Por Babel e Saumar Hajjar
É muito triste o que ocorreu na Maratona de Boston. O número de vítimas já atingiu 145 pessoas. Porém, tenho que falar de outras “Maratonas de Boston”.
Na Síria, explosões piores do que esta, entre civis, com armamento militar fornecido aos rebeldes (onde ‘rebeldes'” é o novo nome dos terroristas), ocorrem a cada meia hora. No Iraque isso acontece semanalmente há literalmente uma década.
O ocidente vem sendo há anos dessensibilizado da humanidade do Sírio, do Libanês, do Palestino. Somos bárbaros, somos selvagens. Não merecemos a mesma repercussão da mídia-empresa.
As nações unidas (em minúsculas mesmo) não condenam atos de terrorismo quando são perpetrados por “lutadores da liberdade”. No entanto, cada ato de terrorismo praticado no mundo – grande ou gigante – é SEMPRE condenado pelo governo sírio.
E veremos por semanas, homenagens e velas brancas para os maratonistas de Boston. Eles, de fato, merecem nossa compaixão. Mas será que somente eles a merecem? As notícias já trazem a indicação de como a população mundial poderá ajudar vitimas e autoridades. Enquanto isso, toda “ajuda humanitária” na Síria não chega à população, vai direto para as mãos dos terroristas, na forma de equipamentos e mantimentos, chamados de “não letais”, que possibilitam e prolongam a estadia desses estrangeiros que estão promovendo chacinas de sírios em solo Sírio.
E o povo Sírio, martirizado por uma guerra que não é sua, feita por gente que não é sua? Por que não merecem velas e compaixão? A resposta é simples e dolorida: no processo de dessensibilização ocidental sobre a figura do Sírio ou Iraquiano ou Libanês ou Palestino, ou, utilizando o termo vulgar que pasteuriza todos, “árabe”, a percepção de humanidade se perdeu. Na visão ocidental, não são humanos os que morrem longe do mundo conhecido no ocidente; são animais, cobertos com trapos, vivendo no deserto, comunicando-se por uma língua enrolada, não participam das ciências (ocidentais), não participam das finanças(ocidentais). Não são “gente como a gente”, dirão. E, sua mera existência, acreditam, coloca em risco a civilização ocidental.
Sempre gostei muito da cultura de países do Oriente Médio, por seus valores, sabedoria, visão de mundo, e tenho o sonho de visitá-los. Fiz dança do ventre por dois anos, tatuei meu nome em árabe no ombro e fiz algumas aulas para aprender a me comunicar em árabe. Sou gaúcha, descendente de europeus (como 99% dos gaúchos), e sempre percebi esse descaso descrito no texto por parte dos ocidentais em relação ao que ocorre nos países do Oriente Médio. Como coordenadora de um curso de inglês, conheci uma aluna que nasceu na Palestina. Estava conversando com ela justamente sobre a falta de segurança e o descaso por parte de diversos países em relação ao terror que civis passam todo santo dia por lá. Sinceramente, não sei como reagiria em países onde não estaria segura para ir ao supermercado fazer compras para a família, ir a um restaurante fazer uma refeição ou simplesmente andar na rua. E devo admitir que esse foi um dos maiores empecilhos que me impediram de realizar meu sonho – além do financeiro, claro. Essa aluna me contou que ela estava a 3 metros daquela turista americana baleada quando americanos começaram a atirar a esmo em local público, e ela foi atingida na cabeça. Essa aluna me contou que isso, por incrível que pareça, acontecia praticamente todos os dias: quando algum americano se sentia “confrontado” por alguém, desciam todos de seus tanques e atiravam para todos os lados, matando inúmeros locais e, quando UMA americana é morta, fazem um escarcéu pedindo explicações ao ocorrido. E quem vai responder pelos locais, mortos todos os dias durante a ocupação americana? Cadê a voz ativa para enfrentar isso tudo? Às vezes parece que as pessoas estão tão cansadas de tudo o que está ocorrendo à sua volta que acabam desistindo de lutar. Afinal, lutar pra quê, se sua voz não é ouvida pelo resto do mundo? Parabéns Babel e Saumar Hajjar! Muito bem escrito esse texto!