Um acordo temporário com o Irã

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Moon of Alabama.

Há agora um acordo temporário entre os EUA (e coadjuvantes) e o Irã, sobre redução parcial nas sanções ilegais que os EUA mantêm contra o Irã, em troca de redução parcial nas atividades legais da indústria nuclear legal do Irã.  Desde março estão em curso negociações secretas[1] entre o governo de Obama e o Irã, para chegar ao que chegaram. Mas há dúvidas sobre se o acordo conseguirá realmente mudar alguma coisa. O ‘relato de fatos’ que a Casa Branca distribuiu[2] sobre o acordo é, como é típico, tendencioso.

Algumas ideias preliminares, para manter na cabeça:

– O acordo é válido por seis meses e é perfeitamente possível que, depois, não haja acordo permanente. O mais provável é que recomecem as animosidades de praxe, com novas ameaças de guerra, daqui a seis meses. Há muita gente que não quer acordo permanente, e farão de tudo para impedir que haja. Daqui a seis meses, quando os EUA pararem de cumprir o que se comprometeram a cumprir, culparão o Irã por ‘quebra de acordo’. Essa parte, no ‘relato de fatos’ da Casa Branca, é a parte decisiva:

“O grupo P5+1 compromete-se, especificamente a:

– Não impor novas sanções relacionadas à questão nuclear nos próximos seis meses, se o Irã cumprir os compromissos desse acordo, nos limites autorizados pelos sistemas políticos dos países.”

Traduzindo: o Congresso dos EUA tem meios para aumentar as sanções e quebrar qualquer acordo e isso, provavelmente, é o que fará.

– Acordo muito melhor, do ponto de vista dos EUA, poderia já ter sido assinado em 2003, 2005 e 2007.

– Por mais que a Casa Branca [e os ‘especialistas’ e jornalistas da rede Globo (NTs)] diga[3] que o acordo não reconhece “o direito do Irã a enriquecer [urânio]”, a verdade é que sim, o acordo reconhece esse direito. Vale lembrar também o que Kerry pensava e dizia sobre o assunto, há quatro anos:[4]

“John Kerry, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e indicado pelos Democratas à presidência em 2004, disse ao Financial Times em entrevista, que o Irã tem direito de enriquecer urânio – processo que pode produzir combustível nuclear e material para armas. Os EUA e as outras potências mundiais tem repetidamente exigido que Teerã suspenda o enriquecimento (…) “O argumento do governo Bush [contra o enriquecimento] foi ridículo (…), porque parecia irracional às pessoas,” disse o senador Kerry, citando o fato de que o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação. “[Bush fez] Diplomacia bombástica. Desperdiçou energias. E, pode-se dizer, endureceu a negociação” – acrescentou. “O Irã sempre teve direito à energia nuclear para finalidades pacíficas, e a enriquecer urânio para essa finalidade.”

– O acordo aconteceu agora e alguma coisa que aconteça depois do acordo de hoje só acontecerá, se acontecer, porque os EUA precisam mudar o foco de sua política externa, do Oriente Médio, para a Ásia. Por falta de recursos e de capacidades, os EUA só conseguirão fazer isso, depois de conseguirem, seja como for, estabelecer algum equilíbrio e alguma estabilidade no Oriente Médio.

Todas as questões em que os EUA estão metidos no Oriente Médio são, de uma ou de outra forma, influenciadas pelo Irã. Essa é uma evidência que já ninguém pode ignorar. O movimento de “pivô na direção da Ásia”, de que os EUA precisam muito para fazer frente à China, exige, antes, um movimento de “pivô na direção do Irã”.

– Deduz-se daí, diretamente, que há uma chance de que esse acordo leve a algum outro acordo que resolva a situação na Síria.

Tradução Vila Vudu. 

[1] http://backchannel.al-monitor.com/index.php/2013/11/7115/exclusive-burns-led-secret-us-back-channel-to-iran/ e http://m.apnews.com/ap/db_289563/contentdetail.htm?contentguid=t6SMOF8T

[2] http://iipdigital.usembassy.gov/st/english/texttrans/2013/11/20131124287798.html#axzz2laFrHWZ1

[3] https://twitter.com/WideAsleepNima/status/404473661412745216

[4] http://friday-lunch-club.blogspot.de/2009/06/john-kerry-iran-had-right-to-uranium.html

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