Campanha midiática israelense contra os libaneses no Brasil

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Por  Ali Farhat

Al Akhbar, 14 de novembro de 2023PF prende 2 e faz buscas em MG, DF e SP contra suspeitos de planejar atos de terrorismo | Política | G1

Dificilmente ocorre qualquer agressão israelense na Palestina ou no Líbano, a menos que seja acompanhada por uma agressão midiática e psicológica contra residentes libaneses no Brasil e na sua vizinhança. Os libaneses economicamente ativos têm sido um alvo dos israelenses e americano há mais de duas décadas, e foram feitas acusações contra eles com o objetivo de demonizá-los, questionar o seu patriotismo e, muitas vezes, chantageá-los financeiramente e até psicologicamente. O tipo mais recente desses ataques ocorreu por meio de intensas campanhas midiáticas tendo como pano de fundo a prisão de dois brasileiros e de um sírio com cidadania libanesa, com base em informações enviadas pelo Mossad israelense à Polícia Federal brasileira.

Nos primeiros momentos da prisão dos brasileiros Lucas Lima e Gian de Souza, os principais meios de comunicação distorceram deliberadamente a nacionalidade dos detidos e continuaram a repetir durante três dias que se tratava de libaneses que procuravam lançar ataques aos interesses “judaicos” no Brasil a pedido do Hezbollah. Mas a surpresa veio das autoridades judiciais, que negaram o que foi promovido. Note-se que os dois jovens ficaram surpresos com a acusação, e um deles chorou e disse: “Nem sei quem é o Hezbollah”, enquanto o outro disse que ficou surpreso com este caso que o rotulou de terrorista apenas porque ele “viajou muito, especialmente para o Líbano”. Quanto ao réu sírio que está foragido, Muhammad Khair Abdel Majeed, ele foi acusado de publicar fotos suas vestindo uniforme militar em sua conta no Facebook, em tese na Síria, enfrentando os terroristas do ISIS e Frente Al Nusra. O histórico de Abdel Majeed mostrou que ele tem passagem por suspeita de contrabando e venda de bebidas alcoólicas e outros bens.

Embora a Mossad tenha cooperado com a Polícia Federal brasileira neste caso, esta questão quase derrubou as relações entre os dois países, depois que a mídia israelense informou que o serviço de inteligência israelense assumiu a responsabilidade pelo que chamou de desmantelamento de uma célula do Hezbollah no Brasil. Este foi um anúncio que irritou o governo brasileiro, que emitiu uma declaração contundente, considerando que não trabalha dentro de agendas externas, que está cumprindo seu dever e não pode emitir decisões prévias, e que suas funções se limitam a investigar apenas e enviar o processo ao judiciário para a decisão. A declaração oficial emitida pelas autoridades de segurança no Brasil também alertou o Mossad sobre a possibilidade de interromper qualquer cooperação de informação ou inteligência se o atual comportamento que mina o prestígio do Brasil e de suas instituições, continuar.

Dois brasileiros e um sírio são acusados ​​de formar uma célula do Hezbollah, e o governo Lula denuncia a interferência do inimigo!

O assunto não parou por aí. Depois que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tuitou sobre o “crédito” de seu país em frustrar esta operação, teve ainda a atuação do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Sonshine, que se reuniu com 0  ex-presidente Jair Bolsonaro, na tentativa de dedicar o crédito da evacuação de brasileiros da Faixa de Gaza a ele, o que irritou muito o governo brasileiro.

O Ministro da Justiça, Flávio Dino, rapidamente condenou estas ações, alertando contra uma violação da soberania do seu país, sublinhando que a questão levantada era “apenas uma suspeita cuja verdade estamos a trabalhar para descobrir”, e apelou a não criar uma atmosfera que possa prejudicar a presença no país dos ativos imigrantes libaneses.

Quanto ao Palácio Presidencial, este, expressou a sua indignação pelo comportamento do embaixador israelense. Fontes do palácio disseram ao Al-Akhbar que o presidente está considerando seriamente a expulsão do embaixador israelense, e este comportamento “ já não é tolerável”, segundo a fonte.

Esta crise revelou uma tentativa flagrante de Israel de liderar uma guerra abrangente através do Atlântico, ignorando governos e instituições locais. Chegou ao ponto em que o jornalista brasileiro Pepe Escobar acusar Israel de tentar derrubar o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, por descrever a guerra em Gaza como genocídio e apelou a um cessar-fogo imediato, restaurando todos os direitos palestinos e concedendo aos palestinos um Estado com Jerusalém Oriental como capital.

Por sua vez, o analista político brasileiro Leonardo Stoppa disse ao Al-Akhbar que o Brasil é um país que não aceita insultos e hoje, não é governado por Bolsonaro, que expôs a soberania do país à interferência estrangeira, apontando que o embaixador sionista é “uma pessoa hostil à democracia brasileira e nosso governo deve expulsá-lo imediatamente.” Stoppa apelou à Polícia Federal para esclarecer imediatamente o caso dos detidos porque parece ter sido planejado com intenções maliciosas, e descreveu Israel como uma “entidade doente liderada por um primeiro-ministro motoqueiro”.

O que as embaixadas e consulados fazem no Brasil?

A sorte dos libaneses residentes no Brasil pode parecer boa porque desfrutam do governo de Lula da Silva, que os conhece de perto, os corteja em todas as ocasiões e não aceita que se tornem reféns de uma mídia hostil que controla o humor do público, a opinião e cria um estado de ódio aos expatriados que contribuíram para a construção do Brasil e o desenvolvimento de sua economia. Mas esta sorte vacila quando os libaneses descobrem que a sua embaixada e consulados nada mais são do que instituições falidas, que não lhes prestam qualquer assistência em crises, mas antes aparecem num estado de conluio e deixando os nacionais como presas de outros.

A missão diplomática libanesa está interessada em construir relações com a extrema direita, com as suas instituições e personalidades, como o presidente do “Clube do Monte Líbano”, Claudio Daoud, que emitiu um comunicado em nome do clube no qual expressou a sua solidariedade com “a vítima Israel que caíu nas mãos do terrorismo palestino”, desejando que “Israel recupere a sua força e supere esta tragédia”. Entretanto, este clube, que o Consulado do Líbano em São Paulo considera parceiro e amigo, não emitiu qualquer condenação aos crimes sionistas em Gaza.

Vale ressaltar que o Cônsul do Líbano em São Paulo, Rudi Al-Qazzi, não respondeu a nenhum apelo de solidariedade com Gaza, sob o pretexto de se manter afastado das atividades políticas nesta fase, enquanto trabalhava para conter a ira libanesa no Brasil contra as posições dos “parceiros do consulado”, apelando a ativistas e associações para compreenderem este assunto.

Quanto ao nível de instituições conjuntas entre Brasil e Líbano, destacou-se a Frente Parlamentar Libanesa-Brasileira*, lançada pela Encarregada de Negócios da Embaixada do Líbano, Carla Jazzar, no dia 2 de agosto passado. , a surpresa é que a lista de parlamentares da Frente compartilha 28 deputados com a Frente Parlamentar Israelense, liderada por Abilio Brunini, que apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de resolução para incluir o Hamas e o Hezbollah na lista de terroristas e apoiar o massacres na Palestina.

Quanto à segunda representante da Frente Parlamentar Libanesa-Brasileira, Carla Zambelli, apoiante de Israel .ela atua nas redes sociais para incitar contra os libaneses, promovendo a teoria de uma “célula do Hezbollah no Brasil”.

O terceiro representante na frente parlamentar libanesa-brasileira é Gustavo Guyer, que preparou uma longa lista que incluía nomes de pensadores, professores, jornalistas e ativistas políticos brasileiros simpatizantes da causa palestina e a enviou à embaixada americana, que levou ao cancelamento dos vistos de todas as figuras que denunciou.

Fonte: Al Akhbar

Traduzido por Oriente Mídia

 

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