Líbano: o Barômetro do Oriente Médio

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Por Assad Frangieh.

O novo gabinete de ministros no Líbano funciona com um barômetro para medir as pressões exercidas pelas forças regionais nos acontecimentos do Oriente Médio. Sua composição abrange aliados de ambos os polos do conflito, de um lado, os adeptos do novo oriente médio liderados pelos Estados Unidos, idealizados por Israel e orquestrados pela Arábia Saudita, Catar e Turquia e, o eixo da Resistência dos aliados russos, chineses, iranianos, iraquianos, sírios e libaneses representados pelo Hezbollah, no lado oposto. Um gabinete universal sem ser de coalizão ou de união nacional. Algo que possa desmoronar a qualquer hora ou ser explorado como o espelho dos acordos regionais e internacionais em fase de construção.

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Como não foi possível ainda tirar uma foto do novo gabinete, alguém fez uma montagem em Photoshop: substituindo os rostos dos ministros anteriores pelos novos ministros. Genial, como as soluções que o o Líbano sempre encontra. 

A força do Hezbollah deixou de ser uma influência apenas dentro das fronteiras do Líbano e passou a marcar sua presença em regiões geográficas mais amplas. Isso lhe deu experiência, coordenação militar e poder de dissuadir reconhecido pelos analistas de Tel Aviv e Washington. Sua participação num Governo misto e igualitário com os representantes de Saad Al-Hariri é o mesmo que assentar numa mesma mesa os Iranianos e os Sauditas. O Hezbollah não precisou se retirar da Síria como condição anteriormente imposta pelos tutelados pela Arábia Saudita. Por outro lado, o discurso de Saad Al Hariri não poupou críticas ao Hezbollah, porém pela primeira vez referiu-se aos grupos ligados a Al-Qaeda como inimigos dos sunitas e fomentadores do Terrorismo e das guerras sectárias. Entregar as pastas da Segurança Pública, da Justiça e da Telecomunicação nas mãos dos adversários libaneses mais ferozes do Hezbollah foi delegar a responsabilidade da prevenção dos atos de terrorismo contra a população libanesa a quem na véspera cobria politicamente e na logística, o envio de armas e homens na luta contra o Governo da Síria. Esses mesmos combatentes, repelidos cada vez mais do território sírio, voltam a seus redutos em territórios libaneses. Eles serão controlados ou reprimidos?

Quando se levanta a bandeira contra o Terrorismo, é preciso dar suporte ao Exército Libanês, a única força militar composta como instituição legítima e creditada do Governo do Líbano. É provável que ela esteja sendo preparada para reprimir os grupos armados da Al-Qaeda. Para harmoniza esta ação, a Polícia Militar, ainda sob a influência dos aliados de Saad Al-Hariri, participaria com sua Inteligência e seus centros de detenção. Uma decisão deste porte – de reprimir os grupos terroristas, apenas aconteceria após um acordo Russo-Norte Americano, em outros termos, um acordo Iraniano-Saudita ou mais específico, um acordo Nasrallah-Hariri. Parece que isso está acontecendo. Uma amostra do que virá pela frente.

O programa do novo Governo terá apenas duas pautas: os preparativos para a eleição indireta de um novo Presidente da República para os próximos seis anos em maio deste ano e a luta contra o Terrorismo. Nada do que acontece ou acontecerá no Líbano está distante do que acontece ou acontecerá na Síria. A cada dia, o Governo da Síria vem somando vitórias campais, diplomáticas e principalmente adesão popular crescente à liderança de Bashar Al-Assad, computadas pelas inúmeras cidades que aderiram aos planos de reconciliação com o Estado e o Exército Sírio. O reflexo é no Líbano. O terror será repelido para as fronteiras da Síria. O Líbano é o primeiro.

O novo Governo pode ser uma bomba armada para explodir a qualquer momento, mas também, pode ser o protótipo dos acordos internacionais. Não seria surpresa, eleger o General Michel Aoun como Presidente da República, indicar Saad Al Hariri como primeiro ministro e manter Nabih Berri na chefia do Parlamento. O Oriente Médio é terra dos milagres, inclusive na política. Viver para ver.

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