Aleppo – o que esperar para 2017? 1

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Após a derrota dos rebeldes na cidade de Aleppo, muitos se perguntaram: “E agora?”. Uma resposta comum é “Idlib”. Embora isso soe lógico, o Exército Árabe Sírio (EAS) terá que investir muitos recursos na operação que aponta para o coração dos rebeldes.  Além disso, as forças do Escudo de Eufrates, apoiadas pela Turquia e o Estado islâmico continuam ameaçando a cidade de Aleppo desde o Leste, enquanto a coalizão Jaysh al-Fateh ameaça a cidade do Oeste e do Sul.

Esta série de artigos irá focar vários cenários possíveis que restabelecer o equilíbrio militar na província de Aleppo (Figura 1). Devemos ter em mente que a maioria das posições na frente de batalha foram determinadas com imagens de satélite recentes.

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Figura 1. Situação militar na província de 

Sul de Aleppo: quebrar o cerco

Desde a queda de Idlib, em março de 2015, os povoados xiitas de Fua e Kafarya estão sitiados pela coalizão islamita Jaysh al-Fateh. Embora o governo seja capaz de fornecer suprimentos às aldeias pelo ar e alguns feridos foram evacuados após um acordo com os islamitas, a situação destas cidades continua a ser crítica. Imagine que destino terão as pessoas das aldeias se as hordas islâmicas conseguirem adentrar nelas. Basta olhar para as imagens da queima de ônibus no domingo.

 

Os atacantes ameaçam queimar e matar todos aqueles que tentam entrar ou sair das aldeias.

 

Enquanto eu escrevo estas palavras, milícias xiitas presentes na Síria estão preparando um último impulso para romper o cerco a estes povados e pôr fim ao sofrimento dos seus habitantes.

 

O EAS e seus aliados xiitas conseguiram criar uma “zona tampão” com sua campanha no Sul de Alepo ao fim de 2015. 
Em um rápido colapso das defesas dos militantes islâmicos, o EAS conseguiu avançar até os povoados de Al-Hader e Al-Eis e estabelecer o controle de fogo na estratégica estrada M5.
Infelizmente, a contra-ofensiva dos militantes levou à perda de Al-Eis e uma parte importante da planície de Qinnasrin (Figura 2).
Figura 2 – Situação militar na frente em Al-Hader e as vilas sitiadas de Fua y Kafraya.

Quando a operação militar em Aleppo oriental estava em pleno andamento, já foi relatado que as milícias xiitas, incluindo o Hezbollah libanês, estavam se preparando para uma grande ofensiva para romper o cerco de Fua e Kafarya.

É muito provável que o eixo principal do ataque va desde Al-Hader para Al-Eis, continuando para o Oeste, para Kafr Halab.

Estas aldeias situam-se em um cume com vista para a área circundante e, portanto, são muito importantes para a ofensiva. Além disso, para ter um amplo corredor, a parte norte da planície de Qinnasrin deve ser tomada dos militantes.

Também é muito provável que um outro grupo ofensivo se desloque para o eixo sul: empurrando para Tel Bajir e Huwayr al-Eis.

A partir daqui, o EAS e seus aliados podem atacar pelo Oeste em direção ao Sheik Ahmad e entrar em posição para romper o cerco desde o Oeste (Figura 3).

Figura 3 – Primeira fase da ofensiva para romper o cerco.

Com as terras altas de Kafr Halab e a auto-estrada M5 sob controle, a próxima fase seria romper o cerco e começar a formar um amplo corredor que pode atuar como linha de abastecimento (Figura 4).

Figura 4 – Segunda fase da ofensiva, romper o cerco.

Todas as vilas e cidades (provavelmente com exceção de Idlib) que são diretamente adjacentes a Fua e Kafarya precisam ser tomadas para ser retiradas da linha de fogo dos rebeldes.

A criação desta “zona tampão” vai ser a fase final da operação, com o propósito de garantir as antigas vilas sitiadas e criar uma área de preparação das futuras operações na governadoria de Idlib (Figura 5).

Figura 5 – Fase final da ofensiva, a “zona tampão” é estabelecida.

Enquanto esta ofensiva parece viável no papel, há muitos fatores que podem dificultar esta operação.

Primeiro, a maioria das forças envolvidas em quebrar o cerco são as milícias xiitas. É a gota de sangue no mar que os tubarões de al-Qaeda estão esperando.

O que vamos ver é uma pequena guerra religiosa que provocará um grande número de vítimas. Além disso, as milícias xiitas estariam se movendo para o coração do território ocupado pelos rebeldes.

Se eles quebram o cerco, eles vão estar às portas da fortaleza de al-Qaeda, a cidade de Idlib, ameaçando o centro deste reduto rebelde.

Além disso, quando a ofensiva comece, é muito provável que as forças que cercam Kafarya e Fua tentem tomar ambas as vilas. Este eventual massacre pode levar a retaliação por parte das milícias xiitas ou o cancelamento de toda a operação (ou ambos).

Linha de abastecimento

Um dos pontos fracos de toda a frente de Aleppo é a sua linha de fornecimento vulnerável (Figura 6). Nos últimos anos, temos visto inúmeras tentativas por parte da oposição armada e as forças do Estado Islâmico de interromper o fluxo de suprimentos de e para a cidade de Aleppo. Logo após a captura de Aleppo-Oeste, militantes anunciaram uma ofensiva para atacar a linha de abastecimento de Aleppo. Ao Sul de Khanaser, encontramos principalmente deserto aberto e provavelmente não seja a área que desejem capturar. É mais provável que um ataque ocorra entre a Base de Pesquisa Militar e Khanaser, com uma área elevada com vista a oeste da linha de abastecimento.

Figura 6 – A linha de fornecimento vulnerável da cidade de Aleppo.

Para enfrentar (futuros) ataques como estes, o Exército Árabe Sírio e seus aliados deveriam tentar estender a “zona tampão” ao longo da linha de abastecimento. De preferência contra os rebeldes e o Estado islâmico, mas como este último ocupa principalmente o deserto aberto, é menos preocupante. A solução final seria capturar o eixo Tell Azzan, Tell al-Daman, Nawwarah, Khanaser em um movimento de pinça (Figura 7).

Leith Fadel | Al-Masdar News

Seria criado um bolsão que pode ser fácil de limpar ou fornecer um acordo de reconciliação. Isto não só irá eliminar a ameaça contra as fábricas de defesa de Safirah e a Base de Pesquisa, mas também ajudaria a criar rotas alternativas para a cidade de Aleppo (Figura 8).


Figura 8 – Uma grande ameaça seria eliminada para o abastecimento de Aleppo.

Com a captura deste eixo, uma nova área de preparação seria estabelecido para capturar a base aérea estratégica Abu al-Dhuhr (Figura 9). Isto irá fornecer oportunidades para criar novas linhas de abastecimento para a cidade de Aleppo (Figura 10), mas também para atacar na frente de Hama e Idlib desde o Leste.

Figura 9 – Assalto à base aérea de Abu al-Dhuhr.
Figura 10 – Possíveis novas rotas de abastecimento para Aleppo.

Conclusão

Com o aumento da ameaça de massacres e ataques contra os habitantes das aldeias xiitas de Fua e Kafarya, é muito provável que uma operação para romper o cerco tenha lugar num futuro próximo. A Frente Sul-ocidental de Aleppo é ocupada principalmente por grupos filiados a al-Qaeda (membros) e, consequentemente, consequentemente não estão incluidos no atual cessar-fogo.

Uma operação para proteger a região meridional de Aleppo é menos provável porque requer um grande número de tropas que são necessárias em outras áreas. Qualquer incursão de oposição armada ou Estado Isámico será respondido com força.

O próximo artigo incidirá sobre o campo oriental de Aleppo, onde o Escudo de Eufrates, liderado pelos turcos, está lutando para tomar Al-Bab do Estado islâmico. Enquanto isso, o Exército Árabe Sírio está se preparando para lançar seu próprio ataque na área de Al-Bab / Deir Hafir.__________________________________________________________

Artigo de Ian Grant, analista holandês. Você pode ler mais análises em sua conta no Twitterr @Gjoene.

 

 

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Um comentário sobre “Aleppo – o que esperar para 2017?

  1. Responder Guilherme jan 9,2017 15:27

    Você podia mencionar a ofensiva do Exército sírio a partir dos distritos ocidentais de Aleppo em direção a Atarib e o posto alfandegário de Bab Hawa, que é o principal ponto de fluxo entre Idlib e a Turquia. As áreas ao norte estão tomadas pelos curdos e dessa forma, o exército sírio iria se preocupar apenas na frente ocidental, que a propósito é apenas 60km.

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