Morre o proeminente jornalista libanês, Talal Salman, aos 85 anos, fundador do famoso jornal As-Safir
Por Anwar Assi*
O jornalismo está de luto. Um dos grandes ícones da imprensa árabe, o jornalista libanês, Talal Salman, faleceu, nesta sexta-feira (25/08), aos 85 anos, no Líbano.
Talal Salman foi fundador e proprietário do famoso jornal As-Safir (O Embaixador, em tradução livre para o português), um dos mais influentes do Líbano e do mundo árabe. Com sede em Beirute, o As-Safir tinha uma influência que ultrapassava as fronteiras do Líbano, tornando-se um dos mais destacados matutinos em língua árabe da atualidade.
O jornalismo independente e corajoso do As-Safir lhe rendeu prêmios e, também, ataques. Em 1980, a sede do jornal foi alvo de uma explosão, e, em 1984, o próprio Talal Salman foi vítima de uma tentativa de assassinato. Porém, nada abalava a empresa e seu dono. Em 2009, Talal Salman foi premiado como a personalidade do ano por um instituto de mídia de Dubai.
Referência
Talal Salman era uma das minhas principais referências no jornalismo árabe. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente quando visitei a sede do jornal As-Safir, em Beirute, na década de 1990, quando morava na capital libanesa. Conheci uma pessoa humilde e culta.
Além do bom jornalismo, o As-Safir teve um outro papel importante na minha vida, pois foi com a ajuda deste jornal que aprendi a ler o árabe clássico. Embora já conhecesse o alfabeto e soubesse montar as palavras em árabes, eu não sabia o significado de muitas delas. Então, todo dia, comprava o jornal e buscava por palavras que apareciam repetidamente para que eu pudesse traduzi-las para o português. Desta forma, fui ampliando meu vocabulário e, em pouco tempo, conseguia ler e entender o conteúdo das matérias publicadas no As-Safir.
Defesa dos oprimidos
A morte de Talal Salman é uma grande perda para o jornalismo no mundo árabe, principalmente, para o Líbano e a Palestina, além de outros povos livres do mundo. Durante a sua vida, o jornalista foi defensor dos povos oprimidos e “deu voz aos que não tinham voz”.
Entre os povos que tinham voz no As-Safir estavam os palestinos, que há mais de sete décadas sofrem com uma campanha de limpeza étnica por parte dos invasores sionistas. Eram nas páginas do As-Safir onde os leitores podiam contemplar as famosas charges de Handala, o famoso personagem criado pelo cartunista palestino Naji al-Ali para expressar a realidade da Palestina sob a ocupação criminosa de Israel.
Nacionalismo
Com forte formação nacionalista, Talal Salman era ferrenho opositor do sistema sectário deixado de herança pela França e que impera até os dias de hoje na política libanesa. Ele acreditava num Líbano secular, democrático, nacional e fora das restrições sectárias.
No Líbano, Talal Salman era visto como “uma das suas canetas limpas”, cuja morte representa uma perda para a arena nacional libanesa e, também, para os povos árabes, no geral, que perdem um dos seus líderes e pensadores mais proeminentes.
História
Talal Salman nasceu, em 1938, na cidade libanesa de Shimustar (a 75 quilômetros de distância de Beirute), na província de Baalbek-Hermel, entre Baalbeck e Zahleh, na encosta leste do Monte Sannine. Porém, mudou-se ainda jovem para Beirute, onde estudou e iniciou seu trabalho no jornalismo.
Em março de 1974, ele fundou o proeminente jornal As-Safir, que se tornou o maior do Líbano e uma referência para os demais países árabes. Em 31 de dezembro de 2016, após 42 anos e nove meses de existência, o As-Safir encerrou suas atividades como jornal impresso e eletrônico. Porém, Talal Salman continuou na ativa escrevendo artigo num site que levava seu próprio nome, no qual fazia análises da situação no Líbano, nos países árabes e no mundo.
Ele deixou uma esposa (Afaf Al-Assaad), quatro filhos (Ali, Ahmad, Hanadi e Rabia) e vários netos.
*Anwar Assi é jornalista