Dez anos da resistência anti-imperialista na Síria

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Síria é bombardeada por Israel em mais uma provocação | Diário Causa Operária

Por. Lejeune Mirhan *

No último dia 15 de março de 2021, foram completados dez anos de uma agressão sistemática na Síria, assim como de resistência anti-imperialista. O Exército Árabe Sírio, sob a liderança do presidente Dr. Bashar Al Assad, a unidade nacional desse povo e sua consciência e a solidariedade internacional e apoio da Rússia, vem fazendo com que a Síria esteja vencendo a guerra de agressão, perpetrada por terroristas e mercenários à serviço dos EUA, Arábia Saudita e Israel.

A agressão à República Árabe Síria, cujas manifestações na onda da chamada “Primavera Árabe”, que na Síria tiveram início no dia 11 de março e, já no dia 15, apareceram pessoas infiltradas na população fortemente armadas. Era muito estranho que aparecessem armas nas manifestações, como fuzis do tipo Ak-47, conhecido como Kalashnikov. No mercado paralelo da época, de contrabando de armas no Oriente Médio, você comprava um fuzil desses por US$200 dólares. A partir do início da agressão à Síria, esse preço foi para US$1.500. Mas não faltaram recursos para comprar milhares desses fuzis.

E, quem é que dava o dinheiro? A Arábia Saudita, uma monarquia feudal teocrática, que não tem Constituição, cujo país não tem partidos políticos, não tem nenhuma liberdade. Eles financiam todos os movimentos para derrubar governos patrióticos. Eles exportam a sua ideologia wahabita do Islã sunita, que são radicais e fundamentalistas. Todos os governos progressistas árabes, que têm como característica central serem anti-imperialistas, e isso é o que a Síria sempre foi, e que o Egito foi no passado, até Gamal Abdel Nasser morrer, em 1970, sempre foram o alvo central dessa monarquia.

No mesmo ano que Nasser morreu, a Síria começa a consolidação desse caminho da soberania nacional e da Independência, sob o governo de Hafez al-Assad até o ano 2000, quando ele morreu e seu filho Bashar al-Assad assume, sendo reeleito em junho de 2014 para um mandato de sete anos. Nessas eleições ele obteve 88,7% dos votos válidos, em uma eleição absolutamente limpa e lisa, com a presença de observadores internacionais. O Brasil mandou, entre outras pessoas, a companheira Socorro Gomes que presidia a Cebrapaz, na época, ela que é ex-deputada federal do PCdoB do Pará. E, muitos outros observadores do mundo inteiro. Eram quatro candidatos disputando. Dr. Bashar venceu no primeiro turno.

Este ano terão novas eleições em junho. É muito provável que o presidente Bashar tente a reeleição para conquistar um novo mandato. O que acontecerá muito facilmente, por causa da sua grande popularidade. O jornal Folha de São Paulo se dá o direito de ofendê-lo todas as vezes que o chama de ditador Bashar, não o chama de presidente. Quem é a Folha para dizer quem é ou quem não é presidente de um país? nem os prestigiosos jornais como o New York Times e o Washington Post se atrevem a chama-lo dessa forma.

Quero registrar aqui uma importante observação. Jamais devemos dizer que na Síria existe uma guerra civil. O que nós temos naquele País, é uma agressão financiada pela Arábia Saudita e apoiada pelo imperialismo estadunidense, que fornece sistemas de comunicações, fornecem a logística, fornecem a inteligência e instrutores militares. E até têm uma pequena tropa. Sobre isso usamos o termo “coturnos em solo”. E eles não retiraram até hoje. Não sabemos até quando Biden os manterá por lá. É um contingente pequeno, mas agem para que o famigerado Estado Islâmico não seja definitivamente liquidado.

Entre todos os terroristas que foram presos há, comprovadamente, mais de 80 nacionalidades diferentes, vindos de muitos países e que se consideram jihadistas, e são fundamentalistas religiosos muçulmanos. De meu ponto de vista, eles não são muçulmanos, pois não praticam uma orientação básica do livro religioso dos muçulmanos, que é o Corão, que afirma ser dever fundamental de todo muçulmano proteger cristãos e judeus, e não matá-los. Sinagogas e Igrejas tem que ser protegidas e não destruídas.

Todos lembramos das cenas dos cortadores de cabeça de cristãos sírios, que tem uma comunidade de quase 15% da população, só perde para o Líbano, em termos de quantidade de cristãos. Todos os papas, desde 1970 – portanto isso faz mais de 50 – apoiam os governos laicos da Síria, que protege todas as etnias, as minorias, especialmente as cristãs.

O papa polonês, Karol Wojytila, cujo nome no papado era João Paulo II, que era um papa de extrema-direita e o Joseph Ratzinger (Bento XVI), também de extrema-direita, também apoiaram o governo da Síria. Porque se esses terroristas vencerem essa maldita guerra de agressão e – numa eventualidade, que eu espero que jamais aconteça – o presidente Dr. Bashar al-Assad, médico oftalmologista formado na Inglaterra, que fala o inglês fluente, um homem formado no Ocidente, não é anticapitalista, mas é defensor da sua Pátria, este for apeado do poder por esses terroristas, os cristãos serão massacrados e os xiitas muçulmanos, que eles também odeiam, seriam expulsos para o Líbano.

Isto foi piorando de 2011 até o ano de 2014, quando foi proclamado o chamado Califado Islâmico. Uma pessoa que já foi devidamente liquidada e mandaram-no conversar com seus ancestrais e se apresentava como o Califa Abu Bakr, se autoproclamou Califa. Eles têm um projeto de restabelecer o antigo Califado Islâmico, do Império Otomano, que poderia vir a ser apoiado pela Arábia Saudita e Turquia.

Esse Abu Bakr al-Baghdadi foi morto pelo exército árabe-sírio, em 2019. Teve uma vida curta como “Califa”, durante apenas cinco anos. Mas, fizeram estragos imensos na Síria, com apoio dos Estados Unidos, com apoio tácito de Israel, cujo Estado Islâmico jamais atacou. Jamais se viu uma declaração deles, contra o estado sionista de Israel, mas contra os árabes, sim.

Existe uma boa série na Netflix chamada Califado, que eu sugiro para todas as pessoas que apreciam boas séries, que nos ajudam a elucidar aspectos históricos que a nossa formação não permitiu. Ele mostra como são recrutados na Europa esses jihadistas, que são mandados para essa região do Estado Islâmico, que fica entre o Iraque e a Síria.

Eles perderam a guerra de agressão à Síria. E a perderam também no Iraque. Hoje eles se reduzem a uma pequena comunidade, pois o exército árabe-sírio controla mais de 95% do seu território. Há apenas uma região situada no Noroeste da Síria, onde a Turquia – para a surpresa de muitos – invadiu exatamente quando a Síria já tinha praticamente concluído o trabalho de eliminação de todos os terroristas. Os turcos então, sob o comando de Erdogan, que sonha ser ele mesmo o novo Califa, ocuparam esse pequeno pedaço da Síria e lá se instalaram, e ainda de lá não saíram. Mas sairão em breve.

O governo Sírio é laico, ou seja, o Estado é separado da religião. O governo e o Estado sírio protegem todas as etnias, em especial as que são minorias. E são muitas. Eu mesmo descendo de uma etnia chamada assíria que no próximo dia 1º de abril entrará no ano 6771. É o sistema de calendário mais antigo que vigora em todo mundo. Quase mil anos mais antigo que o dos judeus que estão no ano de 5780.

Esses meus ancestrais assírios, que falavam o árabe – mas não eram árabe, pois foram arabizados. Já não falavam o aramaico, a língua original dos assírios, que já não era uma língua corrente, chamada língua franca. Ainda que na Síria, em algumas cidades, como Maalula, cuja população é 100% cristã, todos falam aramaico. Maalula foi quase inteiramente destruída por esses terroristas e muitas das suas igrejas milenares foram destruídas. Esses terroristas perderam a guerra de agressão.

Finalizo, dizendo que, a disputa ali está entre tirar a Síria do arco da resistência. Como também querem tirar o Líbano. Eles querem devolver esses países para a influência dos Estados Unidos. Hoje, o arco da resistência é composto pelo Irã, Líbano, Iraque e Síria, apoiados pelo Hezbollah.

Hoje é possível você sair – e isso nunca antes na história aconteceu – de automóvel de Teerã, capital do Irã, passar em Bagdá, capital do Iraque, passar em Damasco, capital da Síria, passar em Beirute, capital do Líbano e se quiser pode continuar por terra até chegar à Palestina, que hoje ainda leva o nome de Israel.

Hoje podemos nos perguntar, por que é que durante dez anos o governo árabe sírio não foi derrubado? Eu tenho listado pelo menos quatro fatores. O mais importante é a consciência política anti-imperialista do seu povo, que tem demonstrado ter uma elevada consciência política. Eles estão acima da religião, eles não importam se você é sunita, xiita ou cristão ortodoxo. Todos estão unidos contra o imperialismo. Eles não querem uma Síria dominada por nenhuma potência estrangeira. Este é o primeiro aspecto.

O segundo aspecto é a unidade do exército árabe-sírio, ainda que esteja cansado de 10 anos de guerra. Isso não tem sido fácil, mas ele mantém a sua unidade. É um exército muito disciplinado, melhor treinado de todo mundo árabe, não há igual.

O terceiro fator é uma liderança de um estadista que estaria hoje entre os maiores estadistas vivos do mundo, como o nosso presidente Lula. A Síria é um país pequeno, de mais ou menos 20 milhões de habitantes. Nosso Brasil tem mais 200 milhões. A Síria não tem um grande território e nem uma grande população. Ainda assim, joga um papel internacional muito importante na luta pela paz mundial, na luta contra o terrorismo.

O Dr. Bashar é muito querido pelo seu povo, muito respeitado. A Síria, fez uma revolução a partir de 8 de março de 1963. Portanto, estamos falando de 58 anos, em que uma coalizão revolucionária, um comando revolucionário governa o país, que hoje tem 20 partidos legalizados, inclusive dois partidos comunistas. Eu conheci um deles quando visitei Damasco em 2013, no auge da guerra. Esses partidos comunistas têm ministérios no governo, que é um governo de União Nacional.

Há um quarto e último fator, que é também determinante, que é o fator Rússia. Este é um fator geopolítico mundial. O imperialismo não poderia derrubar um governo que tem a Rússia como aliado, que tem a Rússia presente no seu país. A pedido do governo e do Parlamento sírio, cujo povo que é amigo da Rússia, desde a época em que era a União Soviética, a Rússia se faz presente em território sírio.

Assim, não é estranha a presença russa ali. A Rússia tem uma base militar que fica na cidade portuária de Tartus, no mar Mediterrâneo. A Rússia fornece os sistemas antimísseis chamado S 400, que são os mais modernos do mundo. Nem os Estados Unidos conseguem ter um sistema assim. Os seus mísseis chamados Patriot já não conseguem detectar, por exemplo, mísseis e drones, como ocorre na Arábia Saudita. Por isso a Rússia é também o grande fator, o quarto fator, que nós temos para explicar o porquê a Síria não perdeu a guerra que lhe movem contra ela.

* Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 14 livros, é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da TV DCM, dos canais Outro lado da notícia, Iaras & Pagus, Rogério Matuck, Contraponto, Democracia no ar, Conexões, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia e Vai Ali.

Agradeço à Ademir Munhóz pelo trabalho de transcrição de meus programas internacionais (ademir@piracaihoje.com.br). Todos os meus livros podem ser adquiridos na Editora Apparte no endereço: www.apparteditora.com.br e as compras podem ser parceladas em até seis vezes sem juros. O meu site pessoal é www.lejeune.com.br, onde estão todos os meus artigos, a maioria de política internacional e também política nacional e Sociologia brasileira. Recebo e-mails no endereço: lejeunemgxc@uol.com.br. Meu Zap é +5519981693145. Meus endereços nas redes sociais são: Facebook: www.facebook.com/lejeune.mirhan; Instagram: @lejeunemirhan; Twitter: @lejeunemirhan; Youtube: lejeunemirhan.

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