A quem interessa reativar a guerra de Nagorno-Karabakh?

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Fonte: Voz da Rússia

Foto: AP/Abbas Atilay

Foto: AP/Abbas Atilay

A situação em torno da república não-reconhecida de Nagorno-Karabakh, um enclave entre a Armênia e o Azerbaijão, aumentou de tensão no início da semana até um nível em que, para evitar uma nova guerra, é necessário um encontro imediato entre os presidentes da Armênia e do Azerbaijão.

Segundo informou o premiê armênio Ovik Abramian, esse encontro poderá decorrer em 8 ou 9 de agosto na cidade russa de Sochi. A iniciativa para a realização desse encontro partiu dos membros do grupo de Minsk para o Nagorno-Karabakh da OSCE. Além da Armênia e do Azerbaijão, seus membros principais são igualmente a Rússia, a França e os EUA.

Se os combates na fronteira da república não-reconhecida de Nagorno-Karabakh tivessem ocorrido há meio ano, isso não teria preocupado tanto os vizinhos próximos e distantes da Erevan e de Baku. Essas disputas são aqui um fenômeno quase quotidiano. Mas a crise na Ucrânia atribui um caráter excepcionalmente danoso para o agravamento da situação nesse território. O membro do conselho científico do Centro Carnegie de Moscou Alexei Malashenko considera:

“Se isso tivesse acontecido há meio ano, poderíamos afirmar com segurança que um agravamento da situação como esta não iria provocar um maior derramamento de sangue. Mas agora, tendo em consideração a situação na Ucrânia, infelizmente não poderemos dizer o mesmo com segurança.”

A Rússia não está nada interessada numa reativação do conflito armênio-azerbaijano à luz da situação no sudeste da Ucrânia, pois será necessário defender, de uma ou de outra forma, a Armênia que está quase entrando para a União Eurasiática. “Não quero apoiar teorias da conspiração, mas não excluo que a atual situação tenha sido mais uma jogada do Ocidente”, disse Alexei Malashenko.

Outro perito russo, o analista do Centro de Estudos do Moderno Oriente Médio de São Petersburgo Alexander Sotnichenko também aponta claramente um possível envolvimento dos EUA no “descongelamento” do conflito. Para Washington, diz o perito, um conflito latente nessa região é um bom instrumento de pressão tanto sobre os países da região, como sobre Moscou:

“Os EUA ultimamente têm estado interessados numa grande e permanente instabilidade no Grande Oriente Médio, incluindo a região do Cáucaso do Sul, e por isso eles ficarão satisfeitos com o início de uma guerra. Mas Nagorno-Karabakh não será cedido com facilidade ao Azerbaijão. Nos EUA atua um lóbi armênio muito poderoso. Por outro lado, é evidente que se o Azerbaijão reconquistar Nagorno-Karabakh, ele irá praticar uma política ainda mais independente.”

Alguns peritos russos consideram que os EUA estimulam intencionalmente esse conflito latente por a Armênia se encontrar na fase final de entrada para a União Econômica Eurasiática, uma organização que reúne a Rússia, a Bielorrússia e o Cazaquistão.

Erevan, que pretende entrar para a União Econômica Eurasiática, passou a estar sujeito a pressões sistemáticas por parte do Ocidente, considera o analista do Centro de Estudos do Cáucaso e da Ásia Central Andrei Areshev. Não é de excluir que também o aumento de tensão em torno de Nagorno-Karabakh seja uma componente desses esforços sistemáticos, tendo em conta que no plano da opinião pública a responsabilidade será atribuída a Moscou:

“Eu não excluo o reavivar de outros conflitos na periferia das fronteiras russas, como na Transnístria, por exemplo, para dificultar ao máximo a situação de Moscou, quando esta tenha de acudir a diversas “frentes” e o cerco de conflitos à volta das fronteiras russas terá contornos cada vez mais evidentes.”

A avaliação do papel dos Estados Unidos na reativação desse conflito ou, pelo menos, em mantê-lo em suspenso, por parte dos peritos do Azerbaijão coincide com a opinião dos seus colegas armênios e russos. “As disputas, zangas e conflitos à volta de Nagorno-Karabakh fazem-me pensar em uma briga de vizinhos por um quarto que já foi comprado pelos EUA”, diz o conhecido analista político e diplomata azerbaijano, presidente do Fundo de Estudos Políticos dos Países do Cáspio Vafa Guluzade:

“A Rússia não irá resolver esse problema, ou melhor, ela não está em condições de resolvê-lo. Enquanto no mundo existe uma só potência global, os Estados Unidos, ninguém irá permitir que a Rússia o resolva. Para que quereriam os EUA resolver esse problema? Ele é mais uma alavanca de pressão sobre o Azerbaijão para que Baku siga na esteira da política ocidental.”

A guerra entre a Armênia e o Azerbaijão por Nagorno-Karabakhno início dos anos 90 do século passado foi o primeiro conflito militar no espaço pós-soviético em que participaram dois países soberanos. De acordo com diversas fontes, nesse conflito terão morrido de 9 a 16 mil pessoas de ambos os lados.

Os fatos citados e as opiniões expressas são de responsabilidade do autor

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