1001 usos reacionários das políticas identitárias Ou: Indicação de Biden para a Defesa enfurece ‘falcões’ da linha-dura anti-China 

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9/12/2020, Moon of Alabama

Será que o presidente eleito dos EUA Joe Biden aprofundará a hostilidade contra a China ou manterá a política dos EUA de sempre, de manter agitação perpétua no Oriente Médio?

O nome que escolheu para a Secretaria da Defesa oferece alguma resposta.

Confirmam-se os piores medos dos ‘falcões’ da linha-dura anti-China, que trabalham nas coxias para sabotar Biden.

Previa-se que Michèle Flournoy seria nomeada secretária da Defesa no governo Biden. Flournoy é ‘falcão’ da linha-dura anti-China:

Em artigo para o periódico Foreign Affairs em junho, Flournoy disse que a habilidade de Washington para decidir fazer frente à assertividade militar de Pequim na região havia declinado; que os EUA precisavam de contenção sólida para reduzir o risco de que a liderança chinesa cometesse “erro de cálculo”.

“Por exemplo, se os militares norte-americanos tivessem capacidade que garantisse ameaças críveis de pôr a pique todas as naves militares, submarinos e navios mercantes chineses no Mar do Sul da China em 72 horas, os líderes chineses teriam de pensar duas vezes antes de, digamos, bloquear ou invadir Taiwan; teriam de calcular se valeria a pena arriscar toda a própria frota” – disse Flournoy.

Observadores diplomáticos e da Defesa disseram que realizar essa ideia teria altíssimo custo, mas registrando que essa indicação mostraria que os EUA continuariam a aumentar a pressão militar sobre a China. (Há quem discorde dela. Vide “72 horinhas. É o que basta(ria)”, 27/11/2020, Andrei Martyanov, trad. no Blog Bacurau Homenagem ao Filme. NTs).

Por sorte, Biden decidiu contra Flournoy e nomeou para o cargo Lloyd Austin, general aposentado:

Ao escolher Austin, Biden optou por ex-oficial de quatro estrelas habituado a quebrar barreiras, primeiro general negro a comandar uma divisão do Exército dos EUA em combate e o primeiro a supervisionar todo um teatro de operações. O nome de Austin pode já ser anunciado na 3ª-feira pela manhã, disseram na 2ª-feira fontes bem informadas sobre esses planos.

Austin, que também comandou o Comando Central dos EUA (CENTCOM) em 2016, ao se aposentar, reemergiu há poucos dias como nome possível, depois de já ter sido considerado no início do processo. E Michèle Flournoy, ex-chefe de políticas do Pentágono de Obama, estava sendo vista como indicação mais provável. Mas a ausência do nome dela na relação de membros chave de Biden para a segurança nacional já chamara a atenção há duas semanas.

Como secretária da Defesa, Flournoy seria mais independente. É conhecida por trabalhar contra políticas da Casa Branca com as quais não concorde:

Quando Biden, vice-presidente, trabalhava para retirar tropas norte-americanas do Iraque, Flournoy, então chefe das políticas do Pentágono, e Mike Mullen, então na presidência do Estado-maior, opuseram-se à ideia. Austin não se opôs.

Austin é do tipo que trabalha em equipe:

A equipe de Biden viu Austin como escolha segura, disse um ex-funcionário da Defesa próximo da transição, acrescentando que o general aposentado é tido como bom soldado, que levará adiante a agenda do presidente eleito.

“Haverá menos tensão” com Austin na secretaria da Defesa em vez de Johnson ou Flournoy, disse a mesma fonte. “Talvez com menos desacordo (…) o relacionamento possa ser menos turbulento.”

Fãs de Flournoy estão zangados:

O fato de a decisão de Biden, de nomear Austin, atinge Flournoy só torna a decisão ainda pior, segundo aquela fonte (uma mulher) ex-funcionária da Defesa. “Mulheres qualificadas são frequentemente deixadas de lado, em funções nas quais têm tudo para brilhar” – disse a fonte. – “É duro de engolir, não só que Michèle Flournoy tenha sido preterida, mas, também, que a equipe Biden deseje fingir que não vê, ou que esteja vendo com pouco caso, uma crise civil-militar; e o projeto dos ‘Founders’ no controle civil, de fazer precisamente isso.”

A equipe esperava oposição à escolha de Austin, e defendeu-o preventivamente numa coluna assinada de Atlantic.

O Global Times chinês está feliz com a escolha:

[P]rovocar a China só trará mais problemas aos EUA. A escolha de Austin como novo secretário da Defesa mostra os EUA em certa medida reduzirão as tensões com a China. É possível que se veja os EUA ajustarem toda sua estratégia militar de além-mar.

Pode-se antecipar que Washington dê mais importância ao Oriente Médio. Não retirará suas tropas da região. É possível que, ao contrário, os EUA enviem mais soldados para o Oriente Médio. Por isso Biden está escolhendo Austin: porque tem profunda experiência de Oriente Médio.

Glenn Greenwald não gosta da indicação de Austin, porque desrespeita a norma de uma liderança civil sobre as forças armadas. Como ex-general que se aposentou há apenas quatro anos, Austin precisará de autorização do Congresso para tomar posse.

Cria-se assim uma chance de a confirmação ser sabotada, e de o nome de Flournoy voltar à mesa:

Mesmo antes de o nome ser anunciado na 3ª-feira, já parecia que haveria alguma espécie de oposição, depois que a notícia vazou na 2-feira à noite. Representantes e senadores dos dois maiores partidos, inclusive vários Democratas de alto escalão nas Comissões dos Serviços Armados da Câmara e do Senado, manifestaram preocupação ou declarada oposição a empossar um militar de carreira em posto usualmente reservado para civis.

Biden preteriu outros candidatos que jamais foram militares e que seriam escolhas históricas.

Dentre esses preteridos estão Michele Flournoy, funcionária civil de terceiro escalão do Pentágono no governo Obama, que seria a primeira mulher secretária da Defesa; e Jeh Johnson, ex-conselheiro-geral do Pentágono e secretário de Segurança Nacional do presidente Obama, que é negro.

“Havia grupo diverso de homens e mulheres qualificados, cuja nomeação não exigiria a segunda autorização do Congresso, em quatro anos” – disse Rosa Brooks, professor da Direito na Georgetown University e ex-funcionária do Pentágono que trabalhou com Flournoy.

Colunistas do New York Times e os editores neoconservadores do Washington Post estão manifestando sua oposição:

Mas como muitos outros oficiais de carreira, falta experiência a Mr. Austin na gestão de algumas das questões mais importantes postas diante de um secretário da Defesa, inclusive o desenvolvimento de sistemas de armas e orçamentos de longo alcance, e a gestão de uma burocracia civil que se expande. O indicado é profundamente versado em Oriente Médio, mas não em Ásia, onde a ascensão da China é a ameaça mais crítica à segurança nacional dos EUA. Sobretudo, sua fragilidade como alto oficial – incluída clara relutância na comunicação com a mídia e o público, e relações às vezes complicadas com o Congresso – seria fator consideravelmente debilitante para quem ocupe o posto de secretário.

Ao escolher Mr. Austin, [Biden] passou por cima de candidatos civis com considerável expertise política e administrativa, incluindo a ex-subsecretária da Defesa para políticas, Michèle Flournoy, que teria sido a primeira mulher a ocupar a secretaria da Defesa dos EUA.

Alguns membros do Congresso uniram-se ao coro:

O deputado Anthony Brown de Maryland, único membro do Caucus Negro do Congresso [ing. Congressional Black Caucus (CBC)] que faz parte da Comissão de Serviços Armados, e o deputado Marc Veasey do Texas apoiaram Flournoy, semana passada, em carta a Biden.

A dupla elogiou a experiência de Flournoy nos governos Clinton e Obama, a qual, escreveram os deputados, é necessária para reorientar e retreinar os militares para que possam enfrentar os avanços que a China vem obtendo e reorientar as políticas de contraterrorismo dos EUA para uma nova era; e elogiaram Flournoy como “defensora incansável da diversidade e da inclusão na segurança nacional.”

Haverá ainda mais oposição a Austin, vinda dos ‘falcões’ da linha-dura anti-China e nas sabatinas no Congresso, nas quais Austin terá de lutar pelo novo posto.

É serviço no qual Austin é bem versado.

Numa audiência no Congresso em 2015, sobre a Síria, o senador John McCain, sempre linha-duríssima e reacionaríssima tentou arrancar de Austin (vídeo) aprovação para impor uma zona aérea de exclusão na Síria. Austin fincou o pé. Disse que não recomendaria zona aérea de exclusão nem qualquer ‘zona tampão’ para proteger refugiados.

Parece que o homem consegue dizer coisa com coisa.

Traduzido Pelo Coletivo Vila Mandinga

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