A escolha dos Anglo-Saxónicos em ignorar a proposta russa de um Tratado garante da paz e de o substituir pela fantasia de uma crise ucraniana não dá frutos. A França agita-se, a Alemanha está paralisada, mas a Hungria é susceptível de arrastar os seus vizinhos para uma posição idêntica à da Rússia : a defesa do Direito Internacional.

Viktor Orbán e o seu amigo Vladimir Putin Viktor Orbán Facebook
Este artigo dá seguimento a :
1. Escalada de Tensões 1- A Rússia quer obrigar os EUA a respeitar a Carta das Nações Unidas ← ORIENTE mídia (orientemidia.org), 5 de Janeiro de 2022.
2.Escalada de tensões (2) Washington prossegue o plano da RAND no Cazaquistão, a seguir na Transnístria ← ORIENTE mídia (orientemidia.org) 17de Janeiro de 2022.4. Escalada de tensões (4) Washington e Londres, atingidos de surdez ← ORIENTE mídia (orientemidia.org)
Após a vazamento das respostas da OTAN e dos Estados Unidos à proposta russa do “Tratado para a garantia da paz”, o Reino Unido denuncia o ataque do Exército russo contra a Ucrânia, na quarta-feira 16 de Fevereiro (hora não-revelada). Muitos Estados membros da Aliança Atlântica enviam soldados e armas para a Ucrânia e arredores, enquanto outros membros da Aliança enviam os seus dirigentes para encontros com as autoridades russas em Moscou.

Vladimir Putin e Emmanuel Macron (8 de Fevereiro de 2022). Kremlin
Emmanuel Macron mete-se em cena
A viagem mais importante foi a do Presidente francês e Presidente do Conselho Europeu, Emmanuel Macron. Ele partiu para o Kremlin com a ideia de acalmar as coisas e de evitar uma guerra inútil a propósito da Ucrânia. A sua viagem situava-se na linha da do seu antecessor, Nicolas Sarkozy, durante a guerra da Geórgia: não fazer nada, mas dar a impressão de parar o selvagem urso russo quando este estava já satisfeito.
O Presidente Vladimir Putin não tinha intenção de negociar fosse o que fosse com ele, na medida em que o Tratado proposto apenas diz respeito aos Estados Unidos. No entanto, uma vez que francesinho vinha discutir assuntos que não conhecia, o mestre do Kremlin, que trata deles há 24 anos, ficou feliz em lhos explicar. Ele não esperava qualquer reação, contentando-se em mostrar-lhe o desconforto da sua posição: o Presidente Macron não poderia trair o seu suserano Otaniano e defender, de repente, os interesses franceses que não parara de negligenciar.
A reunião durou cinco horas, prova da importância que a Rússia atribui à França. Nada resultou evidentemente, a não ser, durante a conferência (coletiva-br) de imprensa, a lembrança de que a Rússia é uma potência nuclear. Seja como for, o Presidente Macron esperava poder anunciar que tinha salvado a paz. No seu regresso a Paris, ele declarou, pois, que um acordo havia sido alcançado e que a Rússia não invadiria a Ucrânia, o que o Kremlin não deixa de apregoar há semanas. Azar, o porta-voz do Kremlin, Dimtry Preskov, respondeu imediatamente que os dois Presidentes nada haviam negociado e, portanto, nada haviam concluído.
Não tendo a França outros meios de ação além de negociações para a estabilização da Ucrânia, continuou com as reuniões no « formato Normandia » (Ucrânia, Rússia, França, Alemanha). O resultado era conhecido de antemão: os acordos de Minsk entre o governo de Kiev e os separatistas dos dois oblasts de Donetsk e de Lugansk continuam a não ser aplicados porque Kiev, que os assinou, os rejeita. Em caso algum quer Kiev promulgar qualquer estatuto particular para a sua população russófona. Aliás, a lei vai até à interdição do ensino em russo, num país que é metade de expressão russa.
Qualquer governo, em qualquer parte do mundo, teria aceite essa exigência legítima. Kiev explica a sua recusa lembrando que assinou os seus acordos sob pressão, mas que jamais os quis. Os separatistas, esses, sublinham que o Exército ucraniano posicionado à sua frente inclui o batalhão Azov, brandindo símbolos nazis e comandado pelo auto-proclamado « Führer branco », o Coronel Andrey Biletsky. E esses indivíduos, enquadrados pelos mercenários de Erik Prince (o fundador da Blackwater), gritam que vão aniquilar estes russkofs que não param de bombardear. É por isso que os separatistas proclamaram a sua independência que, infelizmente, ninguém reconheceu, nem mesmo a Federação da Rússia.
A França teria exigido que a Ucrânia colocasse alguma ordem no seu exército, mas nada disso se passa. Erik Prince age como um empreiteiro privado, mas todo a gente sabe que atua sob instruções da CIA, que já utilizou Andrey Biletsky e alguns outros para derrubar o Presidente Viktor Yanukovych, em 2014. O círculo está fechado, a situação é insolúvel.

Olaf Scholtz e Joe Biden : uma reunião verdadeiramente muito longa, demasiado longa (7 de Fevereiro de 2022). Budenskanzler
Olaf Sholz tergiversa
O Chanceler alemão, Olaf Scholtz, por sua vez, foi a Washington. Ele não acredita mais do que os Franceses numa possível guerra na Ucrânia, mas teme que os Estados Unidos interditem o gasoduto Nord Stream 2, sob um pretexto ou outro. Ora, este é indispensável para o desenvolvimento económico da Alemanha. Ele não substituirá o gasoduto que atravessa a Ucrânia, mas permitirá responder à crescente demanda por energia. Sem ele, a indústria alemã não conseguirá ser produtiva.
A situação do seu país é muito difícil na medida em que abriga mais de 40. 000 soldados dos EUA em bases hiperdefendidas e beneficiando de extraterritorialidade. A Alemanha, que oficialmente já não está ocupada, não é senhora em sua casa. Por outro lado, o país confiou a sua defesa à OTAN e negligenciou o seu exército. Ele nem sequer cumpre as obrigações da Aliança Atlântica na matéria. Se tivesse que enfrentar os Estados Unidos, apenas resistiria algumas horas.
Para formar o seu governo, o socialista Olaf Scholtz teve que se aliar com os Verdes (Grünen), o Partido mais atlantista da Europa desde Joshka Fischer e as guerras da Yugoslávia. Ele foi forçado a designar Annalena Baerbock como Ministra dos Negócios Estrangeiros; uma ambientalista que milita contra tudo que é russo, nomeadamente o gás.
O Chanceler Scholz mantêm, portanto, a ambiguidade. Na Casa Branca, ele não parou de repetir que o seu país e os Estados Unidos agiriam sempre em concerto, mas evitou cuidadosamente dizer o que fariam. A classe política norte-americana olha-o agora com desconfiança.

« O gaz russo, é uma redução de custos generalizada ! » Facebook Victor Orbán
Viktor Orbán rejubila
O Primeiro-Ministro húngaro, o democrata-cristão Viktor Orbán, que era apresentado há pouco como « fascista », felicita-se pelo seu posicionamento atípico. Ele é o único dirigente de um país europeu e da OTAN a manter uma longa amizade pessoal com Vladimir Putin. Os dois homens encontram-se calorosamente pelo menos uma vez por ano (salvo durante a epidemia de Covid).
Viktor Orbán começou na política lutando pela independência da Hungria contra os Soviéticos, mas nunca foi anti-russo, o que os Norte-Americanos não compreendem. No entanto é simples. Ao adoptar a doutrina Brezhnev, a URSS forçou o Pacto de Varsóvia a tornar-se o equivalente da OTAN: um suserano e seus vassalos. É, pois, pela mesma razão que lutou contra os Soviéticos que ele hoje se indigna com o comportamento da OTAN.
Em fins de 2021, ele negociou com o seu amigo Vladimir o aprovisionamento energético do seu país. Primeiro a extensão pela Rosatom de uma usina nuclear até satisfazer todas as suas necessidades de eletricidade, depois a compra cinco vezes mais barata, que os preços de mercado à época, de todo o gás necessário para 16 anos. Além disso, obteve a construção de uma grande estrada de ferro e a produção da vacina (no sentido de Pasteur) anti-Covid Sputnik V.
O Primeiro-Ministro Orbán nunca opôs veto às sanções anti-russas da União Europeia. Isso teria sido demais nas suas relações com Bruxelas e, de qualquer maneira, inútil, na medida em que Moscou utiliza essas sanções para reorientar a sua economia sem ter que tomar medidas autoritárias. Pelo contrário, ele opôs-se firmemente à adesão da Ucrânia à OTAN, o que requer o acordo de todos os Estados membros. Neste ponto, escolheu como argumento a recusa de Kiev em aplicar os Acordos de Minsk e em reconhecer a língua russa.
De fato, é ele quem poderá desempenhar o papel do Presidente Charles De Gaulle em 1966: fazer sair o seu país do comando integrado, mantendo-se signatário do Tratado do Atlântico Norte. Na sombra, os seus três parceiros do Grupo Visegrád, a Polónia, a República Checa e a Eslováquia observam-no.
A Croácia do social-democrata Zoran Milanović fez já saber que não participará numa guerra da OTAN contra a Rússia. A Macedónia do Norte, do socialista Dimitar Kovačevski, deu o seu apoio a Moscou. O Pentágono sente o perigo : a unidade da Aliança Atlântica está abalada. Ele começa já a garantir legalmente as suas bases na Europa. Acaba de assinar um contrato de arrendamento, com extraterritorialidade, na Eslováquia. Inicia também negociações bilaterais com a Dinamarca para estabelecer um Acordo de Cooperação de Defesa fora da OTAN.
Alva