Após a derrota dos rebeldes na cidade de Aleppo, muitos se perguntaram: “E agora?”. Uma resposta comum é “Idlib”. Embora isso soe lógico, o Exército Árabe Sírio (EAS) terá que investir muitos recursos na operação que aponta para o coração dos rebeldes. Além disso, as forças do Escudo de Eufrates, apoiadas pela Turquia e o Estado islâmico continuam ameaçando a cidade de Aleppo desde o Leste, enquanto a coalizão Jaysh al-Fateh ameaça a cidade do Oeste e do Sul.
Esta série de artigos irá focar vários cenários possíveis que restabelecer o equilíbrio militar na província de Aleppo (Figura 1). Devemos ter em mente que a maioria das posições na frente de batalha foram determinadas com imagens de satélite recentes.
Sul de Aleppo: quebrar o cerco
Quando a operação militar em Aleppo oriental estava em pleno andamento, já foi relatado que as milícias xiitas, incluindo o Hezbollah libanês, estavam se preparando para uma grande ofensiva para romper o cerco de Fua e Kafarya.
É muito provável que o eixo principal do ataque va desde Al-Hader para Al-Eis, continuando para o Oeste, para Kafr Halab.
Estas aldeias situam-se em um cume com vista para a área circundante e, portanto, são muito importantes para a ofensiva. Além disso, para ter um amplo corredor, a parte norte da planície de Qinnasrin deve ser tomada dos militantes.
Também é muito provável que um outro grupo ofensivo se desloque para o eixo sul: empurrando para Tel Bajir e Huwayr al-Eis.
A partir daqui, o EAS e seus aliados podem atacar pelo Oeste em direção ao Sheik Ahmad e entrar em posição para romper o cerco desde o Oeste (Figura 3).
Com as terras altas de Kafr Halab e a auto-estrada M5 sob controle, a próxima fase seria romper o cerco e começar a formar um amplo corredor que pode atuar como linha de abastecimento (Figura 4).
Todas as vilas e cidades (provavelmente com exceção de Idlib) que são diretamente adjacentes a Fua e Kafarya precisam ser tomadas para ser retiradas da linha de fogo dos rebeldes.
A criação desta “zona tampão” vai ser a fase final da operação, com o propósito de garantir as antigas vilas sitiadas e criar uma área de preparação das futuras operações na governadoria de Idlib (Figura 5).
Enquanto esta ofensiva parece viável no papel, há muitos fatores que podem dificultar esta operação.
Primeiro, a maioria das forças envolvidas em quebrar o cerco são as milícias xiitas. É a gota de sangue no mar que os tubarões de al-Qaeda estão esperando.
O que vamos ver é uma pequena guerra religiosa que provocará um grande número de vítimas. Além disso, as milícias xiitas estariam se movendo para o coração do território ocupado pelos rebeldes.
Se eles quebram o cerco, eles vão estar às portas da fortaleza de al-Qaeda, a cidade de Idlib, ameaçando o centro deste reduto rebelde.
Além disso, quando a ofensiva comece, é muito provável que as forças que cercam Kafarya e Fua tentem tomar ambas as vilas. Este eventual massacre pode levar a retaliação por parte das milícias xiitas ou o cancelamento de toda a operação (ou ambos).
Linha de abastecimento
Um dos pontos fracos de toda a frente de Aleppo é a sua linha de fornecimento vulnerável (Figura 6). Nos últimos anos, temos visto inúmeras tentativas por parte da oposição armada e as forças do Estado Islâmico de interromper o fluxo de suprimentos de e para a cidade de Aleppo. Logo após a captura de Aleppo-Oeste, militantes anunciaram uma ofensiva para atacar a linha de abastecimento de Aleppo. Ao Sul de Khanaser, encontramos principalmente deserto aberto e provavelmente não seja a área que desejem capturar. É mais provável que um ataque ocorra entre a Base de Pesquisa Militar e Khanaser, com uma área elevada com vista a oeste da linha de abastecimento.
Para enfrentar (futuros) ataques como estes, o Exército Árabe Sírio e seus aliados deveriam tentar estender a “zona tampão” ao longo da linha de abastecimento. De preferência contra os rebeldes e o Estado islâmico, mas como este último ocupa principalmente o deserto aberto, é menos preocupante. A solução final seria capturar o eixo Tell Azzan, Tell al-Daman, Nawwarah, Khanaser em um movimento de pinça (Figura 7).
Seria criado um bolsão que pode ser fácil de limpar ou fornecer um acordo de reconciliação. Isto não só irá eliminar a ameaça contra as fábricas de defesa de Safirah e a Base de Pesquisa, mas também ajudaria a criar rotas alternativas para a cidade de Aleppo (Figura 8).
Com a captura deste eixo, uma nova área de preparação seria estabelecido para capturar a base aérea estratégica Abu al-Dhuhr (Figura 9). Isto irá fornecer oportunidades para criar novas linhas de abastecimento para a cidade de Aleppo (Figura 10), mas também para atacar na frente de Hama e Idlib desde o Leste.
Conclusão
Com o aumento da ameaça de massacres e ataques contra os habitantes das aldeias xiitas de Fua e Kafarya, é muito provável que uma operação para romper o cerco tenha lugar num futuro próximo. A Frente Sul-ocidental de Aleppo é ocupada principalmente por grupos filiados a al-Qaeda (membros) e, consequentemente, consequentemente não estão incluidos no atual cessar-fogo.
Uma operação para proteger a região meridional de Aleppo é menos provável porque requer um grande número de tropas que são necessárias em outras áreas. Qualquer incursão de oposição armada ou Estado Isámico será respondido com força.
O próximo artigo incidirá sobre o campo oriental de Aleppo, onde o Escudo de Eufrates, liderado pelos turcos, está lutando para tomar Al-Bab do Estado islâmico. Enquanto isso, o Exército Árabe Sírio está se preparando para lançar seu próprio ataque na área de Al-Bab / Deir Hafir.__________________________________________________________
Artigo de Ian Grant, analista holandês. Você pode ler mais análises em sua conta no Twitterr @Gjoene.
Você podia mencionar a ofensiva do Exército sírio a partir dos distritos ocidentais de Aleppo em direção a Atarib e o posto alfandegário de Bab Hawa, que é o principal ponto de fluxo entre Idlib e a Turquia. As áreas ao norte estão tomadas pelos curdos e dessa forma, o exército sírio iria se preocupar apenas na frente ocidental, que a propósito é apenas 60km.