Filho do Presidente da Síria é destaque na Olimpíada Internacio­nal de Matemática

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No Rio, filho de presidente sírio, Bashar Al Assad,  compete na Olimpíada de Matemática 


Hafez al-Assad, filho do ditador sírio Bashar al-Assad, na Olimpíada Internacional de Matemática
Foto: Fábio Guimarães / Agência O Globo

RIO – Modesto e descontraído em meio a outros colegas de time, Hafez al-Assad — filho do presidente sírio Bashar al-Assad, que tem o nome do avô — está no Rio para participar da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), que vai até sábado. Como se fosse apenas mais um competidor do time da Síria, o jovem de 15 anos falou, nesta segunda, a imprensa  em um inglês impecável sobre suas posições políticas e sua opinião a respeito da situação atual de seu país de origem. Na conversa, Hafez disse que nunca sairia da Síria e que é “um cara como outro qualquer”. A organização do evento confirmou que se trata do filho do presidente sírio e a Polícia Federal informou ainda que Hafez está no Brasil desde quinta-feira, numa operação cercada de sigilo. O rapaz contou que já esteve no Pão de Açúcar e no Corcovado. 

— Eu sei o tipo de homem que ele é como meu pai. Como presidente, as pessoas dizem muitas coisas. Muitas estão cegas. Mas isso (que as pessoas dizem) não é a realidade — disse Hafez quando perguntado sobre como se sentia ao ouvir que o pai é um “ditador”.

Filho mais velho de Bashar e Asma al-Assad, Hafez é figura conhecida em competições de ciências. Em julho do ano passado ele também participou da IMO, em Hong Kong. Na ocasião, o jovem estudante tirou fotos com seus colegas da seleção síria e publicou imagens que podem ser encontradas nas redes sociais. A página da Presidência síria no Facebook afirmou que, apesar de Hafez não ter ganhado uma medalha no evento, obteve menção honrosa e ajudou o time da Síria a alcançar a 48ª posição internacional.

Nas redes sociais, usuários leais ao regime de Assad chegam a chamar seu filho de “o futuro presidente”. Já opositores do regime ironizaram a participação de Hafez no evento e atribuíram a divulgação da notícia à propaganda do presidente para aumentar a popularidade do filho, que em janeiro de 2016 esteve na Olimpíada Síria de Ciências e ficou em sétimo lugar, de acordo com o site pró-regime “Damascus Now”.

Prontamente indicado por seus colegas para falar em nome do time, Hafez al-Assad contou ao GLOBO que esta não é a primeira vez que vem ao Brasil. O garoto afirmou que, em 2010, esteve no país durante visita oficial de seu pai. Entrosado com os outros membros da equipe, ele foi solícito ao responder às perguntas e adotou um tom diplomático na maioria delas. Questionado se sentia privilegiado por participar de um evento como esse, enquanto outros jovens da mesma idade vivem os horrores da guerra, o filho de Bashar al-Assad afirmou que se sentia honrado.

— Não acho que privilegiado seja a melhor palavra. Eu me sinto honrado por participar — afirmou, dizendo ainda que concorreu nas seletivas, assim como qualquer outro jovem sírio.

Por ser filho de Bashar al-Assad, você sente alguma pressão por parte dos outros competidores?

Sempre vivi como uma criança normal e os meus amigos me veem como uma pessoa normal. Sou tão normal quanto os outros.

Quando as pessoas descobrem que você é filho de Assad, elas mudam o tratamento?

Quando eu conheço novas pessoas não quero que as elas gostem de mim ou não pela minha família. Eu sou eu mesmo. Depois não muda muito porque todos percebem que eu sou um cara normal. É isso que eu quero mostrar para os outros.

Qual sua visão sobre os conflitos na Síria?

Eu sou um cidadão sírio como qualquer outro. Eu vivo e vejo o horror que está acontecendo no nosso país. A esperança nunca foi perdida na Síria. Não é uma guerra civil, são pessoas tomando o nosso lar. É uma guerra contra o povo. A população e o governo estão unidos contra os invasores que estão tomando o país.

Quanto tempo você acha que vai durar o conflito?

Do meu ponto de vista pessoal, eu espero que não dure muito mais, mas essas coisas realmente levam tempo para serem resolvidas. É mais complicado que isso. O conflito já dura seis anos e espero que esteja perto do fim. Faz muito tempo que o conflito começou.

Tem vontade deixar a Síria?

Nunca.

Quando vai para competições como esta, suas posições políticas são questionadas?

Algumas vezes acontece. Mas, eventualmente, quando percebem que eu sou um cara normal,

veem que é só um posicionamento político pessoal, independentemente de quem quer que eu seja.

O que quer estudar na faculdade?

Quero fazer engenharia, mas ainda não sei qual especialidade.

É uma responsabilidade grande participar do time.

Há uma expectativa maior por você ser quem é?

Não. Não sou o melhor do meu time. Sou a segunda geração do time sírio.

Talvez no ano que vem eu seja.

Não por quem eu sou, mas sim porque eu serei o mais velho.

O que você sente quando as pessoas dizem que seu pai é um “ditador”?

Eu sei o tipo de homem que ele é como meu pai.

Como presidente, as pessoas dizem muitas coisas.

Muitas estão cegas. Mas isso não é a realidade.

O que significa para você participar de um evento como esse em

um momento no qual a Síria passa por uma situação difícil?

Nós viemos mostrar para o mundo que o país está indo melhor, muito melhor.
E nesses tempos difíceis, uma geração como a nossa pode trazer a paz.

Se você fosse passar uma mensagem para os jovens da Síria, o que diria?
Eu diria que espero que a esperança nunca morra em nenhum deles.
E que há muitas oportunidades para eles.
A olimpíada é uma grande, brilhante oportunidade, mas há outras.
Com trabalho duro, isso pode ser atingido.
Que outras oportunidades?
Na ciência, por exemplo. Há outras olimpíadas de outros assuntos,
bolsas em instituições de ensino.
Com trabalho duro e esforço, se consegue.

Além da matemática, qual seu principal aprendizado na IMO?

A coisa mais importante que vimos aqui é que mesmo nos tempos mais difíceis, há esperança.

A olimpíada mostra isso.

Você fica cercado de seguranças aqui no Brasil?
Não. O Rio é uma cidade perigosa, mas fico com minha equipe normalmente.
Já estivemos no Cristo, no Pão de Açúcar e nada aconteceu.
É possível traçar algum paralelo entre o Rio e a Síria?
A capital Damasco é um pouco como o Rio. A maioria da cidade é segura, mas algumas áreas não.
Eventualmente, a violência pode ser resolvida. Com o tempo, ela pode ser controlada.

Sobre a Olimpíada de Matemática:
Metade da equipe brasileira participou da IMO- 2016

Mais de 600 estudantes do ensino médio, vindos de 111 países, participam até hoje das provas de matemática, num hotel na Barra da Tijuca. São os atletas da Olimpíada Internacio­nal de Matemática (IMO, na sigla em inglês), que acontece pela primeira vez no Brasil. A competição anual, iniciada em 1959 -então com apenas sete países- está em sua 58ª edição, com participação recor­de (623 estudantes).

São os atletas da Olimpíada Internacio­nal de Matemática (IMO, na sigla em inglês), que acontece pela primeira vez no Brasil.

 

Metade da delegação brasileira já participou da IMO-2016, em Hong Kong, quando o País obteve sua melhor colocação (15° lugar): João César Vargas, 19 (de Passa Tempo – MG) e Pedro Henrique de Oliveira, 18 (Campinas) leva­ram medalhas de prata; George Lucas Alencar, 18, de Fortaleza, ganhou bronze. Os demais integrantes nesta edição são André Hisatsuga, 17 (São Paulo), Bruno Meinhart, 16 (Fortaleza) e Davi Sena, 17 (Recife) (Foto acima).

Hafez al-Assad

Entre as centenas de atletas da Matemática, a edição brasileira da Olimpíada ganhou mais destaque após a revelação de que Hafez al-Assad, 15, filho do presidente da Síria, Bashar al-Assad, integra a delegação de seu país. A notícia foi dada pelo jornal “O Globo”, que conversou com o estudante e afirmou que sua identidade foi confirmada pela organização do evento e pela Polícia Federal. A IMO é a maior, mais antiga e mais prestigiosa olimpíada científica para alunos do ensino médio.

Fonte: O Globo e Folha press

 

 

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