Um tiro pela culatra ou novos tempos no Egito?

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Por Assad Frangieh.

A ajuda dos EUA ao Egito é um valor fixo anual concedido em razão da assinatura do Acordo de Paz entre o país e Israel em 1979. Na época, o Presidente Jimmy Carter estabeleceu que essa ajuda seria dividida em verbas para o setor econômico e verbas para o setor militar, no intuito de manter um equilíbrio de forças militares entre egípcios e israelenses. Em 1982, o que era uma ajuda tornou-se uma concessão financeira a fundo perdido. Israel receberia 3 bilhões e o Egito 2,1 bilhões de dólares. Desses 2,1 bilhões, 815 milhões seriam destinados à economia e 1,3 bilhões em ajuda militar para a compra de armas exclusivamente norte-americanas. Esse montante não deveria exceder 2% do total do PIB nacional do Egito. O ônus de tal fundo recai em 57% sobre os EUA e o restante em créditos internacionais da Comunidade Europeia, Japão e outros aliados.

A ajuda financeira dos EUA ao Egito promove os objetivos estratégicos norte-americanos na região, assegura uma pressão constante sobre a economia do Egito e amarra o Egito nas clausulas do Acordo de Paz no qual Israel é seu maior beneficiário. Foi assim que os aviões norte-americanos puderam voar sobre o Egito e os navios de guerra cruzar o canal de Suez em prioridade de passagens, durante a mobilização dos EUA contra a Síria. Outro aspecto desta ajuda é o compromisso de compra de equipamentos militares norte-americanos, dentre eles os helicópteros Apaches, os aviões F-16 e os carros de combates M1A1 Abrams. Portanto, esta ajuda é um estímulo governamental à indústria de armas norte-americana,  envolvendo milhares de empregos locais.

Entre 1999 e 2005, Os EUA ofereceram ao Egito 7,3 bilhões de dólares em equipamentos militares acrescidos de outros 3,8 bilhões que o próprio Egito desembolsou de seu orçamento para a compra de equipamentos militares pesados, também da indústria norte americana. Os cortes norte-americanos desta ajuda militar poderão causar maiores danos estratégicos aos EUA e a Israel do que propriamente afetarem a economia egípcia, já no fundo do poço.

Descompromissar o Egito dos Acordos de Paz pode ser um duro golpe e uma reviravolta na onipotência dos Estados Unidos na Região. Os 13 bilhões de dólares injetados pela Arábia Saudita e aliados do Golfo logo após o fim do poder da Irmandade Muçulmana apontam que sempre haverá interesses geopolíticos nas decisões do alto comando do País. Ao mesmo tempo demonstra que profundas alterações da Sociedade Egípcia possam estar em fases de mudanças e que as revoluções de 25 de Janeiro de 2011 e de 30 de Junho de 2013 não surgiram apenas da profunda injustiça social que reina no país, mas de um levante moral de um gigante e secular líder árabe.

As ações dúbias dos EUA na região do Oriente Médio surgem com o fim da sua onipotência e da multipolaridade que o Mundo vem presenciando em específico na esfera militar e econômica. É preciso observar quais reações surgirão se realmente os EUA cortarem em parte ou em total a ajuda ao Egito.

É tempo de cautela.

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