Copa do Mundo: Algumas reflexões sobre o Qatar

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5 curiosidades sobre a Copa do Mundo de 2022 que você provavelmente não sabia – Metro World News BrasilPor Babel Hajjar
Alguns pensamentos sobre o Qatar: eu tenho sérias razões para aprovar um boicote ao Qatar e outras monarquias absolutistas do golfo, mas não só por causa da Copa do mundo, da bebida, da comunidade LGBT+ e dos trabalhadores mortos. Há motivos anteriores, e estes criminalizam também os parceiros históricos do Qatar, que agora lhe apontam o dedo.
1) A primeira coisa que você tem que saber sobre o Qatar é que ele era protetorado britânico até 1971. O rei do Qatar foi um dos poucos a estarem presentes no funeral da Rainha Elizabeth. Qatar e Reino Unido são unha e carne, independentemente de abusos de direitos humanos. Curiosamente, ninguém se levanta contra o fato de o Qatar ser uma monarquia na qual o monarca tem poder real, como ocorre em maior ou menor grau em outras monarquias do golfo, todas apoiadas pelo ocidente: zero democracia e sim abusos de direitos humanos… mas ninguém fala quase nada, são protegidos pela mídia hegemônica porque são os guardiães do petróleo, motor do “progresso” ocidental. Só agora na copa você ficou sabendo disso? Há países campeões em igualdade e bom-mocismo e pensamento verde – como a Finlândia – tentando trocar o fornecimento do combustível vil do vizinho vil Rússia – uma república, com todos os defeitos que possa ter – pelo combustível ainda mais vil de uma MONARQUIA ABSOLUTISTA, a Arabia Saudita, onde até ontem mulheres não podiam dirigir e não sei se já podem andar de bicicleta. Hipocrisias de uma crise fabricada.
2) O rei do Qatar financia o Brookings Institute, um think tank acadêmico que forneceu base teórica para o chamado “islã político”, um islã similar ao da Turquia (!) altamente propagado pelos EUA de Obama e Biden como “possível de se trabalhar conjuntamente” e que no final liderou todas as “Primaveras Árabes”, na forma da Irmandade Muçulmana. Se indignação, defendida por intelectuais europeus para explicar as “primaveras”, criasse por si revoltas, o mundo estaria completamente em chamas, e não somente com uma guerra ou outra. Revolta organizada precisa de liderança, objetivo, estratégia e tática.
3) O Qatar foi um dos grandes apoiadores dos terroristas – os “rebeldes moderados” de Obama – suportados pelo ocidente que invadiram e destruíram a Síria, matando centenas de milhares e deslocando milhões de pessoas, e que a mídia vendeu como revolta legítima do povo sírio. Balela. Na empreitada assassina estavam OTAN e um grupo chamado de Conselho de Cooperação do Golfo, especialmente EUA, França, Reino Unido, Turquia, Israel, Arabia Saudita, Jordania…e o Qatar.
4) O Qatar explora o campo de gás e petróleo South Pars em parceira com o Irã e é grande fornecedor de combustível para a China. Aliás a China é o nome por trás das obras da copa do mundo em 2022. China e Irã são parcerias que o ocidente desaprova – quando não pode controlá-las. Talvez isso ajude a explicar o porquê do Qatar ser alvo agora. O Qatar, com sua proximidade com China e sua presença na Europa especialmente pelas mãos do Reino Unido, mas não somente, pode viabilizar projetos que reduzem a relevância dos EUA para os europeus. Muitas análises colocam a guerra na Ucrânia como uma ação para reduzir essa mesma influência pela tentativa de quebrar a parceria entre China e Rússia, Rússia e Alemanha, Rússia China e França, etc.
5) Whataboutism é a ideia de que um tópico propagado pela midia não pode ser atravessado por questionamentos. Este é um conceito interessante, pois criminaliza e invisibiliza indignados que não interessam, como as atrocidades contra direitos humanos cometidas por outras monarquias absolutistas do golfo, como a Arábia Saudita, ou repúblicas teocráticas, como Israel. Invisibiliza também recentes ataques conduzidos por Turquia e Israel na Síria.
6) Outro tópico interessante é a ideia orientalista de se atrelar restrição de liberdades civis ao islã. O Qatar foi apoiado para ser um país retrógrado em costumes, e o islã funcionou como desculpa de uma monarquia feudal para fazer valer certas restrições. Mas o islã não pode ser reduzido ao islã praticado no Qatar ou na Arábia Saudita. Há outras prática e entendimentos. Impor uma compreensão ocidental sobre certos tópicos é universalizar um entendimento. Se você entende o que é apropriação cultural e aculturação, não se pode impor à bala uma mudança de costumes, mas esta deve ser conduzida diatopicamente como nos ensina Boaventura de Souza Santos: o entendimento do direto e do costume de duas culturas deve ser costurado, amalgamado e não imposto.
Fonte: Facebook
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