Por Jihan Arar*.
Um relato da recepção do Exmo. Sr. Faissal Mekdad, Vice-Ministro de Relações Exteriores e Expatriados da Síria, durante a visita do Grupo Brasileiro de Solidariedade com a Síria.
O Dr. Faissal Mekdad agradeceu emocionado a relevante posição de apoio do Grupo de Solidariedade com a Síria e disse que a sensação agora é de que as coisas estão melhorando na Síria, especialmente depois de desmascarada a mentira sobre a chamada “revolução síria”, porque o que a síria assistiu nos últimos três anos está muito longe das reivindicações populares por liberdade e democracia e é esta ideia que tentaram semear na mente dos brasileiros.
Quando os imperialistas tentaram mudar o comando socialista, tentaram estender este plano à região árabe, mas nós estamos felizes porque as forças progressistas já começaram a atuar, especialmente através do apoio dado à Síria pelo Partido Comunista russo. As forças imperialistas promoveram uma campanha monstruosa contra a Síria, utilizando-se de seus mecanismos midiáticos, incluindo a imprensa brasileira, para enganar o público sobre a realidade do que acontece na Síria. A situação na Síria era uma das melhores da região em função de seu desenvolvimento econômico e social. Nós dependemos de nosso povo para vencer as quadrilhas de terroristas armados apoiados pela Irmandade, liderada pela Turquia, além da Arábia Saudita e da Jordânia. A Síria se tornou alvo destes países porque foi o único país que reservou um orçamento e colocou seu exército à disposição para apoiar a causa palestina e a recuperação dos territórios palestinos. Israel e Estados Unidos não conseguiram executar seus planos para a região devido a esta posição síria. Os grupos terroristas conseguiram destruir boa parte da infraestrutura síria porque dispõem de financiamentos milionários por parte da Arábia Saudita e dos países do Golfo. Aos que acreditam que na Síria falta a democracia e os direitos humanos, digo que estão errados, especialmente se analisarem a situação dos direitos humanos na Arábia Saudita e demais países do Golfo.
Nós ficamos tristes quando vemos a imprensa brasileira falando sobre este assunto. Desde o início, sempre afirmamos que a crise só pode ser solucionada pelos meios pacíficos, mas existe uma campanha enganosa mundial, que inclusive acusou a Síria de fazer uso de armas químicas, apesar de termos provas contundentes do envolvimento da Turquia nisso. E desde o início da crise, sempre afirmamos nossa disposição de rever tudo, inclusive a nossa Constituição, as eleições, o pluripartidarismo e a liberdade de imprensa. No final das contas, serão eleitas as pessoas que o povo sírio escolher. Porém existia um mascaramento da situação e uma reivindicação por parte dos Estados Unidos e da Arábia Saudita para derrubar o Sr. Presidente Bashar Al Assad, apesar de que a família governante da Arábia Saudita está no poder desde 1923 e seu chanceler está no cargo a mais de 40 anos e, apesar de tudo isso, falam em democracia com o apoio dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, especialmente a França e a Grã Bretanha”.
Mekdad acrescentou: O Governo da Síria acolheu as decisões da 1ª. Conferência de Genebra, realizada em junho de 2012, e a solução política proposta pelos russos e americanos, mas as outras partes, incluindo a oposição, a Arábia Saudita e os Estados Unidos, estão procrastinando a realização da Conferência. Nós acolhemos os avanços na situação internacional, recentemente personificada pelo acordo para a destruição das armas químicas sírias e pelo acordo 5+1 sobre a questão nuclear iraniana. Nós esperamos que esta situação positiva se reflita sobre os demais temas na região, especialmente na Síria e na Palestina. Foi definida a data de 22 de janeiro próximo para a realização da Conferência de Genebra II e nós estamos dispostos a participar desta conferência e nossos temas já estão prontos, mas o ataque à Síria não se resume ao treinamento, financiamento e armamento do terrorismo, que tem aumentado sua escalada nas últimas semanas.
Acredito que não há um assunto mais importante para ser acordado entre os sírios em Genebra do que o combate ao terrorismo. Quanto aos outros temas, como o sistema presidencial ou que o regime deva ser governado por um primeiro ministro, acredito que os sírios não vão divergir sobre assuntos como estes. Os americanos tentaram, em sua última reunião com os russos, definir, antecipadamente, os resultados da Conferência, mas os russos rejeitaram. O acordo que fizemos com os russos prevê que a realização desta conferência não pode ter condições prévias e que o acordo deve ocorrer entre os sírios, sem nenhuma interferência externa e nós apoiamos o princípio estabelecido pela Conferência de Genebra I, que prevê o acordo entre as partes. É claro que a delegação do governo sírio será presidida pelo Sr. Presidente Bashar Al Assad, que dará as instruções e nós as seguiremos. É ele quem irá assinar a nossa presença na Conferência. Mas nós não sabemos quem assinará pelas outras partes porque não há uma oposição síria, mas sim oposições. Se nós, por exemplo, dermos uma ordem de cessar fogo ao exército sírio, ele cumprirá a ordem, mas quem vai dar uma ordem de cessar fogo aos terroristas, caso haja acordo para a realização desta Conferência? Esta é a posição do Presidente Bashar Al Assad e nós queremos uma oposição real que tenha uma representatividade dentro da Síria e não uma oposição instituída pelo Catar ou pela Arábia Saudita ou pela Turquia ou pela Grã Bretanha ou pela França ou pelos Estados Unidos. Porque qualquer uma destas oposições virá à Conferência com a agenda do serviço secreto do país que a patrocina. Apesar de tudo isso, nós ouviremos o que estas oposições têm a dizer, mas quanto à insistência da França, da Grã Bretanha e da Arábia Saudita de depor o Sr. Presidente Bashar Al Assad antes da Conferência, isso ocorre por dois motivos:
1- Pelo objetivo de desmantelar a Síria antes do início das negociações porque o Presidente Bashar representa o símbolo da unidade nacional.
2- Estes países estão cientes de que o Presidente Bashar Al Assad vencerá nas urnas e reconhecem a inexistência de alternativas, assim como reconhecem a falta de representatividade da oposição na Síria.
Nós iremos à Conferência de Genebra II e diremos que as urnas decidirão quem liderará a Síria. Falarei agora sobre as relações entre a Síria e o Brasil, especialmente porque estou diante de alguns formadores de opinião do Brasil. Acredito que os jornais “Folha de São Paulo” e “Estadão” não devem conduzir as decisões brasileiras, apesar de que nós recebemos os enviados destes dois jornais, por recomendação do ex Presidente brasileiro. Nós garantimos a eles a proteção, mas fomos surpreendidos pela escolha deles de ir junto nos lugares onde estão os terroristas armados, nas proximidades de Damasco. Eles não falam sobre a existência do terrorismo na Síria. Recebemos também o Pinheiro (Paulo Sergio Pinheiro), o Chefe da Comissão de Investigação sobre a Síria, como um cidadão brasileiro, por recomendação do Chanceler Patriota, apesar de obtermos informações de que ele apoiava a repressão contra o povo brasileiro no passado. Fiquei triste ao saber que ontem o Ministério das Relações Exteriores falou, em nota, sobre a atuação do Pinheiro na solução da crise na Síria.
O que nós queremos de vocês é que vocês atuem para recuperar as relações calorosas que existiam entre a Síria e o Brasil, porque nós nos orgulhamos destas relações e dos laços de sangue que unem os sírios e os brasileiros. Nós somos gratos pela posição oficial brasileira de não interferência nos assuntos internos da Síria e pelo apoio à unidade dos territórios e do povo, mas esta é a posição da maioria dos países do mundo.
Nós sentimos que há uma melhora sensível nas relações e esperamos uma atuação mais ativa do Brasil em todas as ocasiões
Jihan Arar é tradutora da Embaixada Síria em Brasília.