Por Assad Frangieh
23/01/2020
O Gabinete de Ministros no Líbano já está formado. Receberá o voto de confiança do Parlamento com maioria simples. Pode não ter recebido uma grande aprovação popular, porém seria isso possível com mais de 72 associações, partidos e agrupamentos alegando a representatividade da Rua? Há como contemplar num único gabinete de profissionais liberais, os interesses sociais, políticos e essencialmente os interesses financeiros, num país que já está no abismo econômico?
Importante frisar que mesmo que os Ministros não tenham todo apoio dos parlamentares representantes eleitos do povo, eles têm o poder executivo de seus ministérios, o controle do orçamento e a força do cargo para a aplicabilidade das normas legislativas e de decretos leis. É algo excepcional e raro na história política do Líbano que seja indicado um Gabinete de uma “cor só” apesar da distribuição sectária mantida. O Líbano tem a tradição de manter um Gabinete de Ministros de situação e oposição, algo que se caracterizava como uma divisão de poder que acabou se transformando nos últimos 30 anos, após o fim da guerra civil, uma planilha de compartilhamento de corrupção, desperdício de dinheiro público, implantação de uma dívida pública impagável e um pais difícil de se recuperar sem a ingerência externa. No Brasil, alguns definem certos políticos como ladrões, mas fazem! No Líbano, certos políticos seriam ladrões, não fazem, mas é direito de seu sectarismo religioso! São esses aspectos que as manifestações desde 17 de outubro têm trazido à tona.
Há insatisfeitos que tentarão aumentar a tensão das ruas com atos de vandalismo. Outros o farão com outros propósitos. Única certeza, que haverá vontade política surgida por pressão popular, em tentar recuperar a estabilidade política, social, financeira e econômica do Líbano. Como disse o provérbio, é melhor acender uma vela do que ficar amaldiçoando a escuridão. O Líbano precisa desta trégua e deste tempo. Ficamos alertas.
*Especial para o Grupo de Estudos de geopolítica do Oriente Médio e Política Externa do Brasil*