Trump e o Irã, à beira do precipício

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21/6/2019, Elijah Magnier Blog

O Irã está empurrando o presidente Donald Trump dos EUA para a beira do abismo, fazendo subir o nível de tensões a patamares inéditos no Oriente Médio. Depois da sabotagem de quatro navios-petroleiros em al-Fujairah e do ataque ao oleoduto da Aramco há um mês, e dos dois navios-tanques atacados semana passado no Golfo de Omã, ontem o Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana [ing. Iranian Revolutionary Guard Corps, IRGC], agora já classificado como organização terrorista pelos EUA] derrubou um drone da Marinha dos EUA, enviando duas mensagens bem claras.

A primeira mensagem é que o Irã está pronto para guerra total, não importam as consequências. A segunda mensagem é que o Irã sabe que o presidente dos EUA autoencurralou-se. O ataque acontece uma semana depois de Trump lançar a própria campanha eleitoral para a reeleição.

Segundo fontes bem informadas, o Irã rejeitou uma proposta feita pela inteligência dos EUA – servindo-se de um intermediário – pela qual Trump receberia autorização para bombardear um, dois ou três alvos bem definidos, a serem definidos pelo Irã, de modo tal que os dois países pudessem aparecer como ‘vencedores’ e Trump conseguiria salvar a cara.

Mas o Irã rejeitou categoricamente a oferta e respondeu: até qualquer mínimo ataque contra praia deserta no Irã disparará ataque de mísseis contra interesses dos EUA no Golfo.

O Irã não está inclinado a ajudar Trump a descer da árvore que escalou porque quis; mais certo é que o Irã opere para mantê-lo cada vez mais confuso e sem saída. Além do mais, o Irã amará ver Trump ser derrotado na eleição do ano que vem, e fará tudo que estiver ao seu alcance para ajudar a expulsá-lo da Casa Branca ao final do primeiro mandato presidencial, em 2020.

Ainda mais importante, o Irã criou uma sala de operações conjuntas para manter informados todos seus aliados no Líbano, Síria, Iraque, Iêmen e Afeganistão, informados sobre cada movimento que seja adotado no confronto contra os EUA, no caso de guerra total no Oriente Médio. Aliados do Irã elevaram para nível máximo o estado de alerta e prontidão; participarão na guerra desde o primeiro instante, se for necessário. Segundo as fontes, os aliados do Irã não hesitarão em abrir fogo contra um banco de alvos já definidos, em resposta perfeitamente organizada, orquestrada, sincronizada e gradual, antecipando uma guerra que pode durar muitos meses.

Fontes confirmam que, em caso de guerra, o Irã planeja cortar completamente o fluxo de petróleo do Oriente Médio, não por ataques a navios-tanques, mas por ataques às fontes de petróleo em todos os países do Oriente Médio, sejam países considerados aliados ou inimigos. O objetivo será cortar completamente as exportações de petróleo do Oriente Médio para o resto do mundo.

Trump está tentando achar alguma saída e fará praticamente qualquer coisa, exceto reduzir as sanções sobre o Irã.

Foi o presidente dos EUA que disparou toda essa crise, quando revogou unilateralmente o acordo nuclear iraniano (oficialmente, JCPOA), obedecendo ao que Benjamin Netanyahu ordenou-lhe que fizesse. Trump quer ver o Irã sofrer sob as severas sanções norte-americanas, ao longo da campanha eleitoral. O status-quo interessa a Trump, tanto quanto é catastrófico para o Irã. Por isso o Irã recusou qualquer proposta de cenário que dê a impressão de que Trump teria vencido, depois de bombardear locações no Irã e declarando que seria a base de onde teria sido disparado o míssil que derrubou o drone norte-americano.

Trump quer vencer a guerra ‘cenográfica’, mas está enfrentando um regime iraniano que absolutamente não cederá aos EUA, assim como os EUA não cederam ao Irã. Trump parece esquecer de que o embargo econômico é ato de guerra; de que está bloqueando unilateralmente as exportações do petróleo iraniano, o que agride ferozmente a economia do Irã. Em resumo, Trump já declarou guerra ao Irã.

Em resposta aos recentes incidentes, semana passada os EUA enviaram apenas reforços limitados para o Oriente Médio. Segundo as fontes, essas forças eram constituídas de várias equipes de drones e uma força de ataque capaz de intervir no caso de futuros ataques a navios-tanques petroleiros. A derrubada do drone foi mensagem do Irã aos EUA, de que nenhuma possibilidade será descartada: os contendores já tiraram as luvas.

A mensagem do Irã, já explicitada ano passado pelo presidente Hassan Rouhani  e outros funcionários políticos e militares é clara: se não podemos exportar nosso óleo, ninguém exportará. Mas parece que essa mensagem ainda não chegou aos ouvidos de Trump.

A mídia norte-americana repete que o presidente Trump aprovou ataques militares contra o Irã, mas horas depois revogou as próprias ordens. Segundo a fonte, aconteceu o seguinte:

– O Irã foi informado com antecedência, por um terceiro, de uma proposta construída pela inteligência dos EUA, pela qual o Irã selecionaria, um, dois ou três locais desertos, que indicaria aos EUA como alvos a serem bombardeados. A ideia geral seria satisfazer todos os lados, com saída honrosa para todos. Mas o Irã recusou-se a participar da encenação, cujo principal objetivo seria garantir saída honrosa para Trump. Seja como for, a oferta mostrou aos iranianos que os EUA não têm intenção de ir à guerra, e tentam apenas achar alguma saída que os livre da arapuca em que se meteram; Trump está procurando alguma escapatória.

O Irã também não quer guerra, mas não aceitará o embargo continuado de suas exportações. Enquanto o Irã estiver impedido de vender seu petróleo, Irã e Trump continuarão nessa sua dança macabra à beira do abismo.

A economia do Irã está sob ataque – efeito do embargo que Trump impôs às exportações do petróleo iraniano. Trump recusa-se a levantar o embargo e quer negociar antes de qualquer movimento. Trump, diferente de Israel e dos falcões que controlam o governo dos EUA, tenta evitar guerra real. Netanyahu vária vezes reiterou o quanto anseia por guerra contra o Irã – guerra que os EUA guerrearão –, e tem-se reunido com seus aliados árabes, para fazer acontecer alguma guerra. Como o jornal Ha’aretz caracterizou no mês passado, o dilema iraniano de Netanyahu consiste em conseguir empurrar Trump para a guerra, sem pôr Israel na linha de frente.

É desejo de Trump evitar uma guerra que o ponha em posição suscetível à pressão dos iranianos. Trump se meterá, ele mesmo, em posição ainda mais crítica, no plano doméstico, se mísseis iranianos interromperem o fluxo do petróleo no Oriente Médio. O Irã só deixou duas possibilidades para o presidente dos EUA: pôr fim ao embargo sobre o petróleo iraniano, ou a guerra.

Fontes reconhecem que o futuro é incerto e potencialmente muito perigoso para a região e para a economia global, dado que definitivamente o Irã não porá fim aos planos de interromper o trânsito dos grandes navios transportadores de petróleo, se seu próprio petróleo não puder ser exportado.

Irã e EUA já estão em guerra econômica. Uma saída possível dessa crise seria Trump fechar os olhos e deixar que a Europa opere para aliviar a pressão econômica sobre o Irã, sem sancionar as empresas europeias envolvidas. Sem isso pode já não haver saída possível, que evite uma catástrofe regional e global.

Traduzido por Vila Mandinga

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