‘Eles esperaram dez longos e sofridos anos para votar nestas eleições. E votaram no líder político que os levou de volta à Mãe Rússia’, diz Pepe Escobar
Acompanhar o processo eleitoral russo em operação no Donbass foi, ao mesmo tempo, uma lição de humildade e uma experiência reveladora. De forma explícita, à nossa frente, todo o peso da implacável campanha de difamação movida pelo Ocidente Coletivo foi instantaneamente engolida pelo rico solo negro da Novorossiya. A organização impecável, a total transparência da votação, o entusiasmo dos que trabalhavam nas sessões eleitorais e dos eleitores pontuaram a gravidade histórica desse momento político, envolvido por uma atmosfera impalpável de júbilo silencioso.
Essa eleição, obviamente, foi um referendo. O Donbass representa um microcosmo da sólida coesão interna dos cidadãos russos em torno das políticas da Equipe Putin – que compartilha o mesmo sentimento da maioria esmagadora do Sul Global. A vitória de Vladimir Vladimirovich Putin foi uma vitória da Maioria Global.
E é isso que vem provocando ataques apopléticos na ínfima Minoria Global. Com o maior comparecimento desde 1991, os eleitores russos infligiram uma maciça derrota estratégica aos pigmeus intelectuais que passam por “lideranças” ocidentais – talvez a classe política mais medíocre dos últimos cem anos. Os russos votaram por um sistema mais justo e mais estável de resistência internacional, pela multipolaridade e pela verdadeira liderança de estados-civilização como a Rússia.
A votação de 87% de VVP foi seguida, muito atrás, pelos comunistas, com 3,9%. Isso é bastante significativo, porque esses 91% representam a total rejeição do “futuro” plutocrático globalista proposto no “Grande Reset” de Davos antevisto pelo 0,001%.
Avdeyevka: votação em meio à devastação total – No segundo dia da eleição, na seção 198, no centro da cidade de Donetsk, não muito longe do Palácio do Governo, era possível ter uma visão geral da fluidez e da transparência do sistema – mesmo Donetsk não tendo sido poupada dos bombardeios, em fins da tarde e começo da noite do último dia da votação.
Em seguida, uma estratégica parada para reabastecer em um minimercado do bairro. Yuri, um militante, comprava uma carga de ovos frescos a serem transportados para os civis famintos que ainda permanecem em Avdeyevka. Dez ovos custam o equivalente a um dólar e quarenta centavos.
Próximo à escola foi construído um centro de refugiados para os que foram trazidos de Avdeyevka. Tudo brilha de tão limpo. As pessoas são registradas, incluídas no sistema e então esperam por documentos oficiais. Todos querem conseguir um passaporte russo o quanto antes.
No momento, elas estão alojadas em dormitórios para 10 pessoas cada. Alguns, milagrosamente, chegaram de Avdeyevka em seus próprios carros: há algumas placas ucranianas nas redondezas. Invariavelmente, a expectativa geral é a de voltar a Avdeyevka assim que começar a reconstrução, para refazer suas vidas em sua cidade natal.
Então, pegamos a estrada para Avdeyevka. Nada, absolutamente nada, nos prepara para nos confrontarmos com a total devastação. Em meus quase quarenta anos de correspondente estrangeiro, jamais vi algo parecido – nem mesmo no Iraque. Na entrada oficial de Avdeyevka, ao lado do esqueleto de um prédio bombardeado e dos restos de uma torre de tanque, bandeiras de todos os batalhões militares que tomaram parte na liberação tremulam ao vento.
Todos os prédios de todas as ruas estão pelo menos parcialmente destruídos. Uns poucos moradores que permaneceram na cidade se reúnem em um apartamento para organizar a distribuição de gêneros de primeira necessidade. Encontro um ícone milagrosamente preservado atrás da janela de um apartamento térreo destruído pelas bombas.
Drones FPVs circulam por cima de nossas cabeças – detectados por um aparelho manual, e nosso acompanhante militar está em estado de alerta total. Descobrimos, ao entrar em um apartamento térreo que vem sendo mantido como um mini-depósito de alimentos – doações vindas de Yasinovata e dos militares – que aquele mesmo apartamento, pela manhã, foi convertido em uma seção eleitoral. Foi lá que votaram os poucos moradores que permanecem em Avdeyevka.
Um homem quase cego andando com seu cachorro explica por que não pode ir embora: ele mora nessa mesma rua, e seu apartamento ainda está habitável, apesar de não ter água nem eletricidade. Ele explica que os ucranianos estavam ocupando todos os apartamentos da rua – convertendo os moradores em refugiados ou reféns alojados em porões, e em seguida, por insistência dos russos, realocados para escolas e hospitais das redondezas até finalmente conseguirem fugir.
Os porões são um pesadelo. Não há praticamente luz nenhuma. A temperatura é pelo menos 10 graus celsius inferior à do nível da rua. É impossível imaginar como eles sobreviveram. Um outro morador passeia despreocupadamente em sua bicicleta, cercado de esqueletos arruinados de concreto. Os grandes estrondos – a maioria deles de dentro para fora – são incessantes.
Então, em meio à total devastação, uma visão: a elegante silhueta da Igreja de Maria Madalena, imaculadamente preservada. Dmitry, o zelador, me mostra o lugar: uma bela igreja, as pinturas do teto ainda brilhando à pálida luz do sol, um esplêndido candelabro e a nave ainda virtualmente intactos.
A renascença de Mariupol – Passamos o último dia da eleição em Mariupol – que está sendo reconstruída a uma velocidade alucinante: a nova estação ferroviária acabou de ser concluída. A votação corre tranquilamente na escola nº 53, no distrito residencial 711. Um belo mural por trás da urna retrata as cidades irmãs de São Petersburgo e Mariupol, com as lendárias Velas Escarlate da história de Alexander Green bem ao meio.
Revisito o porto: cargas internacionais ainda não chegam, apenas navios vindos da Rússia continental. Mas o primeiro acordo foi assinado com Camarões – frutas em troca de metais e produtos manufaturados. Diversos outros acordos com países africanos estão no horizonte.
A igreja Pakrovska, um marco de Mariupol, está sendo cuidadosamente restaurada. Fomos muito bem recebidos pelo Padre Viktor, que está oferecendo um almoço para um grupo de pessoas da paróquia, e uma boa conversa se segue, indo do Cristianismo Ortodoxo até o Declínio do Ocidente e a agenda LGBT.
Subimos no telhado e caminhamos em torno de uma passagem balaustrada que oferece uma vista espetacular de 360 graus de Mariupol, seu porto, a usina siderúrgica destruída e o Mar de Azov russo ao fundo. Os maciços sinos da igreja tocam – como em uma metáfora para a ressureição de uma bela cidade que tem o potencial de vir a se tornar uma espécie de Nice do mar de Azov.
De volta a Donetsk, a ida a uma escola/museu “secreta” a apenas dois quilômetros da linha de fogo – que visitei pela primeira vez no mês passado – teve que ser cancelada: Donetsk continua sob bombardeio.
Pensado em Avdeyevka, bem como nos bombardeios que se recusam a cessar, vêm à mente algumas poucas perguntas sobre números durante a longa viagem de carro de 20 horas de volta a Moscou.
Na Chechênia, liderada pelo hiperpatriota Kadyrov, o comparecimento foi de 97%. E nada menos que 99% votaram em VVP. Portanto, diferentemente de como foi no passado, esqueçam qualquer tentativa de revolução colorida na Chechênia.
O mesmo padrão se verificou no Cáucaso, na região de Kabardino: o comparecimento foi de 96%. E nada menos que 94% votaram em VVP.
Entre o Kazaquistão e a Mongólia, em Tuva, o comparecimento foi de 96%. E 95% votaram em VVP. Na Yamal-Nenets autônoma, o comparecimento foi de 94%. Mas VVP teve “apenas” 79% dos votos. No Lago Baikal, Buryatia, registrou um comparecimento de 74% e 88% dos votos para VVP.
O ponto-chave continua sendo Moscou. O comparecimento, comparado a outras regiões, foi relativamente baixo: 67%. Bem, Moscou ainda é em grande parte ocidentalizada, e em diversos aspectos ideologicamente globalista – e portanto mais crítica que outras partes da Rússia quando se trata de ênfase patriótico.
O que nos leva à questão central. Mesmo com a retumbante vitória do Sr. 87%, eles jamais desistirão. Se houver uma mínima chance de uma estratégia de Guerra Híbrida vir a alcançar sucesso, provocando uma revolução colorida, o palco será Moscou. Bem patético, na verdade, se comparado às imagens do último domingo, do Sr. 87% saudado por uma Praça Vermelha superlotada como se fosse o maior de todos os astros do rock.
O Kremlin não vai correr riscos. Putin se dirigiu ao Serviço Federal de Segurança (FSB) e foi direto ao ponto: tentativas de semear discórdia interétnica – como prelúdio de revoluções coloridas – têm que ser rigorosamente suprimidos. O FSB subirá o tom: os traidores serão identificados pelo nome e serão processados por crime imprescritível.
Após a euforia eleitoral, ninguém realmente sabe o que acontecerá em seguida. Tem que ser algo imensamente significativo, honrando a histórica e acachapante vitória de VVP nas urnas. Ele agora tem carta branca para fazer seja o que for. Prioridade número um: acabar de uma vez por todas com o vira-latas terrorista criado pelo Hegêmona que há dez longos anos vem atacando a Novorossiya.
Tradução de Patricia Zimbres