Por Mohammad Noureddine – Assafir – Traduzido pelo Oriente Mídia.
Nada une a França e a Turquia exceto a hostilidade de ambas perante o Estado Sírio. Na época inicial da intervenção da França na Líbia em 2011, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan teceu duras e violentas críticas aos Elysées. Apenas cedeu depois da substituição da força francesa por tropas da NATO e após considerar seu verdadeiro motivo na luta para influenciar o poder e a exploração de petróleo da região da “Primavera Árabe”.
A disputa turca com a França não se limita à Líbia. No topo da lista das divergências está a posição francesa do “genocídio armênio”, já que a França foi o precursor entre os principais países a reconhecê-lo beirando a punição de quem negá-lo. Há também a posição na questão curda que recebe o apoio tácito dos franceses pelos direitos dos curdos. A aproximação francesa crescente com a Arábia Saudita à luz da tensão turca com Riyad é outra razão para a divergência entre a França e a Turquia.
Além disso, a questão da adesão da Turquia à União Europeia forma um grande abismo com a discordância da França que recusa que o objetivo final das negociações entre a UE e a Turquia levaria automaticamente a Turquia a ingressar na Comunidade Europeia. A França entende que seria necessário um referendo popular francês que todo mundo sabe de antemão seu resultado negativo.
Recentemente, o judiciário “massacrado” por Erdogan e suas ações contra sua polícia, em resposta ao escândalo de corrupção, não refletem qualquer credibilidade séria da Turquia para alcançar os padrões mínimos europeus sobre democracia, liberdades individuais e separação dos Poderes.
No próximo ano, a Turquia enfrentará o centenário do “genocídio armênio” cometido pelos otomanos sob o governo do “Partido União e Progresso” e a França não formará nenhuma blindagem para a Turquia contra os efeitos deste aniversário. O que resta das relações turco-francesas? Alguns acordos econômicos e a hostilidade contra a Síria.
De Ankara, após seu encontro com o presidente francês François Hollande, Erdogan visitou Teerã e que também sobraram apenas os acordos econômicos. Não há qualquer indicação de que a Turquia está disposta a mudar sua política perante a Síria. Muito daquilo que foi publicado na imprensa, não reflete a realidade.
Em Genebra 2, a fala do Ministro do Exterior turco Davutoglu esteve entre os mais radicais contra o governo sírio, e os caminhões de armas enviadas diariamente para a Síria sob a proteção da Inteligência não pararam, com questionamentos internos sobre o afastamento do Exército do Dossiê Sírio.
Além disso, Davutoglu incitou a maioria da delegação da oposição em Genebra para “agarrar-se” na revindicação para a renúncia do presidente sírio, Bashar Al-Assad do poder.
Com a implantação do “acordo nuclear” entre o Irã e o Ocidente, a reação turca foi que ele permitirá dobrar suas exportações comerciais da Turquia para o Irã. A Turquia não cede na política o que ela quer obter na economia. Isto não são sobre as relações bilaterais entre os dois países que não foram afetadas apesar de todas as divergências. No entanto, a Turquia quer usar suas relações com o Irã para compensar seus fracassos desde a Síria até o Egito, passando pela Arábia Saudita e por Israel. Ainda mais depois de seus problemas em casa, dos escândalos de corrupção à supressão das liberdades individuais e as restrições impostas sobre seus adversários que abalaram o conceito de Estado.
A recepção do líder supremo da República Islâmica Ali Khamenei à Erdogan é apenas uma reprise da recepção à Davutoglu nas cidades de Karbala e Najaf no Iraque quando o último se reuniu com a autoridade religiosa Ali Al-Sistani. A meta é “limpar” uma imagem de um projeto miserável turco que visa instigar a luta sectária, étnica e tirana.
O Irã, provavelmente, sabe de tudo isso. E é claro que ela não pode rejeitar a política da mão estendida. Ao mesmo tempo, não deverá repetir a sua experiência com a “Irmandade Muçulmana” no Egito, quando a apoiou e mesmo assim, o presidente isolado Mohamed Morsi manteve seus dizeres que não irá descansar até o fim do governo na Síria e ainda descrevendo, sem precedente no Egito, os xiitas como renegados do Islã – uma ofensa pesada.
O Irã não tem interesse de fechar qualquer janela no contexto de sua abertura regional e internacional, especialmente após o “acordo nuclear”. Porém, a busca do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan de se livrar de seu isolamento político, regional e internacional, não tem apenas um preço econômico correto. Primeiro, há um preço político.