A Administração Biden canta vitória, anunciando o iminente ataque e a derrota certa da Rússia. No entanto, um a um, os seus principais aliados torcem o nariz. Por seu lado, a Rússia lembra suas exigências de 17 de Dezembro de 2021 (o respeito do Direito Internacional pelos Estados Unidos) e manifesta a sua superioridade militar. O véu está a pontos de rasgar-se.
Este artigo dá seguimento a :
1. Escalada de Tensões 1- A Rússia quer obrigar os EUA a respeitar a Carta das Nações Unidas ← ORIENTE mídia (orientemidia.org), 5 de Janeiro de 2022.
2.Escalada de tensões (2) Washington prossegue o plano da RAND no Cazaquistão, a seguir na Transnístria ← ORIENTE mídia (orientemidia.org) 17de Janeiro de 2022.
4. Escalada de tensões (4) Washington e Londres, atingidos de surdez ← ORIENTE mídia (orientemidia.org)
6- Escalada de Tensões (6) Duas interpretações do processo ucraniano ← ORIENTE mídia (orientemidia.org)
Na frente do palco, os Estados Unidos, que continuam a recusar-se respeitar o Direito Internacional e, em particular, a Carta das Nações Unidas, deram respostas dilatórias à proposta russa de um Tratado que garanta a paz e fazem subir a tensão na Ucrânia. Fizeram subir a tensão acusando a Rússia de preparar uma guerra. Nos bastidores, Washington prepara novos teatros de confronto na Transnístria e no Médio-Oriente .
A Rússia desmentiu as afirmações dos EUA. Como resposta, ela realizou testes mostrando a sua superioridade militar.
Transnístria
Os Estados Unidos prosseguem o plano da Rand Corporation e tentam organizar um conflito na Transnístria. O bloqueio desta pequena república independente, mas não reconhecida, não funciona. Apesar dos guardas fronteiriços ucranianos criados pelo Alto Representante da União Europeia, Josep Borell, a fronteira com a Moldávia continua aberta. A Presidente Maia Sandu, que milita pela entrada do seu país na União Europeia, não quer guerra na Transnístria. Ela pretende substituir o contingente russo em Tiraspol por uma força civil da OSCE e não renuncia em recuperar a Transnístria.
No sábado, 12 de Fevereiro, as autoridades da Transnístria pediram ao Encarregado de Negócios dos EUA para parar o envio de armas dos EUA por terceiros Estados para a Moldávia. Elas sublinharam que essas transferências ameaçavam a paz e contradiziam o espírito dos acordos internacionais.
Na quarta-feira, 16 de Fevereiro, uma delegação transnistriana dirigiu-se a Moscou para buscar ajuda. Ela argumentou que a abertura da fronteira moldava não duraria muito: o Exército moldavo, enquadrado por oficiais do Pentágono e da União Europeia, está-se a movimentar para a zona neutral, violando os compromissos internacionais.
Sexta-feira, 18 de Fevereiro, realizou-se uma reunião moldavo-transnistriense ( «1+1» ) em Tiraspol, nos escritórios da OSCE. As negociações concentraram-se apenas em detalhes. Já não é possível sair com um veículo da Transnístria: a sua placa traz símbolos de secessão. Cada motorista deve, portanto, mudar a sua placa na fronteira. De forma idêntica, já não é possível entrar na Transnístria com medicamentos, mesmo de primeiros socorros. Isto, sem a menor explicação. Todos os medicamentos são apreendidos pelas alfândegas moldavas na presença de funcionários da União Europeia zombeteiros.
Síria e Líbano
É especialmente na Síria e no Líbano que a tensão sobe. Desde o fim de Outubro, os Estados Unidos e a Turquia recrutam de novo jihadistas entre aqueles que se instalaram, sob a sua custódia, em Idleb. Alguns foram enviados para a Ucrânia, mas a maior parte foi contratada para retomar o serviço contra a Síria e contra o Hezbollah libanês. No entanto, sabe-se que a maior parte deles são maus combatentes, à exceção dos que permanecem afiliados à Alcaida ou ao Daesh E.I.).
Para estruturar esses soldados, a CIA organizou o ataque a uma prisão de Hassaké na qual mercenários curdos detinham 3. 500 membros do Daesh. Os Curdos prestaram-se à encenação, aproveitando para declarar que tinham necessidade de mais armas e apoio dos EUA para guardar os prisioneiros. A maior parte dos jihadistas fugiram e juntaram-se à CIA. Depois, o Exército dos EUA transferiu os poucos chefes do Daesh que os Curdos haviam capturado para uma outra prisão, num lugar desconhecido, onde… a CIA os esperava. As aparências estão, portanto, salvas, mas a realidade é que os Estados Unidos reorganizam o Daesh (EI).
A reorganização da Alcaída operou-se de maneira mais visível. Abu Mohammad al-Julani, o chefe da Alcaída na Síria, depois emir do Tahrir al-Sham, foi “transformado”. Os Britânicos ensinaram-no a vestir traje ocidental e a falar sem ameaças de cortar a cabeça àqueles que lhe resistam. Mas, nem por isso ele deixa de ser o chefe da Alcaída na Síria.
Foi neste contexto que o Ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, se dirigiu a Damasco, em 15 de Fevereiro, e que o seu homólogo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, é aí esperado na Segunda-feira, 21 de Fevereiro.
Já Hassan Nasrallah, Secretário-Geral do Hezbollah, confirmou à Al-Alam TV que a sua rede de Resistência adquirira meios de defesa anti-aérea que lhe permitem proteger o Líbano da Força Aérea israelita, a qual viola todos os dias o seu espaço aéreo. Além disso, o Hezbollah revelou ter feito sobrevoar longamente Israel por um drone sem que fosse derrubado pelo seu Exército. Pouco antes, as Forças Aéreas síria e russa haviam iniciado patrulhas sobre o Golã sírio, ocupado ilegalmente por Israel, sem que Telavive reagisse.
Ucrânia
Para compreender bem aquilo que se joga na Ucrânia, é preciso voltar alguns dias atrás. Em 11 de Fevereiro, o Presidente Joe Biden convocou os seus principais aliados para uma reunião por vídeo. Anunciou-lhes uma invasão iminente da Ucrânia pela Rússia. A agência Bloomberg informou que a comunidade de Inteligência previa-a na noite de 15 para 16. Depois, o Presidente Biden dirigiu-se aos seus concidadãos pela televisão. Explicou-lhes que se a Rússia atacasse isso o deixaria consternado, e que os Estados Unidos e os seus aliados estavam prontos.
Antes mesmo dele falar, a Rússia havia anunciado retirar as suas tropas da Bielorrússia e da fronteira ucraniana, tendo terminado os seus exercícios militares, mas Washington não tinha tido tempo de verificar. Moscou assegurou que elementos da OTAN preparavam uma provocação, da qual o Pentágono havia acusado a Rússia algumas semanas antes. Seja como for, tornava-se difícil para os Aliados acusar Moscou de invadir a Ucrânia.
Em 15 de Fevereiro, a Duma Federal adoptou uma Resolução apresentada pelo Partido Comunista (quer dizer, pelos nacionalistas) pedindo ao Presidente Putin para reconhecer a independência das duas Repúblicas populares de Donestsk e de Luhansk. Por outras palavras, se a Ucrânia aproveitasse a retirada militar russa para atacar o Donbass, a Rússia reconheceria a sua independência e seria forçada a intervir porque a sua Constituição indica que o seu Presidente é responsável pela vida dos seus concidadãos. Ora, a maioria dos habitantes do Donbass tem uma tripla nacionalidade: ucraniana, independentista e russa.
No mesmo dia, o Presidente Putin recebia o Chanceler alemão, Olaf Schlotz. Tal como com o Presidente francês, Emmanuel Macron, a reunião foi particularmente longa. Parece que o Russo detalhou ao seu visitante a atitude da Subsecretária de Estado, Victoria Nuland, no Kremlin. Surpreso por aquilo que ficou a saber, o Chanceler, assim como o Presidente francês, absteve-se de quaisquer declarações anti-russas no seu retorno a Berlim. O mesmo cenário se repetiu, em 19 de Fevereiro, com o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Na noite de 15 para 16, o Exército russo não invadiu nenhum Estado. A imprensa dos EUA pediu ao Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sulivan, para explicar porque havia avançado tal data, mas este fez marcha atrás e garantiu jamais ter indicado qualquer data.
De modo inesperado, o Secretário de Estado, Antony Blinken, foi, em 17 de Fevereiro, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Acusou a Rússia de «violações persistentes» dos Acordos de Minsk, quando é Kiev que os rejeita. Garantiu intervir para defender « a ordem internacional baseada em regras que preservem a estabilidade no mundo », quer dizer, não o Direito Internacional, mas o direito dos Ocidentais. Então, ele revelou o plano oculto do Kremlin: « A Rússia pensa fabricar um pretexto para o seu ataque. Poderá tratar-se de um acontecimento violento pelo qual a Rússia culpará a Ucrânia, ou de uma acusação aberrante que a Rússia fará contra o governo ucraniano. Não sabemos exatamente a forma que isso vai tomar. Poderá tratar-se de um dito atentado “terrorista” à bomba no interior da Rússia, da pretensa descoberta de uma vala comum, de um ataque de drones encenado contra civis ou de um falso, ou mesmo real, ataque com ajuda de armas químicas. É possível que a Rússia qualifique este evento de limpeza étnica, ou de genocídio, e faça pouco caso de um conceito que não tomamos com ligeireza no seio desta instância, e que eu não considero de ânimo leve dado o passado da minha família ».
Antony Blinken fazia referência, com esta incidência, ao seu padrasto, Samuel Pisar, que o criou em Paris. Este era um sobrevivente da « Solução Final da Questão Judaica ». Mas ele não criou nenhum ódio por isso, apenas uma aguda consciência do Mal. Tornou-se Conselheiro do Presidente Kennedy, depois advogado internacional das maiores corporações. Ficou revoltado pelas afirmações do Professor Leo Strauss, que afirmava como sendo indispensável ao Povo judaico instaurar uma ditadura mundial para escapar de uma « nova Shoah ». Seguramente, Samuel Pisar ficaria aterrado perante a evolução do seu genro e do grupo que ele formou com sua adjunta, Victoria Nuland, e com o Conselheiro de Segurança Nacional, Jacob Sullivan.
A OSCE confirma que foram retomados os combates no Donbass. Elementos do Exército ucraniano enquadrados pelos Estados Unidos, provavelmente o batalhão Azov e um outro grupo, bombardeiam os separatistas. Os Presidentes das duas repúblicas independentes de Donestsk e de Lugansk convocaram os seus concidadãos à mobilização geral, se forem homens entre 18 e 55 anos, ou a partirem para se refugiar no estrangeiro, se forem mulheres, crianças e idosos habitando na proximidade da linha de contato militar. A Rússia declarou querer acolher-los a todos. Todas as regiões da Federação anunciam, uma após a outra, criar estruturas para os receber. O Estado federal oferece-lhes um pequeno pecúlio para a sua instalação provisória.
Para o Departamento de Estado, que ordenou aos seus cidadãos que deixassem a Ucrânia, este deslocamento populacional é a prova de que Moscou vai passar à ofensiva… Cada informação é interpretada de maneira contraditória pelas duas partes.
Recusando tomar partido neste conflito, Israel renunciou a instalar uma « Cúpula de Ferro » (defesa anti-foguetes) por conta de Kiev contra o Donbass.
Em 18 de Fevereiro, o Presidente Biden falou aos parlamentares dos EUA e à sua Vice-Presidente que partiram para representar o país na Conferência sobre Segurança de Munique. Depois convocou novamente os seus principais aliados transatlânticos por videoconferência. Felicitou-se por ter adiado o ataque russo e acusou Moscou de persistir nos seus planos. Ele afirmou que todos os Aliados estavam prontos e que a Rússia, se passasse à ação, irá ver o que lhe acontecerá.
O Presidente Putin respondeu-lhe ordenando uma demonstração das forças nucleares da Federação. Vários mísseis, de diferentes alcances, foram disparados a partir do solo, de um submarino, de navios de superfície e de aviões. Estavam equipados com cargas convencionais e todos atingiram o seu alvo na presença de observadores estrangeiros, entre os quais um oficial dos EUA.
Os Estados Unidos escalam a tensão com palavras, a Rússia por atos. A este propósito, repetimos mais uma vez que os Exércitos dos EUA não são capazes de travar uma guerra de alta intensidade. Se conseguiram sem dificuldade destruir países do Terceiro Mundo, depois de os terem colocado sob embargo durante pelo menos uma década, eles não estão preparados para se confrontar com um exército moderno. O seus principais aliados (Reino Unido, França e Turquia) estão no mesmo estado. A título de exemplo, em 16 de Fevereiro, um relatório foi apresentado em Paris à Comissão de Defesa Nacional e das Forças Armadas sobre a deterioração do Exército francês. Os deputados observaram que, dado o estado do equipamento, a Força Aérea francesa não conseguirá resistir mais de cinco dias às forças russas. É, portanto, bastante claro para todos os protagonistas que a OTAN não está absolutamente em condições de fazer guerra à Rússia e à China.
Para surpresa geral, os Estados Unidos não conseguiram impor uma atmosfera marcial em Munique. Os Europeus ficaram bastante irritados com a pressão muito forte da Casa Branca. Quando se pronunciou, o Chanceler Scholtz falou com uma voz monótona, tomando cuidado para nada dizer de comprometedor. Todos na sala sabiam que uma investigação sobre um caso sórdido, no qual ele esteve envolvido durante o seu mandato na Prefeitura de Hamburgo, fora estranhamente relançado. Muitos, imaginaram-no pois sob o efeito de uma chantagem. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que a Casa Branca havia tentado dissuadir de vir, foi o foco de todas as atenções. Ele apelou repetidamente por ajuda, menos contra Moscou do que face a Washington.
Conclusão provisória
Claro, é sempre possível um confronto na Ucrânia, ou amanhã na Transnístria ou no Médio-Oriente. Mas não responde à pergunta inicial, colocada em 17 de Dezembro de 2021 pelo Kremlin: como é que os Estados Unidos podem pôr-se em conformidade com o Direito Internacional e o respeito pela palavra dada ?
Pela primeira vez, dois grandes média alemães, Der Spiegel [1] e Die Welt [2], mostraram que é a Rússia quem tem razão quanto à interdição da extensão da OTAN para lá da Alemanha de Leste. Citando um perito reputado na questão, o Professor assistente Joshua Shifrinson da Universidade de Boston, estes média revelaram a existência de um documento, datado de 6 de Março de 1991, recém saído dos arquivos secretos do Reino Unido. O representante da Alemanha declara nele —« Não podemos propor à Polónia e aos outros países para aderir à OTAN »— e o dos Estados Unidos sublinha aí que a Aliança não deve estender-se para o Leste, seja de maneira « formal ou informal ». Como se isso não bastasse, o antigo Secretário de Estado parlamentar alemão e antigo Vice-Presidente da OSCE, Willy Wimmer, deu uma entrevista ao Russia Today, imediatamente traduzida para inglês e transmitida nos EUA antes de ser transmitida na Alemanha [3]
. Nela ele testemunha ter participado nas negociações sobre a reunificação alemã e ter ele próprio redigido o Protocolo Adicional interditando às forças da OTAN estacionar, uma vez a reunificação completada, no território da antiga Alemanha de Leste.
Coloca-se pois uma questão : porque é que a Administração Biden, que não é apoiada pelos seus aliados, prossegue e amplifica as suas acusações contra a Rússia com risco de provocar uma deflagração ? Talvez a investigação em curso nos EUA do Promotor especial, John Durnham, sobre o caso das escutas na Casa Branca esteja a precipitar as coisas. Segundo a Fox News [4], o Procurador pensa que Hillary Clinton espiou o Presidente Donald Trump na Casa Branca e no seu domicílio interceptando todos os seus dados de navegação Internet. Esta operação terá sido organizada pelo seu conselheiro de política estrangeira, « Jake » Sullivan, atual Conselheiro de Segurança Nacional. Foi com base nesses dados ilegalmente interceptados e manipulados que o Congresso abriu um processo de destituição (“impeachment”), o RussiaGate.
Alva
1] «NATO’s Eastward Expansion: Is Vladimir Putin Right?», Der Spiegel International, Klaus Wiegrefe, February 15, 2022.
[2] «Archivfund bestätigt Sicht der Russen bei Nato-Osterweiterung», Die Welt, 18. Februar 2022.
[3] «NATO did promise Moscow it wouldn’t expand, former German defense official tells RT», Russia Today, February 19, 2022.
[4] «Durham Probe», Fox News.