Muitas vezes eu ouvi, ao longo dos 90 dias passados, de civis que tinham perdido tudo, às vezes a sua família inteira, e de analistas, esta frase sobre os Israelenses: eles matam! Eles não lutam!
A primeira notícia, que interessa a poucos, mas que explica a ausência de posts, é que minhas costas travaram e eu já não pude me concentrar, muito menos escrever…
Escolher as notícias relevantes é também um desafio quando tantas coisas acontecem em tão pouco tempo e quando desenvolvimentos dramáticos podem decorrer de fatos menores.
Faço então um pequeno grande resumo. Pequeno porque feito de breves frases sobre os fatos que vejo como mais esclarecedores da situação; grande porque quero passar um quadro geral amplo e compreensivo.
Tínhamos parado na promessa, por parte do Secretário Geral do Hezbollah, de que estava a caminho a resposta ao assassinato de um líder do Hamas em Beirut. Eu havia concluído que, pelo que indicava o espírito do discurso, estávamos a dois ou três lances de uma guerra aberta, potencialmente.
No dia seguinte, deu-se o que o Hezbollah chamou de primeiro lance da resposta prometida. 62 foguetes atingiram uma base israelense que é a principal responsável pelo monitoramento e controle de todas as ações aéreas em direção ao seu norte.
De imediato, a réplica israelense pareceu morna, talvez a indicar que o golpe não teria sido tão relevante. No entanto, um dia depois, ontem, Israel conseguiu matar um importante comandante de campo do Hezbollah, com um ataque direcionado.
Ao mesmo tempo, em relação a um outro dos fronts ditos auxiliares aos de Gaza (Iraq, Líbano, Iêmen, Síria) surgiu uma notícia relevante. A resistência iraquiana revelou ter alvejado, há alguns dias, a cidade de Haifa em Israel. Isso é mais um sinal do risco de escalada do conflito.
De volta ao Líbano, o Hezbollah anunciou ter atacado com drones suicídas, em resposta à resposta, o comando central do exército israelense, responsável por três de suas Divisões.
E numa frente outra que não aquelas lembradas, uma novidade: no Oceano Índico, dois petroleiros pertencentes a empresas Israelenses teriam sido alvejados. Sem mais detalhes, por enquanto.
Qual o quadro geral que se forma com base nesses fatos, combinados com outros sinais e informações?
1- A operação militar israelense em Gaza é um fracasso, e todos os interessados estão de acordo em relação a isso, quer o declarem ou não. Primeiro, não realizou qualquer dos objetivos declarados: nem destruiu o Hamas, nem expulsou os palestinos da faixa de Gaza, nem fez com que a população se voltasse contra o Hamas; só o que fez foi destruir tudo que podia, de casas a igrejas e mesquitas a hospitais, e deslocou a quase totalidade da população para a fronteira com o Egito; além, é claro, de ter matado 30 mil pessoas, a maior parte de crianças e mulheres, e condenado à morte praticamente todos os feridos; finalmente, é um fracasso porque realiza o milagre de fazer com que a opinião pública se volte contra Israel e contra os Estados Unidos;
2- Porque a operação em Gaza é um fracasso, porque a opinião pública se volta contra o Genocídio em curso sob nossos olhes, porque a África do Sul iniciou uma ação por Genocídio contra Israel na Corte Internacional de Justiça…, Israel começou a sua retirada de Gaza e começou o que, junto com os Estados Unidos, estão chamando de a terceira fase da guerra;
3- Um aspecto importante do fracasso da guerra em Gaza e da necessidade de passar para estratégia diferente é o enorme número de perdas sofridas pelos israelenses, infligidas pelos combatentes da resistência;
4- Os massacres diários dos civis de Gaza são um tiro que começa a sair pela culatra; os seus custos para Israel e para os Estados Unidos estão superando as intenções de castigar e de se vingar dos Palestinos. Assim como se revelam custosas as perdas em pessoal e equipamento militar, que mostram o despreparo do exército israelense para levar adiante uma guerra de combate próximo, homem-a-homem. O poderio aéreo pode destruir e massacrar, mas não pode vencer o conflito.
Qual então a nova fase, que Israel diz estar em preparação, mas que já está em curso?
A retirada das tropas de Gaza já começou, para evitar as perdas e o encontro com os combatentes palestinos. A intenção é estabelecer um cordão em torno do faixa de Gaza, ocupando uma parte do território fronteiriço com o Egito e mantendo tropas no entorno ou na margem do restante.
Isto também é feito tendo em vista o começo dos procedimentos perante a Corte Internacional de Justiça, para tentar diminuir a pressão que Israel sofrerá ali.
Ao mesmo tempo, e esta é a marca central da nova fase: os ataques indiscriminados, intensos, contra Gaza e seus civis, serão substituídos por operações pontuais, quer ataques militares contra áreas ou alvos específicos, quer por ações ditas de segurança e não de combate militar, ou seja, por assassinatos de personalidades políticas ou militares dos grupos de resistência.
Deve-se esperar que isto encontrará respostas do outro lado.
Muitas vezes eu ouvi, ao longo dos 90 dias passados, de civis que tinham perdido tudo, às vezes a sua família inteira, e de analistas, esta frase sobre os Israelenses: eles matam! Eles não lutam!
Continuarão fazendo o mesmo. Antes matavam no atacado, agora o farão no varejo.