Entrevista sobre o livro ” Sob nossos olhos. do 11 de Setembro a Donald Trump” de Thierry Meyssan

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Por ocasião da publicação do seu livro, “Sous nos Yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump“, Thierry Meyssan concedeu esta entrevista via Internet.

Rede Voltaire | Damasco (Síria) | 20 de Março de 2017

Rede Voltaire: Thierry Meyssan, o seu novo livro “Sous nos yeux.Du 11-Septembre à Donald Trump” acaba de ser lançado, 10 anos após o anterior. Qual é o assunto, e porque esperou tanto tempo?

Sous nos Yeux

Thierry Meyssan: Há dezasseis anos, denunciei o golpe de Estado de 11 de Setembro. O que antecipei na época aconteceu: os responsáveis por esta operação estabeleceram um Estado de emergência permanente nos Estados Unidos e embarcaram numa série de guerras imperialistas. Muitas pessoas retiveram apenas a curta passagem sobre o bombardeamento do Pentágono, mas é um livro de ciência política que deveria ter sido levado mais a sério.

Eu não entendo quando me perguntam se ainda acredito no que escrevi em 2002: eu vejo todos os dias o que escrevi . A ciência política é uma ciência empírica; só se pode distinguir entre hipóteses, as que são verdadeiras das falsas, pelas suas consequências. E o tempo mostrou que eu estava certo.

A França está no estado de emergência há mais de um ano, enquanto as guerras devastam o Médio Oriente Alargado e já mataram mais de 3 milhões de pessoas. Estão em vias de transbordar para a Europa com fluxos migratórios e ataques terroristas. No “Sous nos yeux“, eu quis voltar ao seu planeamento. Explicar quem decidiu, porquê e como. Os ocidentais abordam esse fenómeno sequencialmente. Para eles, em geral, não há conexão entre o que aconteceu no Afeganistão, Iraque, Tunísia, Egipto, Líbia, Iémene e Síria. Todos esses povos aspiraram à democracia, mas nenhum foi capaz de a estabelecer. Por trás dessas aparências descontínuas, há um plano geral que atingiu primeiro  o Oriente Médio alargado e agora estende-se para o Ocidente.

Rede Voltaire: Na verdade, o seu livro aparece no momento em que a expressão “pós-verdade” está particularmente em voga nos meios de comunicação, (para denunciar exclusivamente a pseudo propaganda da Rússia de Putin e as supostas mentiras de Trump).

E onde o “Atlantist Reverence Journal” se auto-proclama como uma espécie de MiniVer (Ministério da Verdade) com seu inefável Decodex (instrumento para ajudar a verificar as informações que circulam na Internet e denunciar  os rumores, exageros ou deformações -Ndt) … Seu trabalho mostra o quanto os valores estão invertidos e como vivemos mais do que nunca num mundo que se torna realmente num mundo Orwelliano. Ainda há esperança?

Thierry Meyssan: No Ocidente, com a campanha contra Trump, estamos apenas a entrar na primeira fase da própria propaganda. Porque esta é a primeira vez que o sistema ataca a Presidência que afirmou ser suprema. Nesta ocasião, há uma contradição entre as técnicas das “relações públicas” e  da “propaganda”. Na verdade, Donald Trump é um especialista da primeira mas vítima da última.

Uma das características da propaganda é substituir o espírito crítico. Quando andávamos na escola, não pensávamos que um texto tivesse mais valor dependendo do autor, mas de acordo com seu conteúdo. Aprendemos a lê-lo criticamente. A democracia baseia-se neste princípio: devemos prestar a mesma atenção ao que cada cidadão diz, enquanto o antigo regime validou apenas a voz da nobreza e do clero (jornalistas e políticos de hoje).

O Decodex faz exactamente o oposto. Dependendo de seu autor, descreve a priori um artigo como certo ou errado. É intelectualmente estúpido e profundamente antidemocrático.

Não lhe escapou que o Decodex está ao mesmo tempo ligado ao Media Agreement  criado por uma misteriosa ONG, First Drafte ao Estado-Maior da União Europeia. De facto, o Le Monde, que tomou esta iniciativa como sua, está longe de poder afirmar ser um mero órgão de imprensa. E para responder à sua pergunta, como na Segunda Guerra Mundial, não há esperança nos media em geral, mas há esperança enquanto pudermos resistir.

Rede Voltaire: O uso intensivo da propaganda para vender uma guerra não é certamente uma novidade, mas com a Líbia e a Síria, tem-se a impressão de se ter atingido picos, níveis raramente alcançados, excepto no auge da Primeira Guerra Mundial, como Patrick Cockburn, entre outros, recentemente assinalou no «CounterPunch».

Thierry Meyssan: Sim, mas essa comparação é válida apenas para o Reino Unido (ou, mais exactamente, para a sua metrópole) e para os Estados Unidos cujo território não foi afectado pela guerra e tinha o controle sobre a propaganda moderna. Na época, nem a Rússia, nem a Alemanha, nem a França conheciam essas técnicas.

A primeira novidade é o lugar que o sector audiovisual de hoje ocupa e usa, mais frequente do que se pensa,  imagens de ficção apresentadas pelos noticiários televisivos como relatos autênticos. Penso, por exemplo, nas  sequências da “pseudo revolução” verde no Irão ou em outras na apelidada chegada dos rebeldes à Praça Verde de Tripoli na Líbia. Esta mistura de ficção e verdade triunfou com o prémio de Hollywood dado por um documentário à Al-Qaeda pela sua montagem dos Capacetes Brancos em Alepo.

A segunda novidade é a criação de uma coordenação internacional entre os governos aliados para creditarem a sua propaganda. Isto começou com o Escritório de Comunicações Globais da Casa Branca e Downing Street. Hoje, é a «StratCom Task Force» da União Europeia e o Centro de Comunicação Estratégica da NATO.

Rede Voltaire: Todo mundo sabe que “em tempos de guerra, a verdade é a primeira vítima”, todos têm na memória pelo menos algumas manipulações e mentiras retransmitidas por unanimidade pela imprensa no passado. E, no entanto, todos se apaixonam por isso de novo e de novo! Às vezes tem-se a impressão de que “quanto maior a mentira, mais se acredita”: enquanto a maioria dos meios de comunicação falam sobre isso. Mas os jornalistas (e políticos) não são todos estúpidos ou vendidos: como explicar essa cegueira colectiva, esse transe consensual dos media e políticos?

Thierry Meyssan: A imprensa mudou dramaticamente nos últimos anos. O número de jornalistas nos Estados Unidos diminuiu em dois terços desde o 11 de Setembro. Na verdade, quase não há jornalistas, mas sim muitos editores que adaptam os despachos de agências de diferentes públicos. Não é de todo o mesmo.

Além disso, o mercantilismo prevaleceu em grande parte sobre a preocupação de informar. Violar a Carta de Munique, que estabelece os direitos e deveres dos jornalistas, tornou-se prática diária para a maioria deles sem provocar a menor desaprovação da profissão ou do público.

Por exemplo, ninguém protesta quando a imprensa divulga as contas de um banco ou de um escritório de advocacia, aparentemente para expulsar os defraudadores. Ou quando um jornal publica uma transcrição literal abrangida por uma proibição judicial de publicação, supostamente para revelar a depravação do acusado, mas o que dizer sobre a confidencialidade destas profissões?

Você realmente quer que a imprensa divulgue as suas interacções bancários e registos de divórcio? Deseja ser designado como culpado  depois de  questionado por um magistrado? Então, porque é que o aceita quando se trata de pessoas conhecidas?

Finalmente, a imprensa e seus leitores em geral já não procuram entender o mundo e tornaram-se maus. Há vinte anos, os meus leitores escreveram a censurar-me por criticar tal e tal sem mencionar seus méritos. Hoje é o oposto, eles censuram por pagar tributo a uma pessoa ou outra sem mencionar as suas falhas.

É porque aceitámos esta deriva, tornámo-nos crédulos e não o contrário. Os políticos adoptaram o nosso comportamento colectivo. Por exemplo, quando perguntaram ao Presidente Hollande o porquê de ter tomado uma decisão em política externa, ele respondeu que tinha que reagir  às expectativas da imprensa. Ou seja, ele não define a sua política depois de ser informado pelo seu governo e de ter discutido com seus conselheiros, mas sim ao ler o jornal.

Chegamos a um sistema circular: os jornalistas seguem os políticos que seguem os jornalistas. Ninguém tem controle sobre a realidade.

Rede Voltaire: Muitas obras abordam a “Primavera Árabe”, quase todas elas oferecem uma leitura simplista dos eventos como o desdobramento espontâneo (o famoso “vento da liberdade” que varre os ditadores do poder), que faz lembrar as visões parisienses românticas, até ingénuas, da Revolução Francesa. Neste contexto, o seu livro é surpreendente. Como é que a sua análise é justificada, ou, de outra forma, porque não é a pura e simples “teoria da conspiração”?

Thierry Meyssan: Primeiro, durante a Revolução Francesa, a traição do rei  foi procurar exércitos estrangeiros para suprimir seu povo. Ele foi, portanto, demitido. Mas em nenhum dos sete países onde a Primavera Árabe ocorreu o Chefe de Estado foi demitido pelo seu povo. Estranho não é?

Em segundo lugar, temos muitos testemunhos e vários documentos que atestam a preparação destes eventos pelos anglo-saxões desde 2004. Uma vez que existe sempre uma discrepância entre o momento da tomada de decisão, o posicionamento das equipes necessárias e a concretização do projecto, e uma vez que não temos memória, ficamos surpresos com o que nos foi anteriormente anunciado.

Não me entenda mal: houve movimentos de protesto em cada um desses países, mas em nenhum caso foi uma revolução voltada para derrubar o chefe de Estado e democratizar a sociedade. Projectamos as nossas fantasias em eventos que são de uma natureza diferente.

A “Primavera Árabe” é apenas a reedição da “Grande Revolta Árabe de 1916”: um movimento que na época todos acreditaram. Hoje, todos os historiadores concordam que foi inteiramente concebida e manipulada pelos britânicos. Excepto que desta vez não existe uma figura romântica como Lawrence da Arábia que acredite nas promessas dos seus superiores em Londres. Tudo isto foi conduzido com cinismo perfeito.

Rede Voltaire: Thierry Meyssan, aqueles que o seguem  e lêem, regularmente sabem que é um homem de paz. Você tem estado presente no campo dos conflitos há mais de 6 anos, seus olhos e suas análises são valiosas e merecem pelo menos ser ouvidas. No entanto, diz-nos como foi um actor em eventos (Síria, Líbia, Irão e Rússia), daí a seguinte pergunta: sem querer acusá-lo de ser “o amigo dos mulás e dos piores ditadores” – o que seria simplesmente estúpido – podemos legitimamente pensar que a sua luta contra o imperialismo cega-o? Que você não é “objectivo”? ou que você por outro lado é permeável à propaganda?

Thierry Meyssan: Eu questiono-me sobre isso todos os dias, e espero que você também, e quem vive do outro lado da fronteira, também se questione. Onde quer que se viva, somos sempre influenciados pelo ambiente. A sua situação na Europa não é melhor do que a minha aqui. Cada um de nós tem de se esforçar para ser objectivo. Não é espontâneo. Num conflito, devemos procurar entender como os nossos adversários analisam as  situações. Não lutar  contra eles, mas para eventualmente nos aproximarmos deles.

Dito isto, e sabendo que a responsabilidade política é sempre escolher a solução menos ruim, eu não afirmo ter servido os santos, mas o melhor. Foi por isso que eu não servi George W. Bush ou Barack Obama, que destruíram o Médio Oriente Alargado, nem Nicolas Sarkozy que destruiu a Líbia, nem François Hollande que destruiu a Síria.

Pelo contrário, servi Hugo Chávez, que tirou seu povo do analfabetismo, Mahmoud Ahmadinejad, que industrializou o Irão, Muammar Kadafi, que pôs fim à escravidão na Líbia e Bashar al-Assad que salvou a República Árabe Síria das hordas dos jihadistas. Eu nunca fui convidado a fazer algo que me envergonhasse e se me pedissem, eu não o faria.

Rede Voltaire: Muito do que você escreve é radicalmente diferente da narração actual no Ocidente. Como é isso possível ?

Thierry Meyssan: Não há regimes autoritários no Ocidente, mas a propaganda está lá diariamente. Não é imposto de cima, mas esperado em baixo. Só triunfa porque não queremos conhecer a verdade; porque nós não queremos saber os crimes que são cometidos em nosso nome. Somos como as avestruzes que enterram as suas cabeças na areia. A melhor prova do que eu digo é a campanha eleitoral presidencial na França. Até à data, praticamente nenhum dos principais candidatos delineou o que faria como presidente. Todos eles explicam o que o seu primeiro-ministro deveria fazer em questões económicas, mas nenhum ousa falar da responsabilidade presidencial que aspiram: a política externa e a defesa da Pátria. Na era da globalização, é simplesmente impossível alcançar resultados económicos sem primeiro reposicionar o país na cena internacional. Mas poucos se atrevem a analisar as relações internacionais, tornaram-se tabu.

Rede Voltaire: Os ataques terroristas nos dois últimos anos do Daech e Al Qaeda na França, mudaram o discurso dos média, especialmente após a carnificina de 13 de Novembro em Paris. De repente, os media aqui e ali, estão a dar um pouco de eco às vozes dissonantes – até agora inaudíveis – que questionam os méritos da política francesa na Líbia e Síria, e também as relações especiais e privilegiadas que  os nossos líderes tiveram com o Catar e Arábia Saudita. E então,  rapidamente regressamos ao estado antes da guerra, “Bashar”, o carrasco tem de sair …

Thierry Meyssan: Novamente está a ver as coisas ao contrário. O director-geral de Segurança Interna, Patrick Calvar, disse numa comissão parlamentar que sabia quem tinha patrocinado esses ataques, mas que não o iria dizer. Na verdade, não faz parte do seu trabalho dizê-lo, mas é o trabalho do Presidente da República, François Hollande.

Como explico no livro, Alain Juppé e François Hollande assumiram compromissos internacionais secretos que não podiam manter. Recep Tayyip Erdoğan defraudado, patrocinou esse ataque e o de Bruxelas, os quais felicitou com antecedência. Estas duas operações foram realizadas por comandos separados, com excepção de Mohamed Abrini do MI6 britânico que participou em ambos.

Os nossos sucessivos governos tomaram decisões desprezíveis que não se atrevem a admitir. Já referi esta posição nos meus artigos, mas de uma forma dissimulada. Esta situação não pode continuar. Não posso suportar  mais ver  os nossos compatriotas a morrerem no Bataclan e no terraço dos cafés.  Eu escrevi este livro para desempacotar a roupa suja, toda a roupa suja, para que possamos mudar.

Rede Voltaire: Com este livro, você faz com que mergulhemos de volta a um passado, contudo  próximo e que parecia ter acabado: estou a pensar em particular no discurso inflamado de paz de Dominique de Villepin na ONU em 2003 e da intervenção militar ilegal contra a Líbia em 2011. Como pode a França ver em tão pouco tempo (8 anos), o triunfo total entre as nossas “elites”,  das teses neoconservadoras norte-americanas e as suas profecias auto-realizáveis de “choque de civilizações” e “guerra sem fim contra o terrorismo”?

Thierry Meyssan: Primeiro de tudo, na minha opinião, não há nenhuma profecia: o “choque de civilizações” e a “guerra ao terror” nunca existiram. Há apenas uma guerra de um império e seus aliados contra os povos do Grande Oriente Médio e a Bacia do Donets.  A novidade é que o Império não é mais governado pela Casa Branca, mas por um estado profundo, dos quais identificámos vários  líderes.

Rede Voltaire: Sobre este assunto, você faz uma diferença notável entre as presidenciais de Sarkozy e Holand,  o segundo reacendeu a guerra na Síria e o primeiro certamente que a começou mas  estava a preparar-se para retirar …

Thierry Meyssan: Sim, embora o Presidente Sarkozy se tenha retirado com sabedoria do conflito sírio, anteriormente continuou a luta contra a Costa do Marfim e Líbia até aos seus limites. Mas o mais importante está noutro lugar. Os governos de Sarkozy estavam divididos sobre a participação francesa no plano britânico da “Primavera Árabe”.

Devemos, portanto, prestar homenagem aos que convenceram o Presidente Sarkozy a fazer a paz. Foi quando as coisas se complicaram: Eles foram quase todos punidos pelo Sistema. Enquanto Alain Juppé é elogiado pelos media, o Perfeito Édouard Lacroix foi fisicamente eliminado, Claude Guéant foi condenado à prisão, Bernard Squarcini e François Fillon foram processados. Somente Gérard Longuet saiu bem. Entenda que este tipo de exemplo esfriou todos aqueles que poderiam hoje pôr fim à guerra.

Rede Voltaire: O seu livro abre com a seguinte resolução das Nações Unidas: “Todos os Estados devem abster-se de organizar, assistir, fomentar, financiar, encorajar ou tolerar actividades armadas subversivas ou terroristas destinadas a mudar pela violência o regime de outro Estado e a intervir em lutas internas de outro Estado“.  Esta lembrança pertinente da fundação do Direito Internacional parece ser completamente ignorada pela maioria de nossos líderes políticos, jornalistas e pelos media que retransmitem as suas palavras sem as questionar. (e pelos cidadãos tb – Ndt)

Thierry Meyssan: Esta citação é tirada da resolução que detalha o significado da Carta da ONU. Este é um texto de referência que, obviamente, todos os diplomatas e jornalistas especializados estudaram. Esquecer isto, indica que não há mais a intenção de defender os princípios do direito internacional. Vivemos agora num mundo hipócrita, onde os líderes políticos e as autoridades das Nações Unidas reivindicam a Carta como a sua, mas estão constantemente a violá-la. Como mostro detalhadamente no livro, as guerras actuais no Oriente Médio e na Bacia do Donets, são executadas politicamente e logisticamente pela ONU, através da mão do seu segundo homem da organização, Jeffrey Feltman.

Rede Voltaire: Neste livro, ao contrário dos anteriores, decidiu não fazer referência às suas observações e não usar  notas. Porquê essa escolha, que expõe o seu flanco a todas as acusações de fabricação que não deixarão de ser feitas contra você? É uma aposta na inteligência dos leitores?

Thierry Meyssan: Em 2002, no The Big Lie  (sobre o 11 de Setembro), citei fontes oficiais na Internet. Tal estava em voga na época. Além disso, poucas pessoas tinham acesso à Internet. Fui criticado por não confiar na única fonte séria: o papel. Em 2007, no The Big Lie 2 (sobre a guerra que acabara de acontecer contra o Líbano), eu citei centenas de despachos de agências e relatórios oficiais. Neste caso, como ninguém me poderia censurar, a imprensa ignorou o livro. Desta vez não dei nenhuma referência. As pessoas que estou a desafiar  talvez neguem e me acusem de inventar a história. Se eles querem desempacotar em público, estou pronto para lhes responder.

Você sabe, entre 2002, 2007 e 2017, eu vivi muito, aprendi muito e amadureci muito. Ninguém na França participou dos eventos como eu.

Rede Voltaire: Há 10 anos, o seu livro The Big Lie 2: Manipulations and Misinformation não foi objecto de qualquer revisão pelos media. De fato, a sua imagem tinha sido tão denegrida que as editoras – também vítimas de propaganda – receberam-no com relutância, não colocaram o livro de forma visível (como qualquer obra nova de um autor de sucesso), geralmente o esconderam nas prateleiras, ou mesmo nos armazéns. No entanto, vendeu-se muito bem. Dado o clima de quase histeria que rodeia “Bashar”, Putin e Trump, é óbvio que este não será melhor recebido: podemos ser optimistas sobre o sucesso de sua divulgação?

Thierry Meyssan: Os tempos são diferentes. Há alguns anos atrás, quase todos acreditávamos em qualquer coisa, desde que fosse coberto pelo Le Monde. Hoje, a maioria questiona as contradições da retórica correcta.

Por exemplo, assumindo que a Al Qaeda é um grupo de militantes anti-ocidentais que cometeram os ataques de 11 de Setembro, como é que foi exigido que o general Carter Ham (comandante do AFRICOM) desse apoio à al-Qaeda na Líbia – facto que provocou o seu protesto e o fim da sua missão?

Porque é que Laurent Fabius apoiou os estados árabes, segundo os quais a Al-Qaeda “está a fazer um bom trabalho” na Síria? Por que a França enviou munições para a Al-Qaeda na Síria?

Podemos esperar, então, que individualmente, um após o outro, os franceses em geral – e as editoras também – reconsiderem o que pensavam saber desde o início dos acontecimentos. Se, na aparência, os factos são inconsistentes, em que nível está a lógica deles?

Rede Voltaire: Thierry Meyssan, obrigado pelo seu tempo e muito mais por este extraordinário livro que convido seus leitores a descobrir e a partilhar o mais amplamente possível. Uma palavra final para concluir?

Thierry Meyssan: Agora, todos devem  posicionar-se diante do que começou no Oriente Médio alargado. Começou em países distantes, mas agora está a acontecer em casa. Os ataques, por um lado, e a propaganda de guerra, por outro, já lá estão. Se recusarmos ver a verdade, seremos esmagados pelas forças com as quais continuamos a nos aliar. Quanto mais esperarmos, mais difícil será defender a nossa liberdade, aqui em casa. fonte

 

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