Antun Saadeh em São Paulo (1920 a 1930)
Safia Sa’adeh
08/11/2025
Onde e como Saadeh aprendeu alemão e o dominou a tal ponto que se tornou sua segunda língua, depois do árabe? Lembro-me de que a maior parte de sua biblioteca pessoal era em alemão. É sabido que a civilização alemã atingiu seu auge no século XIX em todos os campos — literatura, arte, música, poesia, filosofia, sociologia, psicologia, economia, ciência atômica e tecnologia. Após a Segunda Guerra Mundial, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética se beneficiaram desse conhecimento avançado, levando cientistas alemães para seus países e impulsionando suas ciências, incluindo a ciência atômica e a bomba nuclear.
O domínio que Saadeh tinha da língua alemã foi fruto de uma estranha coincidência. Até 1920, ele falava árabe, inglês e um pouco de francês. Mas seu pai, o Dr. Khalil Saadeh, mudou-se para o Brasil no final da Primeira Guerra Mundial e convidou os filhos para se juntarem a ele. Antun, que tinha dezesseis anos na época, começou a ajudar o pai na publicação de uma revista semanal sobre assuntos do Oriente Árabe.
Aos domingos, Saadeh passava o dia inteiro lendo. Ele pegava um livro e ia para a floresta perto de São Paulo. Um dia, por acaso, encontrou uma casa isolada na floresta e, com sede, bateu à porta. Ninguém respondeu, mas a porta estava aberta, então ele entrou, bebeu um pouco de água e começou a percorrer a casa até chegar a um salão repleto de livros. Enquanto os folheava, os donos da casa — um general alemão e sua esposa russa — entraram e se surpreenderam ao encontrar um estranho lá dentro.
Saadeh se apresentou e eles simpatizaram com ele. O general se encarregou de ensinar alemão a Saadeh e lhe emprestou livros de sua biblioteca, enquanto a esposa do general lhe ensinou russo.
A amizade entre eles durou uma década, até que Saadeh deixou o Brasil definitivamente em 1930. Nessa época, a ideia de fundar um partido que libertasse seu país das garras da ocupação e da partilha já havia amadurecido em sua mente.