Palestina-Conflito sem fim e fim do conflito: verdade, justiça e reconciliação

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Conflito entre Israel e Hamas é o mais mortal em território israelense desde 2008; na Palestina, desde 2015 | Mundo | G1

Por Abdel Latif Hassan Abdel Latif*

 

Acreditar que a verdade é a vítima permanente das guerras significa aceitar que os conflitos não terão fim.

O primeiro passo para chegar a uma solução para qualquer conflito é o resgate da verdade. Compreender as causas, os fatos, para resolver.

No Oriente Médio,  a verdade tem sido a vítima do conflito, desde o início.

Mas isso está mudando, já que a verdade está se erguendo das ruínas, dos bairros destruídos por Israel em Gaza.  A verdade está sendo vista crua, pelo mundo ao vivo. As lágrimas das mães palestinas enterrando seus filhos, os gritos desesperados das crianças palestinas sendo massacradas a sangue frio pela máquina de guerra israelense.

A violência na região não começou com os ataques do Hamas. Historiadores israelenses, entre eles, Illan Pape, Tom Seguev, Beit Hallahmi, Beni Morris, Norman Finkelstein, entre muitos outros chamam a atenção do que eles caracterizam como pecado original de Israel, a causa raiz de toda a violência no Oriente Médio.

Esses historiadores judeus narram, com detalhes, que a criação do Estado judeu na Palestina não foi um processo pacífico. Para a criação daquele Estado, grupos terroristas judaicos como Haganah e Irgun organizaram e executaram o roubo de terras, genocídio e limpeza étnica na Palestina, processo ainda em curso e o mais recente capítulo é o que estamos assistindo.

Os historiadores judeus e observadores internacionais, como o brasileiro Penido Burnier, documentaram que nos anos de 1947 e 1948, milhares de civis palestinos foram assassinados e quase 900 mil palestinos perderam suas casas e propriedades. Os palestinos  foram expulsos de suas terras, convertendo-se em refugiados, para esvaziar a Palestina e torná-la um espaço exclusivo judeu.

Na faixa de Gaza, sobrevivem aproximadamente dois milhões e quatrocentos mil palestinos, sendo que 75% deles são os refugiados que Israel expulsou desde 1947, proibindo seu retorno.

De seus miseráveis campos de refugiados em Gaza, sem água e sem eletricidade, com embargos de medicamentos e até alimentos, conseguem ver suas terras roubadas sendo ocupadas por colonos trazidos dos cantos dos mundos.

Reconhecer esses fatos é fundamental para iniciar a discussão séria à procura de uma solução do conflito na Palestina.

Israel e seus apoiadores querem mostrar ao mundo que os palestinos  e seus grupos de resistência são terroristas e isso é mentir, ou ao menos, de forma racista,  simplificar demais uma realidade mais complexa.

Se terrorismo é uso indiscriminado de violência contra civis, a história do Estado de Israel (que nada tem da Israel bíblica), desde sua  concepção, é a história do uso indiscriminado da violência, não apenas contra os palestinos, mas contra todos seus vizinhos, nos últimos 75 anos. Milhares de libaneses, sírios, jordanianos, egípcios, iraquianos, além dos palestinos, foram assassinados por Israel, na tentativa de construir sua muralha de ferro.

O terrorismo de Estado que Israel pratica é a causa e é a absolutamente maior e mais brutal. Reconhecer isso é passo para chegar a uma solução na região.

Os organismos internacionais classificam os ataques israelenses contra Gaza como crimes de guerra e crimes contra a humanidade . Israel ataca crianças, mulheres e civis indefesos. Estão destruindo a infraestrutura, casas, escolas, hospitais, templos dos palestinos. Israel pratica essa destruição há décadas, para que os palestinos morram ou abandonem o que lhes restou da terra.

Einstein descreveu como idiota aquele que repete o mesmo experimento esperando resultado diferente.

Os líderes do Ocidente, de Macron a Biden, mentem, defendendo as ações de Israel como autodefesa, sem qualquer menção à limpeza étnica e violência institucional contra os palestinos.

A comunidade internacional reconhece Cisjordânia e Gaza como territórios palestinos ocupados. Manter esses territórios sob regime de apartheid, ocupação militar, é desumano e ato de agressão permanente contra o povo palestino. A lei internacional garante o direito de qualquer povo, inclusive os palestinos,  resistirem com todos os meios possíveis à ocupação injusta.

Israel viola o Direito Internacional mantendo a população e território ocupado sob seu controle, impedindo a criação de um Estado Palestino soberano e independente,

Os Palestinos aceitaram criar seu Estado em apenas 22% do que era a Palestina histórica. A resposta de Israel é sempre a mesma: massacres, confisco de terra e tentativas de transferir a população nativa da Palestina para fora do território.

Israel sempre teve opção: retirar-se já dos territórios ocupados desde 1967 e garantir o direito de retorno aos expulsados desde 1948.

Apesar da máquina da desinformação e da propaganda sionista, os palestinos não estão sozinhos na sua luta pela liberdade , contra o genocídio.

Milhares de judeus ocuparam as ruas de Nova York, Londres e outra cidades européias, condenando os crimes de guerra cometidos por Israel contra os palestinos.

Grupos judaicos como “Não em nosso nome”,Judeus pela paz”, “Rabinos pela paz e justiça na Palestina”, acreditam que as ações de Israel não apenas matam milhares de civis palestinos, mas também ameaçam as comunidades judaicas ao redor do mundo.

Um Estado que assassina mais de 4 mil crianças em menos de 3 semanas não pode ter qualquer ligação com qualquer crença religiosa, muito menos o verdadeiro judaísmo. Os judeus foram vítimas de perseguição e massacres no ocidente. No mundo árabe, inclusive na Palestina histórica, viviam em paz e harmonia com seus vizinhos. Foi a chegada dos sionistas, com atos contra os indígenas árabes,  que deu início à violência.

Hoje, milhões e milhões têm percebido que o sionismo é ameaça aos palestinos, aos judeus e à paz mundial.

Não há lugar mais para apartheid, ideologias racistas e supremacistas. Não há mais lugar para doentes de espírito que acreditam que os palestinos são bestas humanas.

Foi naquela sofrida terra, em que nasceu o Messias trazendo a mensagem da fraternidade, amor e paz a a aliança a todos os homens.  Foi perseguido pelos sionistas do seu tempo.

Nossa obrigação é seguir o caminho do Mestre: estar com os oprimidos contra a opressão, com as vítimas contra seus carrascos e ser a voz que os poderosos de todos os tempos tentam calar.

Lutar pela verdadeira paz e justiça no Oriente Médio é missão de todos!

*Abdel Latif Hassan Abdel Latif, Médico Palestino

 

 

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