Trump e a Síria

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Por SACHA CALMON 

O que Trump acha que vai acontecer na Síria? Democracia religiosa? Ela havia com os Assad, nos últimos 40 anos. Havia lugar – como na Turquia – para muçulmanos, sunitas, alauitas, xiitas, católicos, igrejas ortodoxas, inclusive a maronita (rito cristão do Líbano e da Síria que reconhece a autoridade do papa). O governo era forte e autoritário, mas havia eleições periódicas, embora o Partido Baath ganhasse todas (como ganha no Egito).

A Síria e o Líbano, tão moderno, são os países com maior número de cristãos no Oriente Próximo, muito mais que na Jordânia e em Israel. São os mais ocidentalizados até na maneira de vestir. O Líbano hoje, mormente a Beirute moderna e cintilante, como que ressurgiu depois de cruenta guerra civil, com um acordo entre xiitas, sunitas e cristãos (30% da população).

Aí o Estado Islâmico (EI), produto dos salafitas fanáticos do Egito juntados com o dinheiro dos waabitas fanáticos da Arábia Saudita, armaram e financiaram um exército crudelíssimo para implantar um califado no Iraque e na Síria contra os seus governos e atacar, naturalmente, os curdos que habitam ao norte desses países. Os curdos são arianos, raça branca.

Os EUA, como sempre desajeitados na região (deveriam sair de vez…) com todos os seus supostos serviços de inteligência “incríveis”, para usar os adjetivos pomposos de Trump, cismaram que “movimentos democratas rebeldes” se insurgiam contra o “sanguinário” Bashar al-Assad e passaram a apoiá-los (3% dos rebeldes). O resto é composto de maometanos radicais ligados aos sunitas da Jihad, à irmandade muçulmana, ao EI e à Al Qaeda, todos totalitários.

A Rússia, conhecedora da região, não demorou um segundo e mandou sua força aérea atacar sem piedade o terreno dominado pelos rebeldes, fossem lá quem fossem, em defesa do governo estabelecido, de quem é aliado, possuindo no país duas poderosas bases militares na região de Latáquia e Tartus (costa do Mar Mediterrâneo), sendo uma aérea e outra, naval. Com isso, isolou Damasco (5 mil anos de existência e 2 milhões de habitantes), seu entorno e acesso ao mar, da sanha terrorista dos grupos muçulmanos radicais, preservando o governo e as Forças Armadas do país.

O governo da Síria, entretanto, sofre ataques terroristas próximos à capital, nos subúrbios, revidando com bombardeios que o sr. Trump vem de condenar. Com que autoridade os EUA agem alheados da região, de cujo petróleo já não dependem mais? Deveriam preservar o governo do país e ir contra os terroristas muçulmanos, estes sim infensos à democracia, pois Maomé subordinava o governo civil ao religioso (de Alá, o Misericordioso).

O Islamismo puro – como o da Arábia Saudita – não se deixa penetrar pelos valores do Ocidente e são hostis à democracia. Os lugares mais desenvolvidos têm convivência com a “vontade popular” (eleições periódicas), como ocorre na Síria, Líbano, Turquia e Irã. Os dois últimos países, aliás, são do ramo turk e ariano (não possuem populações semitas – árabes e judeus). O sr. Trump deveria esquecer essa ladainha de levar a “democracia” e valores ocidentais para o Oriente Médio. Pois não é ele mesmo que repele estrangeiros e ideias contrárias à cultura norte-americana? É um incoerente.

O Oriente Médio (deveria ser próximo já que se fala, no outro extremo, em Extremo Oriente). Japão, China, o sudeste asiático são deixados em paz, exceto a Coreia do Norte. A guerra insuflada pelos EUA do Iraque contra o Irã, com a promessa de fazer Saddam e seu Iraque a potência dominante na região, não deu em nada. O Irã dos aiatolás que derrocou o Xá da Pérsia, aliado dos americanos, continuou firme. Por sua vez, os EUA resolveram invadir e ocupar o Iraque num dia de porre de Bush filho e seus falcões, conturbando toda a região. A Primavera Árabe, conduzida por jovens democratas, foi estrangulada pelos EUA na Tunísia e no Egito. Este último continua a receber sua “mesada” de milhões de dólares anuais para manter a região sob controle, em favor de Israel.

Efetivamente, os EUA são uns desajeitados na região. O Trump faria um bem à humanidade deixando o Oriente Médio decidir o próprio destino. De vez em quando, ele solta uma ameaça, tumultua e fica tudo do mesmo jeito. “Raios o partam”, diria o português. Existe por acaso uma política para a região? Decerto não. Os EUA precisam de petróleo? Não. Até que se compreende a intervenção da Rússia. A Turquia, embora não seja da Comunidade Europeia de Nações (CEE), é da Otan (Aliança do Atlântico Norte), embora esteja no Mar Mediterrâneo. Ora, a Otan é uma aliança militar feita para confrontar a URSS – que nem mais existe – e colocou a Rússia desconfiada, procurando aliados em suas fronteiras. A retomada da Crimeia foi justamente para ficar à frente da Turquia e da Otan. Aliás, se a Rússia e a China nem mais comunistas são, por que o Ocidente insiste na Otan.

SACHA CALMON -Advogado, coordenador da especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e da UFRJ

Publicado por Correio Brasiliense em  04/02/2018

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