O que a mídia omite da Família Al-Assad 5

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Por Babel Hajjar.

“Gostaria muito de ir no ato, mostrar minha oposição ao que está ocorrendo e tirar algumas dúvidas sobre esse assunto. Porém, não poderei ir! Então, se possível, queria tirar minha dúvida aqui mesmo: pelo o que eu sei sobre a situação da Síria antes de começarem estes conflitos era que a família Assad está no poder desde a década de 1960 e não teve muita oposição ao seu governo desde então por conseguir articular uma certa harmonia entre cristão e muçulmanos daquele país na política, evitando conflitos entre eles e de certa forma “protegendo” os cristão, que são minoria lá. Queria saber se é isso mesmo e se, talvez, ele não estivesse “protegendo” uma minoria privilegiada, não sei.. Enfim, no geral mesmo queria saber como era o governo antes desse alarde todo da mídia.” Pergunta feita por Beatriz L. através do contato@orientemidia.org.

Esclarecimentos: Existem muitas versões na mídia, e a enorme maioria não resiste à verdade, de quem vive ou tem contato com pessoas da Síria hoje. É verdade que a família Al Assad está no poder desde o fim da década de 60. Hafez, pai do Bashar, governou até a morte, e seu governo deu representatividade a cerca de 30% da população não islâmica sunita da Síria, dentre eles os Alauitas (grupo étnico-religioso originalmente “pagão” que foi convertido ao islamismo), Drusos, Xiitas, e Cristãos Ortodoxos, Maronitas, Assiríacos, Melquitas entro outros. Hafez fez um governo duro que, se não era baseado nos princípios democráticos tão difundidos no Ocidente, visava primeiramente proteger as minorias – 30% da população, então nada insignificantes – de revoltas sectárias. Não sei se sabe, mas Síria, Iraque e Armênia viram, até o final do domínio turco na região (durante 500 anos, até início do séc XX) a intolerância do império otomano, de maioria sunita, dizimar cerca de 1,5 milhão de cristãos armênios e cerca de 600 mil cristãos assírios e babilônios, uma catástrofe humanitária só comparável ao Holocausto Judeu, e ambas só perdem para o extermínio das populações indígenas americanas no século XIV a XVIII, estimado em cerca de 20 milhões de vidas.

Portanto, a mão de ferro do governo visava a pacificação. Questionável? Talvez, se a política implementada no Oriente Médio após os turcos não fosse o colonialismo francês e inglês, que dividiu a nação árabe em protetorados que posteriormente instigaram a disputa por poder na região. Apesar desse histórico, Bashar é muito diferente do pai. Ele assume em 2001 como um reformista. Está a 13 anos no poder e muita coisa mudou. É mito que se diga que a maioria sunita não participa do governo. Os sunitas são a maioria do exército de Bashar. Se quisessem, por motivos sectários, se rebelar, engrandecendo a oposição síria, teriam tido a oportunidade ideal nesses quase 3 anos de luta contra a oposição. Porém, eles não são sunitas apenas, eles são sírios. E, como sírios, seu dever foi o de combater os invasores e defender os civis sírios, o que fizeram e ainda fazem de modo destemido. Os sunitas são comerciantes renomados nas principais cidades da Síria, e ministros da confiança de Bashar. A própria primeira-Dama é de origem sunita. Apesar do que a mídia prega, não há uma revolução sectária na Síria, há uma invasão.

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Na foto sentados o presidente Hafez Al Assad e esposa Anissa Makhlouf. De pé pela esquerda – Maher (caçula, atualmente comandante no Exército Sírio), Bashar (2º filho, atual Presidente), Bassel (1º filho, morto em acidente de carro), Majed (3º filho, falecido de câncer aos 30 anos) e Bushra, sua única filha.

Bashar também, à diferença do pai, promoveu uma abertura política. Partidos antes proibidos na Síria, hoje fazem parte do governo, em posição de ministério. Há um governo de coalizão. Óbvio que isso não significa que tudo é um mar de rosas. Existem reivindicações e existiram manifestações pacíficas. Existe uma truculência herdada da era Hafez, uma máquina de informações, e a liberdade de imprensa é uma luta diária de quem quer se expor. Mas isso é decorrência de uma cultura militar arraigada, onde o inimigo está a poucos quilômetros de distância e é armado até os dentes pela maior potência do mundo, me refiro obviamente a Israel e EUA. E a resposta síria tem que ser rápida. Mas o caminho da reforma não tem mais volta. Há na síria desde o ano passado uma nova constituição, e a expectativa de eleições diretas para presidente em 2014. Vale lembrar que a eleição direta para o parlamento já é uma realidade, de forma análoga ao que ocorre nos EUA.

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Assma Faouwaz Al-Akhrass Al-Assad – 1ª dama da Síria

Existe porém, uma diferença fundamental na Síria. A Síria é um país laico. Sua população é nacionalista, se considera Síria. Até mesmo os Curdos, que são um povo que deseja a independência tanto no Iraque quanto na Turquia, na Síria eles reivindicam seus direitos preservados, sua terra e querem ser vistos como cidadãos sírios.

A Síria combate hoje uma invasão estrangeira. Embora haja pessoas sírias que pegaram em armas contra o governo, são minoria. Muitos dessa minoria se arrependeram de terem aberto suas casas e vilas para jihadistas estupradores, assassinos de mulheres crianças e velhos. O “Exército Sírio Livre” não passa de um nome atribuído a grupos de mercenários financiados externamente com o objetivo de depor o governo atual, Laico, e subir um governo sectário como o da Arábia Saudita, do Catar e outros.

Espero ter esclarecido.

Babel Hajjar é brasileiro filho (com muito orgulho) de Sírios e membro do GT Árabe.

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5 thoughts on “O que a mídia omite da Família Al-Assad

  1. Responder Vladimir Platilha set 14,2013 10:13

    A família Al Assad transformou a Síria em um país moderno e progressistas,possui o melhor índice de IDH do oriente médio, isto incomoda muito os imperialistas americanos e os seus lacaios sionistas,e os mercenários que brutalmente agridem
    o povo sírio.A vitória sera do povo e do seu governo,que através do partido Baath,destruíram todos os fascistas e reacionários que lutam contra o povo sírio.

  2. Responder eduardo sarkis set 14,2013 12:27

    Após esse período de turbulência a Síria emergira vitoriosa e ainda será respeitada e um exemplo pra toda a região.

  3. Responder Pedro Gabriel set 15,2013 1:43

    Maravilhoso! Estou aprendendo muito sobre a cultura e os povos árabes. Nunca gostei da forma com que a mídia brasileira dá notícias do mundo árabe sempre frisando um aspecto religioso quando na verdade, há muito mais conflitos ideológicos e políticos – como ocorrem em qualquer lugar do mundo; mas, infelizmente, o preconceito herdado da “Guerra Santa” (sic) ainda permanece.

    Obrigado Babel e obrigado Claude Hajjar pela indicação.

    • Responder FRANCESCVS ANTI-ZION dez 31,2022 17:16

      A guerra Santa não tem nada a ver com isso. O reino católico de jerusalém tinha Judeus, muçulmanos e católicos!

  4. Responder Boutros set 16,2013 10:05

    Bashar é alauíta; no artigo tem erros de português, por favor corrija, porque o artigo é muito certo e muito bom, muito esclarecedor. E não há como não falar em religião, a motivação islâmica dos malucos é religiosa ditatorial, como a de estálin era ateia ditatorial. Os americanos não valem nada, mas o inimigo de Assad está lá dentro mesmo.

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