróleo do ISIS e uma coluna de caminhões tanques que transportavam petróleo e combustível para a Turquia. Mas o ‘jornalista’ apresentador comentou com visível encantamento: “os EUA estão lançando o primeiro ataque efetivo contra caminhões-tanques que transportam petróleo”.
Imagens de ataques bem-sucedidos contra instalações do ISIS de extração, refino e contrabando de petróleo, que se vejam na mídia de massa dos EUA, ainda não mostraram nenhuma ação dos norte-americanos: o que se vê é sempre o filme distribuído pelos russos.
Ao mesmo tempo, o vídeo distribuído pela Força Aérea Russa mostra claramente o efeito nenhum que a “guerra aérea” de Obama tem tido contra o setor petroleiro de extração e refino hoje administrado pelo terror. Mas esse efeito nenhum é anotado, por exemplo, pelo portal britânico Breitbart London, de noticiário internacional.
Breitbart diz, especialmente, que a fraqueza dos ataques aéreos dos EUA contra o ISIS no norte da Síria aparece claramente no vídeo distribuído pela Força Aérea Russa dia 18 de novembro. Ali se veem centenas de caminhões-tanques do ISIS perfeitamente intactos, estacionados em fileiras num estacionamento ao lado de uma refinaria só muito levemente danificada. Os caminhões-tanques parecem absolutamente expostos, estacionados sem nenhuma preocupação com protegê-los de ataques aéreos que pudessem vir (mas não vêm) da Air Force dos EUA.
Já em maio, o senador John McCain revelou que três ou quatro aviões que participaram de missões na Síria voltaram aos EUA sem ter disparado uma única bomba.
Evidentemente, todos compreendem que os caminhões-tanques são vitalmente importantes para o ISIS, porque transportam petróleo a ser entregue aos clientes compradores na Turquia. E o ISIS precisa do dinheiro que entra, para pagar salários, comprar armas, subornar inimigos e financiar os seus ataques terroristas em outros locais, como em Paris, dia 13 de novembro, quando morreram mais de 120 civis. Tudo isso considerado, nem é preciso discutir muito para fazer entender a importância de atingir diretamente as fontes de financiamento do terror do ISIS – se, evidentemente, algum estado tem algum interesse em realmente dar combate aos terroristas e majors do petróleo, do ISIS.
Mas a guerra antiterrorista dos EUA é falsa guerra. A falsidade, nesse caso é demonstrada pelas ações da tal ‘coalizão’ que os EUA liderariam.
O serviço de inteligência não informa o presidente Obama sobre a situação real no Iraque e na Síria – como disse recentemente Devin Nunes (dep. Rep. da Califórnia), chefe da inteligência da Comissão das Forças Armadas da Câmara de Deputados. Foi também o que o mesmo Devin comentou em artigo que o New York Times publicou dia 21 de novembro, no qual se lê que o US CENTCOM deliberadamente escondeu do presidente Obama, no relatório secreto do ano passado, o real poder do grupo terrorista ISIL e a fragilidade do treinamento que o exército do Iraque estaria recebendo.
Como se sabe, os EUA e alguns de seus aliados estariam atacando por via aérea inúmeras posições do ISIS desde agosto do ano passado no Iraque, e desde setembro do ano passado, na Síria. Mas, segundo declarações, dia 30 de setembro, do ministro de Relações Exteriores da Síria Walid Muallem, as ações da coalizão supostamente liderada pelos EUA na Síria contrariam tudo o que a lei internacional determina, violam a soberania da República Árabe Síria e não têm dado qualquer resultado, uma vez que não reduziram em nada o poder do ISIS para atacar onde queira.
Bem diferente disso, a Rússia combate legalmente contra o ISIS na Síria, lá está a pedido do governo sírio – e aí está, precisamente, o que a imprensa-empresa deveria se ocupar em esclarecer para todos que decidam participar da ação naquela região do mundo.
Sendo a informação disponível sempre de péssima qualidade, muitos políticos, inclusive os mais sérios e bem-intencionados nos EUA e em todo o planeta, não compreendem nem a posição da Casa Branca sobre a Síria, nem o papel da Rússia na luta contra o ISIS. Hoje, até um membro da Câmara de Deputados, o Republicano Dana Rohrabacher, em coluna para Investor’s Business Daily vê-se na obrigação de alertar os EUA para que evitem uma segunda Benhgazi na Síria e lembra que o inimigo número 1 dos EUA é o ISIS, não o presidente Assad.
No geral, parece que a situação de hoje assemelha-se à abertura de “um segundo front” na luta contra o ISIS, como aconteceu durante a 2ª Guerra Mundial. Naquele momento, como hoje, certas forças políticas participam ativamente da criação e do fortalecimento de um mundo de quimeras, firmando contratos secretos informais com personagens também quiméricos, com vistas a garantir vantagens para alguns grupos ‘ocidentais’.
No que tenha a ver com abrir o “segundo front ‘ocidental'” sob a forma de coalizão ampla, a história se repete, hoje, como na 2ª Guerra Mundial: nada avança muito além de ‘declarações’ genéricas.
A situação só mudará, e todos verão bem claramente, tão logo a Rússia (como a URSS no século 20), esteja bem próxima de vitória total sobre os terroristas do ISIS. Nesse momento, sim, os ‘falcões’ ‘ocidentais’ correrão a ‘engajar-se’ ativamente na luta, na esperança de aparecer na foto do desfile da vitória; e, também, na esperança de conseguir impedir que Moscou reforce ‘demais’ o próprio prestígio regional e global.