Por Assad Frangieh.
As mudanças políticas no Egito com a queda da Irmandade Muçulmana e um novo formato de Governo com alicerce nos militares e liberais, fez a Turquia perder sua terceira base de alianças regionais: primeiro foi na Síria com seu fracassado projeto de intervenção, depois em Gaza que passou à plena tutela do Qatar em seguida no Egito. A Turquia de Erdogan declarou em palavras e em fatos, suas intenções otomanas de ressuscitar sua liderança sobre o Mundo Islâmico em suas principais capitais, o Cairo, Damasco e Riad na Arábia Saudita. Por não ser de cultura árabe, optou pelo sectarismo islâmico sunita.
Depois da deposição de Mursi, o Governo de Ancara não poupou críticas aos novos governantes e ao Sheikh do Azhar. Persistiu numa campanha diplomática internacional na tentativa de desacreditar as mudanças do Egito, manteve sua mídia instigando a opinião pública, junto com a emissora Al-Jazeera do Qatar, na cobertura de qualquer manifestação da Irmandade Muçulmana, distribuindo slogans e palavras de ordem. Destacou a repressão da Polícia e do Exército sobre as manifestações violentas de ruas culpando o Governo como único responsável e gerando tensões com tradicionais aliados como a Arábia Saudita, Comunidade Europeia e os Estados Unidos que reconheceram o novo “status quo” do Egito.
Dois fatores recentes precipitarem a ação primeira do Cairo em dispensar o Embaixador Turco no País e reduzir o nível da representação diplomática, seguido naturalmente por uma reação igual do Governo de Ancara. A promoção de encontros de membros da oposição egípcia ligados à Irmandade Muçulmana em solo turco, ao estilo dos congressos da oposição síria em Istambul e, notícias jornalísticas que relatam que o Ministro do Exterior Ahmed Davut Oglu tentou dissuadir os russos de não ampliar a cooperação militar com os egípcios em sua mais recente visita a Moscou, acabaram sendo a gota d´água na ruptura diplomática entre os países.
Egípcios protestam contra a ameaça norte americana em bombardear a Síria.
Desde os anos 50 na época de Jamal Abdel Nasser e depois com Anuar Saddat e Hosni Mubarak, a Turquia nunca demonstrou simpatia pela liderança do Egito. Erdogan e Gül alegam que é uma questão de princípios democráticos e não afinidade ideológica com o movimento de Irmandade Muçulmana de cunho sectário e sunita. Fica difícil convencer que não se trata de intervenção e ingerência em assuntos internos de outros países.
Talvez o principal agravante que deteriorou o relacionamento bilateral e não destacado pela mídia, são as suspeitas de fornecimento de armas e munições em rotas marítimas de navios turcos até o Yemen e sua distribuição, inicialmente para a Jordânia com destino a Síria, mas com desvios para o Sudão, sul do Egito e as áreas rebeldes do Sinai.
Para quem faz um comparativo entre a política da Turquia na Síria e no Egito, há muitos pontos convergentes. A sorte do Egito é que o país não faz fronteira com a Turquia. Que bela sorte.