Foto: REUTERS/Larry Downing
Barack Obama escreveu uma carta ao líder espiritual do Irã aiatolá Ali Khamenei, informou na quinta-feira o jornal The Wall Street Journal. Segundo os seus dados, o presidente dos EUA sublinhou na sua mensagem que ambos os países estão interessados em combater o grupo extremista Estado Islâmico (EI). A Casa Branca não confirma, mas também não desmente essa informação.
A Voz da Rússia perguntou ao cientista político iraniano Hasan Hanizadeh qual foi a reação no Irã à mensagem de Obama:
– Na sua opinião, poderá realmente Obama ter enviado uma carta ao aiatolá Khamenei ou essa informação não passa de uma bobagem do jornalismo?
– Pode, porque não? De resto, se acreditarmos nas informações transmitidas pela mídia, esta já será a quarta carta do presidente estadunidense ao líder espiritual do Irã. Na carta anterior Obama enviou ao aiatolá Khamenei um pedido de ajuda à comunidade internacional no combate ao Estado Islâmico e sua cooperação para a eliminação dessa organização terrorista. O mesmo assunto é tema da nova carta.
Do meu ponto de vista, essas cartas evidenciam que os Estados Unidos tencionam utilizar o potencial militar da República Islâmica do Irã e o seu peso político na região para livrá-la do Estado Islâmico. As cartas anteriores não obtiveram resposta negativa por parte do Irã, mas este apresentou uma condição: em caso de realização de uma operação militar contra o Estado Islâmico é fundamental não ultrapassar a chamada “linha vermelha”, ou seja, não colocar em risco o regime de Bashar Assad na Síria (o Irã é aliado político de Assad – N. Red.).
– Nas atuais condições, qual é a forma que podem assumir os esforços conjuntos de Teerã e Washington na luta contra o Estado Islâmico?
– Todos os países, sem exceção, estão interessados no combate contra o Estado Islâmico. Entre eles não existem quaisquer contradições relativamente à necessidade de combater de alguma forma o EI. Contudo, existem dúvidas até que ponto são sérias as intensões de alguns países (sobretudo dos EUA). No Irã circula a opinião que o Estado Islâmico terá sido criado por Washington e pelos seus aliados ocidentais e alguns aliados árabes para promover seus interesses na região. Esse é o primeiro aspeto. Em segundo lugar, para eliminar uma organização terrorista tão poderosa, como é sem dúvida o EI, é necessário um plano de ação rigorosamente planejado. Tudo indica que os EUA não o têm. Em geral, fica a impressão que os verdadeiros interesses dos Estados Unidos vão muito para além da simples liquidação do EI. Eles estão sobretudo interessados em derrubar Assad.
– Qual poderia, na sua opinião, ser a resposta de aiatolá Khamenei a Barack Obama?
– Não tenho dúvidas que, tal como nas três ocasiões anteriores, a resposta de aiatolá Khamenei se resumirá ao seguinte. É importante que os EUA demonstrem transparência nas suas intenções de combater o EI e apresentem garantias que a operação militar não será usada contra o regime de Damasco.
Numa coalizão que possa ser formada para combater o Estado Islâmico será necessária a participação não de países isolados, mas dos principais atores políticos mundiais – além dos EUA e do Irã eles seriam, sem dúvida, a Rússia e a China. A ameaça que parte do EI é global. Ela só pode ser combatida eficazmente em conjunto. Os EUA também deverão renunciar aos duplos critérios: de fornecer armas aos terroristas e simultaneamente apelar a um combate contra eles. Já é tempo que Washington se decida.
As opiniões expressas são de responsabilidade do entrevistado