Israel quer exportar sua convulsão interna

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Milhares de israelitas nas ruas contra reforma judicial de Natanyahu | Euronews
Por Gilberto Feres Abrão*
Por razões óbvias, a imprensa ocidental não está divulgando a crise pela qual o estado talmúdico está passando. Há uma cisão irreparável dentro da sociedade israelense.
Os ultradireitistas de Netanyahu e Ben Ghafir estão em guerra contra os ditos “moderados”, que de moderados não têm nada. São tão perniciosos aos palestinos quanto os extremistas de Netanyahu. A diferença é o estilo e o método que cada grupo usa para tratar os palestinos.
Na verdade, a sociedade sionista, desde a sua fundação em 1948, nunca esteve harmoniosa. Sempre houve o antagonismo entre os “ashkenazim”, judeus vindos da Europa, que originalmente falam iídiche, e os “Mizrahim”, que são judeus vindos do Oriente Médio, cuja cultura é predominantemente árabe.
Ambos os grupos só começaram a utilizar o hebraico como língua comum depois que imigraram ao recém-formado estado judeu na Palestina, a partir de 1948.
Os judeus Mizrahim sempre foram relegados pelos europeus, que tinham melhor escolaridade. Iguais aos mizrahim, ou até um grau abaixo, estão os judeus africanos de pele escura. Dentro do esquema de governo no estado sionista, os judeus orientais e africanos servem como bucha de canhão. São designados para executar o serviço sujo. Ou seja, a tarefa de matar palestinos. Enquanto que os judeus sionistas brancos, de origem europeia, os ashkenazim, ficam em seus escritórios refrigerados, arquitetando como tomar terras dos palestinos e ampliar seu domínio sobre o que resta do território palestino, os sionistas mizrahim são mandados para arrestar e matar palestinos, demolir casas, queimar plantações e outros atos terroristas.
A revolta da grande maioria dos israelenses contra o governo de Netanyahu é um indicativo dessa fissura na sociedade sionista. Centenas de milhares de israelenses fazem manifestações diárias contra o governo, chegando até à violência. Já houve até luta corporal dentro do próprio “knesset”, o parlamento sionista. Ironia das ironias, numa das últimas manifestações, apareceram judeus carregando a bandeira palestina.
Os dois radicais de direita, Netanyahu e Ben Ghafir estão sob pressão contínua. O que fazer, então, para desviar a atenção do povo e aliviar a pressão?
Netanyahu, decidiu então, de vez em quando atacar a enfraquecida Síria. Volta e meia, manda seus aviões de combate bombardear os arredores de Damasco.
Recentemente, bombardeou o aeroporto de Allepo, que recebia auxílio de vários países para as milhões de vítimas do terremoto. Graças a um esforço hercúleo do governo sírio, o importante aeroporto voltou a funcionar 72 horas depois do ataque. No último fim de semana, Netanyahu mandou bombardear os arredores de Tartous. Todo esse belicismo contra a Síria é para mostrar ao povo judeu que ele está atacando a Síria, um dos seus principais inimigos, tentando abrir a válvula de pressão.
Entretanto, essa artimanha não surtiu efeito. Centenas de milhares de israelenses continuam indo às ruas de Tel Aviv, Haifa, Acco, Jerusalém, para pedir a cabeça de Netanyahu e sua gang.
E para piorar as coisas, os palestinos estão vingando os assassinatos de seus mártires. Quase todos os dias há um ataque palestino em resposta aos ataques sionistas em Jenin, Nablus, Jerusalém e outras cidades. Esse novo levante palestino aumenta o medo entre os sionistas e muitos já pensam em utilizar seus passaportes europeus e voltar aos países de onde vieram.
A intifada palestina está a causar uma enorme dor de cabeça nos governantes sionistas. Um êxodo judeu para fora da Palestina poderá estar se iniciando. Mas isso é papo pra outra ocasião.
*_Gilberto Feres Abrão é escritor e serviu nas forças de paz do Brasil no Canal de Suez e na Faixa de Gaza nas décadas de 1950 e 1960. _

 

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