Pepe Escobar- Xeque-mate: Jato de combate põe a Rússia na dianteira do jogo

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O novo Checkmate, codinome ‘SU-75’. Foto: Material de divulgação

21/7/2021, Pepe Escobar, Asia Times 

Enquanto os cães da demonização ladram, as mais recentes novas armas da Rússia estão claramente correndo à frente.

A exposição anual aeroespacial MAKS de 2021 foi aberta no aeroporto Zhukovsky, nos arredores de Moscou – não com estardalhaço, mas com vários estardalhaços.

MAKS – é a sigla em russo de uma espantosa Mezhdunarodnyj aviatsionno-kosmiches, literalmente, “mostra internacional de aviação e espaço” – em inglês “show”. E o show é famoso por exibir os mais recentes sucessos em matéria de tecnologia aeroespacial e de defesa, das maiores empresas de tecnologia, russas e estrangeiras.

As terras do Islã não terão deixado de perceber que o discurso do Presidente Vladimir Putin, de boas-vindas aos visitantes, caiu exatamente no período das festividades de Eid al-Adha 2021 [esse ano, da noite de 19/7, 2ª-feira, até a noite de 23/7, 6ª-feira] – e o presidente fez questão de registrar, num aceno na direção da integração étnica, que 20% dos empregados da indústria russa de aviação são muçulmanos.

Computador de bordo, para inteligência artificial, do Checkmate (tela fotografada).

A estrela indiscutível da mostra MAKS 2021 foi o Checkmate, descrito concisamente pelo analista militar Oleg Panteleev como jato de combate tático monomotor leve, 5G – e mostrado antes da apresentação oficial, num anúncio de estilo hollywoodiano pensado para compradores globais (EAU, Índia, Vietnã, Argentina).

O Checkmate já está sendo saudado em todo o Sul Global como o novo epítome de beleza letal – como equivalente aéreo de um par de Louboutins Very Privé. Será conhecido, provavelmente, pela denominação Su-75, menos sexy: afinal, o Checkmate é da família Sukhoi.

O CEO da United Aircraft Corporation (UAC) da Rostec, Yuri Slyusar, diz que a produção do Checkmate começará em 2026, depois de uma série de testes complexos.

Aqui, a apresentação na íntegra (em russo) da Rostec, pela qual ficamos sabendo que a versão top do Checkmate “pode transportar até cinco mísseis ar-ar de vários calibres”, incluindo todo o espectro dos mísseis 5G.

Significa que o Checkmate pode transportar todas as armas instaladas no jato de combate Su-57 – outra estrela da MAKS 2021. Slyusar explicou que o projeto do Checkmate teve por base o Su-57.

O Sukhoi Su-57 – que fez um voo de exibição na MAKS – é jato de combate multitarefas de 5ª geração concebido para criar o inferno para todos os tipos de alvos : navais, no ar e em solo.

O Su-57 inclui tecnologia stealth utilizando vasto conjunto de materiais compostos; alcança velocidade supersônica em cruzeiro; e vem com um muito poderoso computador de bordo – descrito como um “segundo piloto eletrônico” – e sistema de radar distribuído por todo o corpo da aeronave.

Close do SU-57 durante voo de exibição em MAKS 2019. Foto: Sergei Bobylev / TASS

A Rosoboronexport, exportadora de armas, pelo seu CEO Alexander Mikheyev, diz que já há cinco países interessados em comprar o Su-57.

Não é ‘rei de angar’

O primeiro dia da mostra MAKS foi integralmente dominado pelo Checkmate. O analista militar Andrei Martyanov, em seu estilo inimitável, resumiu muito bem: “Esse Checkmate ou, se preferirem, Su-75, não é rei de angar. É desenhado para batalha, e afinal, é Su-57 Lite, plataforma (repito – plataforma) da qual nascem muitas e muitas variantes dessa aeronave. Não esqueçam tampouco, que o Su-57 também será oferecido para exportação.”

Checkmate, segundo o projetista-chefe Mikhail Strelets, tem, essencialmente, só um motor, com controle do vetor empuxo;[1] voa por longos períodos em velocidades supersônicas; e exige menos espaço para decolar e pousar, comparado ao Su-57. O Ocidente ficará bem pouco confortável, quando começarem outras comparações em termos de eficiência, entre o Checkmate e o F-35, que não se pode dizer que seja muito brilhante.

Dentre os traços mais importantes do Checkmate, segundo a UAC, destacam-se os seguintes: capacidade para voar em altitude, quaisquer que sejam as condições climáticas; modularidade; manutenção e operações simplificadas; apoio pós-venda; “boa capacidade de transporte” (alcance e resistência) [ing. good transportation capability” (range and endurance]; “apoio de Inteligência Artificial para missões de combate”; “baixo custo de horas de voo e grande carga útil” [ing. low flight hour cost and large payload; e, mais importante de tudo, para clientes internacionais, boa relação custo/benefício.

Voo de exibição do SU-57 na mostra MAKS 2021. Foto: Material de divulgação.

Ah, sim! Logo aparecerá uma “variante” tripulada à distância. A empresa UAC já trabalha nela.

Em ação paralela à exposição MAKS, os russos também conduziram outro teste, do  sistema de mísseis S-500 “Prometheus”, o qual, para todas as finalidades práticas é superior a tudo que existe em termos de interceptação de todo e qualquer tipo de ataque aéreo e espacial possível hoje (e ainda por muito tempo) em altas velocidades e altitudes.

Há anos Martyanov escreve em detalhe, em livros e artigos, sobre todo o processo.

Quantum Bird, físico top no CERN em Genebra, diz-me que “com o Prometheus começando a operar, a OTAN enfrentará cenário de pior caso possível no confronto com a Rússia: os mísseis de ataque da OTAN serão interceptados mesmo antes de deixarem o próprio território; e assim a resposta russa de retaliação chegará lá antes, ou no mesmo momento, que os interceptadores. O Prometheus também poderá dar conta dos inconvenientes satélites espiões de baixa órbita, de que a OTAN tanto gosta para sobrevoar a Rússia.”

Um dia antes do início da exposição MAKS, a Rússia também fez lançamento-teste do míssil hiper-sônico Tsirkon, disparado da fragata Almirante Gorshkov, da Frota da União Soviética no Mar Branco, voando em Mach 7, contra alvo em terra a 350 km de distância na costa do Mar de Barents. O Ministério da Defesa da Rússia disse que o míssil acertou “o olho do alvo”. Mísseis hiper-sônicos Tsirkon equiparão submarinos e navios de guerra russos.

O 3M22 Tsirkon/3M22 Zircon (nos relatórios da OTAN, aparece como SS-N-33) é míssil cruzador hiper-sônico scramjet-powered maneuvering que está sendo desenvolvido pela Rússia. Crédito: Material de divulgação

Martyanov explica concisamente o “segredo” – que não é segredo – de todos esses avanços tecnológicos: “É como ordenhar vaca produtiva –, depois de você já ter a vaca produtiva: basta cuidar dela e ordenhá-la. Aqui se passa o mesmo, mas você tem de tomar as decisões estratégicas certas, que consideram todas as tendências. É assim que se chega ao S-500, ao Zircon, ao Su-57 e a esse novo. Os aviões chineses não conseguirão competir com o Su-75 nos ex-mercados soviéticos; e o F-35 não consegue competir com ele no plano internacional. Num certo sentido, é um xeque-mate.”

Para cidadãos da Think-tankelândia norte-americana, que já perde o sono pensando nos Su-35s, nos sistemas S-400 de mísseis e em submarinos silenciosos, o futuro reserva insônia extra, povoada por mísseis hiper-sônicos, S-500 Prometheus e uma leva de sistemas e radares de alerta precoce.

A Rússia gasta, em sua indústria militar pouco mais de 12 cents, para cada dólar que os EUA gastam. O resultado prático é que a Av. Beltway é todos os dias consistentemente ultrapassada em planejamento, design e poder de fogo.

[1] Ing. thrust vector control (TVC) [lit. “controle do vetor empuxo”] é a capacidade de aeronave, foguete ou qualquer veículo para altas altitudes (onde são inúteis os flaps), para controlar a direção do empuxo – a velocidade angular dos motores [NTS, com informações de Wikipedia].

Traduzido Pelo Coletivo Vila Mandinga

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