Rússia fez história na Síria

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ТОS-1A é um tanque russo, lançador múltiplo de foguetes termobárico de 24 barris


5/4/2016, Federico Pieraccini,
Rússia Insider

Traduzido por Vila Vudu

“Se ainda não leram, leiam.
Federico faz a decodificação séria, de primeira classe,
do sucesso dos russos e “4+1” na Síria.

Aí está uma das razões CHAVES por que os documentos selecionados, chamados “Panama Papers“, vazamento seletivo, foram distribuídos agora”
(Pepe Escobar, 8/4/2016, Facebook).

O Exército Árabe Sírio (EAS) e aliados estão libertando a Síria passo a passo, mostrando que são a única força capaz de derrotar em solo o Estado Islâmico (EI) e a Frente Al Nusra (também conhecida como Al-Qaeda). Uma soma de fatores explicam as vitórias recentes.

Palmyra, cidade estratégica e simbólica foi retomada do EI, depois de mais de um ano de sítio. Esse sucesso foi possível graças a meticulosa preparação das operações aéreas e em solo.

O centro de informação conjunta em Bagdá mais uma vez revela-se fator importante na guerra contra o terrorismo. Coordenação de alto nível entre Moscou, Damasco, Bagdá e Teerã, que é fator chave para o sucesso sobre toda a área operacional que inclui Iraque e Síria, com conexões e interdependências.

Fator considerado essencial no planejamento para começar a retomar controle no território sírio foi o esforço para construir informação e meios para avaliar o armamento militar do EI. Especialistas da inteligência russa, iraniana e síria trabalharam para descobrir o que, em matéria de armamento, o EI conseguiu acumular em cinco anos de guerra no Iraque e na Síria. Avaliações do arsenal do EI mostraram de tudo, de blindados para transporte de soldados (BMP-1, MT-LB, MRAP Humvees capturados dos EUA,), a tanques (T72, T55 e M1A1M capturados dos EUA), armas de artilharia antiaérea (2S1 Gvozdika, ZSU-23-4 Shilka) e lançadores múltiplos de foguetes (BM-21 Grad).

Feita a avaliação do armamento inimigo, os conselheiros militares russos que operavam com o Exército Árabe Síria forneceram, ao longo de meses, o equipamento necessário. Assim aconteceu que a Rússia realmente conseguiu alterar profundamente vários aspectos da dinâmica no campo de combate. Os russos também coordenaram exercícios conjuntos para treinamento do EAS, capacitando os soldados sírios a operar as mais de 2.500 armas guiadas antitanque entregues a Damasco, como 9K115-2 Metis-M e 9M133-Kornet.

Esse novo nível de preparação ajudou a abrir as linhas de frente contra EI/Nusra. As Kornet e outras armas antitanques infligiram pesadas perdas às milícias radicais. Esse fator, combinado à competente coordenação russa e ao apoio aéreo sempre próximo, pavimentou o caminho para o assalto em solo, como o que levou à retomada de Palmyra, lançado simultaneamente de quatro direções diferentes.

A Rússia comprovou que é parceira ideal de Damasco, capaz de garantir inteligência, treinamento, apoio aéreo, requalificação do armamento e equipamento avançado, de última geração.

A Rússia já mostrou que conta com armamento muito especificamente concebido para diferentes ambientes de combate. Esse mix de competências ajudou o Exército Árabe Sírio no deserto (Palmyra), em cidades (Aleppo, Damasco, Homs) e em terreno de montanha (Aleppo e Latakia). Considerando que combates em regiões de montanha são extremamente difíceis (como se comprova no Afeganistão), as armas russas mais uma vez fizeram a diferença.

Se a libertação de Palmyra foi resultado de treinamento das forças e planejamento competentes dos combates, a guerra nas montanhas de Latakia e Homs exigiu que os russos mobilizassem outra eficiente máquina para aquele cenário, o TOS-1 Buratino, Sistema de Lança-Foguetes que dispara 24 foguetes termobáricos não guiados que cobrem área de mais 200×400 metros quadrados, sem deixar espaço para esconderijos. Mas uma vez, a contribuição russa foi chave para derrotar rebeldes e terroristas.

Outra decisão importante foi garantir treinamento ao Exército Árabe Sírio para usar os tanques T-90 na província de Aleppo, para combate próximo, em área urbana. Como já escrevi:
“Os T-90MS e sua grande capacidade para destruir TOW e mísseis M79 disparados parecem ser perfeitos para guerra como na Síria. Em quatro anos e meio de conflitos, mais de 9,000 sistemas antitanques BGM-71E3B TOW e M79 foram introduzidos no país. A capacidade desses sistemas para penetrar em tanques T-55 e T-72 é a principal razão pela qual Exército Árabe Sírio encontrou tantos problemas para ganhar terreno na parte sul da província de Aleppo. A grande vantagem do T-90MS é a blindagem reativa e os sistemas de defesa. Esse veículo é equipado com blocos de blindagem reativa semelhante ao Kontakt-5, e um sistema semelhante ao Arena-3, que detecta, intercepta e detona mísseis a uma distância de 2-3 m do alvo; essas características tornam esse tipo de tanque extremamente resistente, e foi upgrade que se revelou muito útil para aumentar a capacidade do Exército Sírio para alcançar importantes vitórias em solo.”
É preciso também lembrar a importância e o impacto que tiveram os helicópteros de ataque na fase inicial da intervenção militar russa, enquanto se estabelecia a base aérea russa em Khmeimim.

A província de Latakia naquele momento ainda estava cheia de rebeldes que configuravam ameaça real. Helicópteros Mi-24 e Mi-28 operaram em vasta escala e em combates aéreos, até que a área foi inteiramente saneada. Assim se ampliou e aprofundou-se a segurança da província de Latakia, o que criou condições para que o aeroporto fosse reformado em período relativamente curto de tempo. Além disso, apoio aéreo próximo, garantido pelos KA-52s, KA-50s e pelos Mi-24s e Mi-28s, sempre ajudaram a garantir importantes avanços dos soldados, em solo, em todo o território sírio.

Já não há dúvidas de que a intervenção russa na Síria foi decisiva, não só pelo apoio aéreo próximo, mas, também, pela importante contribuição dos especialistas russos para o planejamento e tomada de decisões estratégicas, que puderam ser tomadas a partir de informação do boa qualidade, de inteligência humana e de sinais – áreas em que Moscou tem evidente vantagem vis-à-vis outros países envolvidos. O acesso a essa informação de inteligência de boa qualidade é o que explica também por que tantos comandantes do EI/Al-Nusra foram tomados como alvos específicos de operações aéreas. O tipo de tecnologia que a Rússia aplicou na Síria disparou comentários sem precedentes, de especialistas em Washington, preocupados com os avanços dos russos, tanto no setor de equipamentos e armas, como de inteligência.

Moscou demonstrou com clareza absoluta que a modernização de suas forças armadas iniciada por Putin há 15 anos, está rapidamente recobrindo o hiato que as separava das potências ocidentais. A novidade real que os russos apresentaram na Síria veio com a demonstração de que um importante complexo militar pode operar efetivamente – mesmo onde absolutamente não haja corrupção em escala monstro.

Sem ter de alimentar e sustentar um complexo industrial-militar de proporções teratológicas como o que pesa sobre os EUA, Moscou pode focar os próprios interesses nacionais dos russos e dar prioridade a projetos imediatamente necessários, preservando a própria capacidade para tomar decisões estratégicas sobre quais projetos podem ser programados para mais longo período de tempo.

O que mais impressiona os observadores e especialistas é a eficiência das ações russas na Síria. Moscou está claramente fazendo demonstração de uma doutrina militar que é coerente e consistente, ao desenvolver de modo equilibrado e proporcional várias competências, para o que já se definiu como “as guerras modernas”.*****

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