Por Assad Frangieh
Especial para o Oriente Mídia
As manifestações populares contra a corrupção dos políticos e as reivindicações para a melhoria da vida cotidiana do cidadão libanês que explodiram dia 17 de outubro do ano passado, foram se reduzindo aos poucos e hoje os principais atritos são vistos nas agencias bancárias. E lá que o cidadão que depositou seu dinheiro, percebe que algo sério já aconteceu. Porque não se pode mais sacar dinheiro acima de 200 dólares por semana e quando puder apenas em lira libanesa?
O novo indicado para o cargo de Premiê Hassan Diab não consegue formar um gabinete de ministros, sejam eles de perfis políticos ou tecnocratas. Ele precisa de um consenso da maioria dos deputados para ganhar a aprovação do Parlamento. O Líbano, apesar de presidencialista, adota o sistema Parlamentar no qual o Gabinete de Ministros precisa do voto de confiança da Assembleia. Apesar de todas as manifestações, os deputados e suas lideranças arcaicas, insistem em nomear ministros com forte lealdade aos seus interesses. O que vemos agora é um ciclo vicioso de reuniões, nomes sondados para ministros, acordos e desacordos diários e uma esperança que vem se apagando aos poucos. O cidadão está exausto e a explosão social virá de uma forma ou de outro.
O fundo do poço está no sistema financeiro. A grande soma do dinheiro dos depositantes nos bancos libaneses, já foi emprestada aos Governos que vieram desde 1990. Os mesmos os desperdiçaram em corrupção, roubo de dinheiro público, deixaram de construir uma infraestrutura de Estado ou estimular a produção bruta do Líbano. Atualmente, o Governo não tem arrecadação para cobrir suas despesas do Serviço Público, muitos menos pagar suas dívidas aos bancos. O reflexo está na moeda. Se você quer retirar 1 dólar do banco, ele te paga 1.517 Liras Libanesas. Se você tentar comprar esse mesmo 1 dólar nas casas de câmbio, você tem que pagar em torno de 2.200 Liras Libanesas. Uma desvalorização em torno de 45%. Isso significa que o custo de vida que depende em grande parte das importações em dólares, está entrando em colapso e a pobreza está se instalando rapidamente em toda a sociedade libanesa.
O Líbano já está em caos financeiro e econômico. Para se recuperar é preciso sair primeiro do ciclo vicioso político. Como e quando? Não sabemos.
Assad Franghie, coordenador do *Grupo de Estudos Geopolíticos do Oriente Médio e Política Externa*