“….NÃO HÁ “RESISTÊNCIA” na narrativa acima. O texto fracassa cuidadosamente em mencionar nomes dos países (EUA, OTAN), os quais lideram economias imperialistas de guerra de conquista, e destruição social. É desnecessário dizer que as vítimas dessas guerras (i.e. Iraque, Síria, Iêmen etc) tanto quanto os interesses das corporações por trás dessas guerras, não são identificados. RESISTIR não se aplica às guerras lideradas pelos EUA na Síria, Iraque, Ucrânia, Iêmen. Na verdade, parece que o tema das guerras lideradas pelos EUA e pela OTAN não é objeto de debate e discussão nas oficinas do FSM. ..”
O Forum Social Mundial de Salvador, na Bahia, milhares de pessoas foram às ruas “em nome da democracia”: o movimento feminista, Vidas Negras Importam, Ambientalistas, Organizaçao de Povos Originários, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), Organizações da Juventude, LGBT entre outros.
Como parte do 13º Fórum Social Mundial, eles marcharam sob o lema:
“Resistir É Criar, Resistir É Transformar”
Minha pergunta:
Resistir a quem?
Os líderes e organizações do Forum Social Mundial (FSM) de Salvador, na Bahia, encontram-se diante de uma negação permanente; com certeza, agora eles devem reconhecer que o FSM – incluindo despesas de viagem – é financiado pelos mesmos interesses corporativos que são o objeto da ampla “RESISTÊNCIA” e das divergências, política e social.
Quanto isso é conveniente. As corporações estão financiando dissidentes com vistas ao controle desses mesmos dissidentes, e os organizadores do FSM são cúmplices disso.
“O movimento anti-globalização é opositora de Wall Street e das gigantes petroleiras controladas por Rockefeller, etc. Contudo, as fundações e instituições filantrópicas de Ford, Rockefeller etc, generosamente financiarão redes progressistas anti-capitalistas tanto quanto ambientalistas (opositoras de Wall Street e o Grande Petróleo), etc. a fim de, finalmente, supervisionar e moldar suas várias atividades.” (M. C, 2016)
O FSM é considerado transformador dos movimentos progressistas, levando ao que é descrito como o surgimento da “Esquerda Mundial”.
O que é essa Esquerda Mundial, What is this Global Left, ela possui algum movimento de base?
Ela é amplamente composta por “intelectuais de esquerda” e “organizações”. Eles dizem combater o neoliberalismo.
Mas seu FSM é, em enorme medida, “fundado pelo neoliberalismo”.
As pessoas que participaram do FSM não sabiam que “RESISTIR” ao CAPITALISMO GLOBAL é financiado pelo “CAPITALISMO GLOBAL”.
Elas têm sido enganadas pelos organizadores do FSM.
Em outras palavras, enquanto o lema do FSM Resistir para Transformar significativo, na prática é redundante.
Reparações coloniais foram abordadas no FSM de 2018 em Salvador, no Brasil
O tema das reparações no FSM de 2018 em Salvador na Bahia, foi tratado na oficina Reparações ao Colonialismo, na the Assembleia Mundial de Resistência dos Povos, Movimentos e Territórios, e Ágora dos Futuros. Nestas atividades, participaram algumas centenas de pessoas, muitas das quais representantes de outras organizações. Foi abordada uma questão sobre a situação das reparações nos últimos anos, tentando identificar ações mais promissoras para o futuro
A quem seriam direcionadas essas demandas de reparação colonial?
As corporações e os governos ocidentais (“ex”-poderes coloniais) que, generosamente, financiaram o FSM tanto quanto as ONG participantes, estão frequentemente envolvidas em um processo de neocolonialismo social, destruição e pilhagem de recursos, para não mencionar as guerras.
Quando o FSM foi realizado em Mumbai em 2004, a comissão indiana corajosamente confrontou as organizadores do FSM e negaram o apoio da Ford Foundation (ligada à CIA). Isto, por si só, não modifica a relação do FSM com as corporações doadoras. Enquanto a Ford Foundation formalmente retirou-se, outras foundações reuniram-se com o Ministro de Desenvolvimento Estrangeiro de Tony Blair.
Tornando o Mundo Seguro para o Capitalismo
Sobre isso, a Ford Foundation reconhece abertamente seu papel no “financiamento da resistência e dos dissidentes”:
“Tudo que a [Ford] Fundação fez poderia ser considerado “tornar o mundo seguro para o capitalismo”, reduzindo as tensões sociais pela ajuda confortando os aflitos, fornecendo válvulas de segurança aos inconformados, e melhorando o funcionamento governamental (McGeorge Bundy, National Security Advisor to Presidents John F. Kennedy and Lyndon Johnson (1961-1966), President of the Ford Foundation, (1966-1979))
O movimento anti-guerra esteve notoriamente ausente do FSM de Salvador em 2018.
Sob a bandeira “Contra a Militarização e as Guerras”, o FSM de Salvador publicou uma declaração inócua:
Na condição de parlamentares e representantes das forças progressistas internacionais, estamos preocupados com o desperdício de imensos recursos na recente onda de militarização global, e com os crescentes gastos militares de diversos países em todo o mundo. Leia o texto completo, aqui.
SIM, GUERRAS SÃO CARAS. Enquanto “o desperdício de recursos” é importante, por que não mencionar os nomes “dos países” que estão ameaçando a paz mundial (i.e. EUA, Estados-membros da OTAN, Israel, Arábia Saudita), para não mencionar as milhões de pessoas que têm sido mortas como resultado das guerras lideradas pela OTAN.
NÃO HÁ “RESISTÊNCIA” na narrativa acima. O texto fracassa cuidadosamente em mencionar nomes dos países (EUA, OTAN), os quais lideram economias imperialistas de guerra de conquista, e destruição social.
É desnecessário dizer que as vítimas dessas guerras (i.e. Iraque, Síria, Iêmen etc) tanto quanto os interesses das corporações por trás dessas guerras, não são identificados.
RESISTIR não se aplica às guerras lideradas pelos EUA na Síria, Iraque, Ucrânia, Iêmen. Na verdade, parece que o tema das guerras lideradas pelos EUA e pela OTAN não é objeto de debate e discussão nas oficinas do FSM.
O mosaico das oficinas do FSM
Os mecanismos da “dissensão manufaturada” exige um ambiente manipulador, um processo de persuasão e cooptação sutil de um pequeno número de indivíduos sem “organizações progressistas”. Muitos líderes dessas organizações têm, sob certo aspecto, traído suas raízes.
O que prevalece é um mosaico de oficinas. Os ativistas participantes do FSM têm sido mal orientados. Essas oficinas não ameaçam a ordem imperialista mundial. Elas constituem um ritual de dissensão e resistência.
O mosaico de oficinas separadas do FSM, a relativa ausência de sessões plenárias, a criação de divisões dentro e entre os movimentos sociais para nem mencionar a ausência de uma plataforma coesa e unificada, servem aos interesses das elites corporativas de Wall Street que, generosamente, financiam o FSM.
A agenda corporativa não declarada é “produzir dissidência”. “Os limites da dissidência” são estabelecidos pelas fundações e governos que financiam esse multimilionário FSM.
O mosaico de oficinas é imposto pelos que financiam o FSM. O formato das oficinas não constitui ameaça ao capitalismo global. Muito pelo contrário.
O financiamento do FSM
Esta seção é amplamente baseada em um artigo anterior, de 2016, referente ao 12º FSM realizado em Montreal no mesmo ano. No entanto, os acordos do financiamento referentes ao FSM de Salvador, na Bahia, são amplamente semelhantes, dependendo das mesmas entidades doadoras.
O FSM é apoiado por um consórcio de fundações corporativas supervisionadas por Doadores Engajados para a Igualdade Global (Engaged Donors for Global Equity). Para mais detalhes, veja Michel Chossudovsky 2016.
Esta organização, anteriormente conhecida como Rede de Financiadores do Comércio e da Globalização (The Funders Network on Trade and Globalization, FTNG), tem desempenhado um papel central no financiamento de sucessivas instalações do FSM. Desde o início, em 2001, possuía status de observador no Conselho Internacional do FSM.
Em 2013, o representante dos Irmãos Rockefeller (Rockefeller Brothers Fund), Tom Kruse, co-presidiu o comitê de programa da EDGE.
No Rockefeller Brothers Fund, Kruse era responsável pela “Governança Global” através do programa “Prática Democrática”. As doações dos Rockefeller para ONGs são aprovadas pelo programa “Fortalecendo a Democracia na Governança Global” (Strengthening Democracy in Global Governance), muito semelhante ao apresentado pelo Departamento de Estado dos EUA.
Um representante da Open Society Initiative for Europe faz atualmente (2016) parte do Conselho de Administração da EDGE. O Wallace Global Fund também consta em seu Conselho de Administração. O Wallace Global Fund é especializado no fornecimento de apoio a ONGs “predominantes” e “meios alternativos”, incluindo a Anistia Internacional, Democracy Now! (que apoia a candidatura de Hillary Clinton à Presidência dos EUA). Michel Chossudovsky 2016.
Em um de seus principais documentos (2012), intitulado Financiadores da Aliança de Rede em Apoio à Organização de Base e Construção de Movimento (Funders Network Alliance In Support of Grassroots Organizing and Movement-Building, ligação não disponível), a EDGE reconheceu seu apoio aos movimentos sociais que desafiam o “fundamentalismo neoliberal de mercado”, incluindo o Fórum Social Mundial fundado em 2001:
“Desde a revolta zapatista em Chiapas (1994), passando pela Batalha de Seattle (1999) até a criação do Fórum Social Mundial em Porto Alegre (2001), os anos TINA (There Is No Alternative, em português ‘Não há alternativa’) de Reagan e Thatcher foram substituídos pela crescente convicção de que “outro mundo é possível”. Contra-conferências, campanhas globais e fóruns sociais têm sido espaços cruciais para articular lutas locais, compartilhar experiências e análises, desenvolver conhecimento especializado, e construir formas concretas de solidariedade internacional entre movimentos progressistas por justiça econômica e ecológica”.
Mas, ao mesmo tempo, há uma contradição óbvia nisso tudo: outro mundo não é possível quando a campanha contra o neoliberalismo é financiada por uma aliança de doadores corporativos firmemente comprometidos com o neoliberalismo, e com a agenda militar EUA-OTAN.
Os limites da dissidência social são assim determinados pela “estrutura de governança” do FSM, tacitamente acordada com as agências de financiamento no início de 2001.
“Não há líderes”
O FSM não tem líderes. Todos os eventos são “auto-organizados”. A estrutura do debate e do ativismo é parte de um “espaço aberto” (ver Francine Mestrum, The World Social Forum and its governance: a multi-headed monster, CADTM, 27 de abril 2013).
Esta estrutura compartimentada configura-se obstáculo ao desenvolvimento de um movimento de massa significativo e articulado.
Qual a melhor forma de controlar a dissensão popular contra o capitalismo global?
Basta garantir que seus líderes sejam facilmente cooptados, e que as bases não desenvolvam “formas de solidariedade internacional entre os movimentos progressistas” (para usar as próprias palavras de EDGE), minando signitivamente, desta maneira, os interesses do capital corporativo.
O mosaico de oficinas separadas do FSM, a relativa ausência de sessões plenárias, a criação de divisões dentro e entre os movimentos sociais para nem mencionar a ausência de uma plataforma coesa e unificada contra as elites corporativas de Wall Street, contra a falsa “Guerra Mundial ao Terror” patrocinada pelos EUA utilizada para justificar “intervenções humanitárias” dos EUA-OTAN (Afeganistão, Síria, Iraque, Iémen, Líbia, Ucrânia, etc).
O que finalmente prevalece, é um ritual de dissensão que não ameaça a Nova Ordem Mundial. Os que frequentam o FSM em suas bases são, muitas vezes, enganados pelos líderes. Os ativistas que não compartilham o consenso do FSM, são excluídos:
“Ao financiar e organizar a estrutura das políticas para muitas pessoas interessadas e dedicadas trabalhando no setor sem fins lucrativos, a classe dominante consegue cooptar a liderança das comunidades de base, sendo também capaz financiar, contabilizar e avaliar os componentes do trabalho, tão demorados e onerosos que o trabalho de justiça social torna-se virtualmente impossível sob estas condições “(Paul Kivel, You Call this Democracy, Who Benefits, Who Pays and Who Really Decides, 2004, p. 122)
“Outro mundo é possível” é, contudo, um conceito importante que caracteriza a luta dos movimentos populares contra o capitalismo global, bem como o compromisso de milhares de ativistas comprometidos atualmente participando do FSM de Montreal, em 2016.
O ativismo está sendo manipulado: “Outro mundo é possível” não pode, no entanto, ser alcançado sob os auspícios do FSM que, desde o início, foi financiado pelo capitalismo global e organizado em estreita ligação com seus doadores corporativos e governamentais.
EDGE Board of Directors (2018)
O Conselho de Administração da Edge (The Edge Board of Directors) inclui representantes de grandes fundações e instituições de caridade corporativas, incluindo a Fundação Charles Leopold Mayer (Charles Leopold Mayer foundation), a Fundação Ford (Ford Foundation), o Serviço Mundial Judaico-Americano (American Jewish World Service), a Fundação da Sociedade Aberta (Open Society Foundation), entre outros.+
Foto: https://wsf2018.org/
Autor: Economista canadense Michel Chossudovsky, diretor de Centre for Research on Globalization (Canadá)
Fonte: Global Research (Canadá)
Tradução: Edu Montesanti
PRAVDA.RU
http://port.pravda.ru/mundo/03-04-2018/45280-ativismo_social-0/