
A presença árabe na América e sua participação no desenvolvimento deste continente é o objeto constante destas pesquisa .
Não é possível compreender e medir a presença árabe na América partindo de uma linearidade histórica descritiva. Gera perplexidade ao pesquisador a discrepância existente entre os elementos atribuídos à presença árabe na América em seu aspecto cultural, político, social, econômico e científico quando contraposto à quase ausência de registros, estudos e documentos que confirmam esta presença.
- o imigrante informado, culto, que abandona o país por questões políticas e econômicas,
- o imigrante que saía em busca da segurança e sobrevivência.
O primeiro tipo buscava na imigração, iluminar sua mente e oxigenar seus pensamentos, procurando soluções políticas, econômicas e sociais para o seu país de origem. Ele saía da cena política pensando organizar os acontecimentos entre bastidores. Um exemplo vivo dessa situação temos aqui no Brasil.
O começo da imigração documentada é de 1885 e o primeiro diário em idioma árabe,“Al – Fayad”, foi publicado na cidade de Campinas em1897.
Este exemplo ilustra bem a preocupação do imigrante árabe que saiu em busca da expressão política, em busca de seu direito de pensar e de encontrar soluções para seu povo e o país de origem.
Os filhos desses imigrantes vivem comprometidos com a realidade de seus pais e conhecem bem a história, seu valor como imigrantes árabes e o significado de carregar em suas veias seis mil anos de história da civilização. Pertencem e se solidarizam tanto com sua parte árabe como com sua parte americana.
Entre eles temos excelentes profissionais orgulhosos de sua origem e que divulgavam sua tradição e história. Exercem participação ativa no seio da sociedade em que atuam e são verdadeiros cidadãos americanos. Muitos deles representam a América nos países árabes e os países árabes na América.
O segundo tipo, aquele que se viu expulso da sua terra por razões de miséria e fome, emigrou, sofreu, se ressentiu, porém ao chegar aqui, canalizou toda a sua força produtiva represada e pode conquistar sua tão desejada sobrevivência, segurança e por fim prosperidade.
Cabe aqui deixar claro alguns aspectos sobre diferenças existentes entre os imigrantes europeus, asiáticos, e o imigrante árabe.
Os italianos, alemães, japoneses, e outros formaram parte de uma imigração organizada, projetada e protegida. Por outro lado a imigração árabe foi programada, dirigida, mas não protegida; isto por que quando teve início a imigração, os atuais estados árabes não existiam, razão pela qual não foram firmados acordos tal como ocorreu com outros países de onde procedia também a imigração.
Este fator, sem dúvida, depois de passados cem anos de história imigratória, pode ser considerado como positivo, pois obrigou o imigrante árabe a forjar-se a si mesmo e a suas organizações sociais que protegiam os conterrâneos que chegavam aos portos americanos.
No entanto se pudéssemos retroceder no tempo e avaliar o sofrimento e dificuldade destas pessoas, que saindo da região da Síria e do Líbano, tiveram que somar à dificuldade da grande barreira idiomática, o clima do Brasil, a vegetação, a alimentação, a religião, tudo lhes era estranho, diferente. Tiveram que apreender a viver outra vez em outra terra e carregando ainda na alma a nostalgia do que deixou para trás.
Continuo agora a lhes falar deste segundo tipo de imigrante aquele que emigrou em busca da sobrevivência.
Para enfrentar todas as dificuldades inerentes à imigração, buscou no trabalho, na produção, a forma de afastar-se do mundo externo que lhe era desconhecido e hostil já que cabia a ele um propósito: buscar a segurança e a prosperidade econômica.
Muitos deles ao seguir essa fórmula, se excederam na dose, privando os seus familiares da presença paterna e por conseguinte, da história e do mito que o pai representa.
Criaram famílias desarticuladas de seu passado. Seus descendentes sentem-se estranhos, “inchados”, “ engrandecidos pelo dinheiro” porém sentindo a falta de base, da origem, da história e da tradição.
Tentam integrar-se na sociedade em que vivem, porém, como essa integração não é espontânea, não atingem o objetivo totalmente. Desconhecem a música e o folclore de seus pais e muitos sentem vergonha de serem árabes, já que este vínculo atávico foi lhes negado pelo ressentimento de seu pai.
Mantém o nome árabe, a comida, porém todo o demais está totalmente perdido.
Na segunda geração desses imigrantes, a desorientação é muito grande. Mais tarde, seus filhos, isto é, a terceira geração, buscam na compreensão de suas raízes a reintegração consigo mesmos e com suas origens. Usando uma linguagem metafórica psicanalítica, buscam ansiosamente reaproximarem-se e apoderarem-se das imagens fantasmáticas do inconsciente do pai, para a partir desse, poder chegar a seu avô, tão negado e anulado por seu pai.
Apresentado em Caracas,Venezuela, no início 1992.
Claude Fahd Hajjar
Diretora Cultural de Fearab América
Coordenadora do Vº Centenário de Fearab América -“Encontro de Duas Culturas”
Muito esclarecedor e reflexivo
Adorei
Obrigada Sami Bordokan, fico feliz que você tenha gostado. Estarei publicando outros trabalhos sobre este tema.