Por Assad Frangieh.
Já são 18 rounds em poucos anos. Um round é um período de combates que dura dias ou máximo semanas durante o qual são usadas armas pesadas, mísseis e muitos morteiros. Numa noite “quente” são gastos um milhão de dólares em munição. Num dia de apenas “marcar presença” são 250 mil dólares. As vítimas fatais são em dezenas e os feridos beiram uma centena. Do jeito que explode em poucas horas, tudo volta ao normal com a luz do dia. As ordens ultimamente vêm da Península Arábica. De um lado, Jabal Mohsen que é um bairro elevado na cidade de Trípoli no Líbano constituído por alauítas, aliados naturais e históricos da Síria e consequentemente da aliança 8 de Março na política libanesa.
A região em vermelho representa o Bairro de Jabal Mohsen. é uma área menor de 1.5 Km². Clique na imagem para ampliar. Se achar algo parecido com a obra de Oscar Niemeyer, acertou. É uma Exposição de Feira permanente, feita pelo mesmo.
De um outro lado, o bairro Bab-Al-Tebanne cujos moradores nativos são feirantes e pequenos comerciantes. São cidadãos pobres que vivem o dia a dia. A maioria é sunita. Acabaram recebendo militantes fundamentalistas e grupos apoiados inicialmente pelo Qatar e depois pela Arábia Saudita, sob a tutela política do Movimento 14 de março de Saad Al-Hariri. Vieram tantos mercenários e combatentes de outras nacionalidades principalmente sírios sob a bandeira do exército sírio livre que hoje os nativos perderam voz e poder, em seus próprios bairros. Cada político em Trípoli mantém sua milicia própria, inclusive Saad Al-Hariri através de seu homem Achraf Riffi, ex-comandante das forças de segurança do Líbano, um tipo de Polícia Militar. Assim, a cidade virou um barril de pólvora, cada vez mais difícil de ser controlado. Se os combatentes perdem uma batalha na Síria, sobra para Jabal Mohsen receber um round de confrontos. De cidade mais linda e moderna do Líbano até os anos 2005, formada por cristãos e muçulmanos, tornou-se hoje o reduto do fundamentalismo radical onde a bandeira da Al-Qaeda tremula livremente sendo seu porto o portal de trânsito de armas para os fundamentalistas na Síria. Os mapas darão ideia geográfica do barril de pólvora que abordamos.
Clique na imagem para ampliar. As linhas vermelhas são as ruas que delimitam a região do conflito. As estrelas vermelhas e as estrelas amarelas são os “Eixos de atrito”, geralmente uma rua que serve de entrada e saída ao bairro. A bandeira da Palestina representa o campo de refugiados palestinos que se mantém neutro e consequentemente a passagem de alimentação, gasolina e outras necessidades como transporte de feridos de Jabal Mohsen. As fotos são para criar o clima… ou melhor, o drama.