O agente alemão, pensador do « nacionalismo integralista » ucraniano e criminoso contra a Humanidade, Dmytro Dontsov (Metipol 1883, Montréal 1973).

Como a maior parte dos analistas e comentadores políticos ocidentais, eu ignorava a existência de neo-nazis ucranianos até 2014. Aquando do derrube do Presidente eleito, eu morava na Síria e acreditei que se tinha tratado de grupúsculos violentos que haviam irrompido na cena pública para dar uma mão aos elementos Pró-Europeus. No entanto, a partir da intervenção militar russa, progressivamente descobri inúmeros documentos e informações sobre esse movimento político que representava, em 2021, um terço das Forças Armadas ucranianas. Este artigo apresenta uma síntese a propósito.

Bem no início desta história, quer dizer, antes da Primeira Guerra Mundial, a Ucrânia era uma grande planície que sempre tinha sido sacudida entre as influências alemã e russa. Nessa altura, não era um País independente, mas uma província do império czarista. Estava povoada por Alemães, Búlgaros, Gregos, Poloneses, Romenos, Russos, Checos, Tártaros e por uma grande minoria judaica que se acredita descender do antigo povo kazar.

Um jovem poeta, Dmytro Dontsov, apaixonou-se pelos movimentos artísticos de vanguarda, considerando que eles conseguiriam tirar o seu país do atraso social. Tendo o império czarista caído no imobilismo desde a morte da grande Catarina, enquanto o império alemão era o centro científico do Ocidente, Dontsov escolheu Berlim contra Moscou.

Quando a Grande Guerra estourou, ele transformou-se em agente dos Serviços Secretos alemães. Emigrou para a Suíça onde publicou, por conta dos seus patrões, o Boletim das Nacionalidades da Rússia em várias línguas, apelando ao levantamento das minorias étnicas do Império Czarista a fim de provocar a sua derrota. Foi este o modelo que foi escolhido pelos Serviços Secretos ocidentais para organizar o « Fórum dos Povos Livres da Rússia » este Verão, em Praga [1].

Em 1917, a Revolução bolchevique inverteu a situação. Os amigos de Dontsov tomaram partido pela revolução russa, mas ele permaneceu pró-alemão. Na anarquia que se seguiu, a Ucrânia foi dividida de facto por três regimes diferentes: os nacionalistas de Symon Petliura (que se impuseram na zona hoje controlada pela administração Zelensky), os anarquistas de Nestor Makhno (que se organizaram como a Novorossia, a terra que havia sido desenvolvida pelo Príncipe Potemkin e que nunca conhecera a servidão), e os bolcheviques (especialmente no Donbass). O grito de guerra dos partidários de Petliura era « Morte aos judeus e aos bolcheviques! ». Eles perpetraram inúmeros pogroms mortíferos.

Dmytro Dontsov regressou à Ucrânia antes da derrota alemã e tornou-se o protegido de Symon Petlyura. Ele participou brevemente na Conferência de Paz de Paris, mas, por alguma razão desconhecida, não permaneceu na sua delegação. Na Ucrânia, ele ajudou Petliura a aliar-se à Polónia para esmagar os anarquistas e os bolcheviques. Depois da tomada de Kiev pelos bolcheviques, Petliura e Dontsov negociaram o Tratado de Varsóvia (22 de abril de 1920): o Exército polaco comprometeu-se a repelir os bolcheviques e a libertar a Ucrânia em troca da Galícia e da Volínia (exatamente como o governo Zelensky negoceia hoje entrada da Polónia na guerra em troca das mesmas terras [2]). Ora, esta nova guerra foi um fiasco.

Vladimir Jabotinsky, nascido em Odessa, ideólogo do sionismo revisionista. Para ele Israel era uma terra sem povo, para um Povo sem terra.

Para reforçar o seu campo, Petlyura negociou em segredo com o fundador dos Batalhões Judaicos do Exército britânico (a « Legião Judaica ») e na altura administrador da Organização Sionista Mundial (OSM), Vladimir Jabotinsky. Em setembro de 1921, os dois homens acordaram unir-se contra os bolcheviques em troca do compromisso de Petliura em proibir as suas tropas de continuar os pogroms. A Legião Judaica devia tornar-se a « Gendarmaria Judaica ». No entanto, apesar dos seus esforços, Petliura não conseguiu acalmar as suas tropas, sobretudo porque o seu colaborador mais chegado, Dontsov, continuou a encorajar sempre o massacre de judeus. No fim, descoberto o acordo, a Organização Sionista Mundial virou-se contra o regime de Petliura. Em 17 de Janeiro de 1923, a OSM criou uma comissão de inquérito sobre as atividades de Jabotinsky. Este recusou vir explicar-se e demitiu-se das suas funções.

Simon Petlioura apoderou-se do Norte da Ucrânia. Protetor dos nacionalistas integralista, ele sacrificou a Galícia e a Volhynia para combater os bolcheviques.

Petlioura fugiu para a Polónia, depois para a França, onde foi assassinado por um judeu anarquista da Bessarábia (atual Transnístria). Durante o julgamento, este assumiu o seu crime e alegou ter vingado as centenas de milhar de judeus assassinados pelas tropas de Petliura e Dontsov. O julgamento teve um grande impacto. O tribunal absolveu o assassino. Foi nessa ocasião que foi fundada a Liga Contra os Pogroms, futura Licra (Liga Internacional Contra o Racismo e Antissemitismo).

Não só os nacionalistas foram vencidos, mas os anarquistas também. Os bolcheviques triunfaram em todo o lado e escolheram, não sem debate, juntar-se à União Soviética.

Dmytro Dontsov editou revistas literárias que exerceram um fascínio sobre a juventude. Ele continuou a promover uma Europa Central dominada pela Alemanha e aproximou-se do nazismo cada vez mais à medida que este crescia. Cedo designou a sua doutrina como o « nacionalismo integral » ucraniano. Ao fazê-lo, fazia referência ao poeta francês, Charles Maurras. Com efeito, à partida a lógica dos dois homens era idêntica: eles buscavam em sua própria cultura os meios de afirmar um nacionalismo moderno. No entanto, Maurras era germanófobo, enquanto Dontsov era germanófilo. A expressão « nacionalismo integral » ainda hoje é reivindicada pelos adeptos de Dontsov, que cuidam, após a queda do IIIº Reich, de refutar o termo «nazismo» com o qual os Russos o qualificam, não sem razão.

De acordo com ele, o « nacionalismo ucraniano » caracteriza-se por:
« afirmação da vontade de viver, de poderio, de expansão » (promove « O direito das raças fortes em organizar os povos e as nações para reforçar a cultura e a civilização existentes »)
« o desejo de combater e a consciência do seu extremismo » (louva a « violência criadora da minoria de iniciativa »)

As suas qualidades são:
« o fanatismo »;
« a imoralidade ».

Em última análise, virando as costas ao seu passado, Dontsov tornou-se um admirador incondicional do Führer. Os seus discípulos fundaram, em 1929, a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) em torno do Coronel Yevhen Konovalets. Este qualificou Dontsov de « o ditador espiritual da juventude da Galícia ». No entanto, uma querela opôs Dontsov a um outro intelectual, a propósito do seu extremismo que obrigava a fazer a guerra contra todos, quando subitamente Konovalets foi assassinado. A OUN (financiada pelos Serviços Secretos alemães) dividiu-se então em duas. Com os «nacionalistas integralistas» reservando a OUN-B em nome do discípulo preferido de Dontsov, Stepan Bandera.

Durante os anos de 1932-33, os comissários políticos bolcheviques, maioritariamente judeus, aumentaram um imposto sobre as colheitas, como nas outras regiões da União Soviética. Combinado com importantes e imprevisíveis acasos climáticos, esta política provocou uma gigantesca fome em várias regiões do URSS, incluindo a Ucrânia. Ela é conhecida sob o nome de « Holodomor ». Contrariamente ao que diz o historiador nacionalista integralista Lev Dobrianski, não se tratava de um plano de extermínio dos Ucranianos pelos Russos, já que outras regiões soviéticas foram atingidas, mas uma gestão inadequada dos recursos públicos em tempos de crise climática. A filha de Lev Dobrianski, Paula Dobrianski, tornou-se uma das assessoras do Presidente George W. Bush. Ela travou uma luta sem piedade para fazer excluir das universidades ocidentais os historiadores que não aderiram à propaganda do seu pai [3].

Em 1934, Bandera organizou, enquanto membro dos Serviços Secretos nazis e Chefe da OUN-B, o assassinato do Ministro polaco do Interior, Bronisław Pieracki.

A partir de 1939, os membros da OUN-B, constituindo uma organização militar, a UPA, foram treinados na Alemanha pelo Exército alemão, depois ainda na Alemanha, mas pelos seus aliados japoneses. Stepan Bandera propôs a Dmytro Dontsov tornar-se o chefe da sua organização, mas o intelectual recusou, preferindo desempenhar um papel de liderança em vez do de mero comandante operacional.

Os « nacionalistas integralistas» aplaudem a invasão da Polónia, decorrente do Pacto germano-soviético. Como demonstrou Henry Kissinger, que não pode ser suspeito de pró-sovietismo, não se tratava para a URSS de anexar a Polónia, mas de neutralizar uma parte dela a fim de se preparar para o confronto com o Reich alemão. Pelo contrário, para o Chanceler Hitler, tratava-se de iniciar a conquista de um « espaço vital » na Europa Central.

Desde o princípio da Segunda Guerra Mundial, sob indicações de Dmytro Dontsov, a OUN-B bateu-se ao lado dos Exércitos nazis contra os judeus e os soviéticos.

A colaboração entre os «nacionalistas integralistas» ucranianos e os nazis prosseguiu com massacres permanentes da maioria da população ucraniana, acusada de ser judia ou comunista, até à « libertação » da Ucrânia pelo III° Reich no Verão de 1941 ao grito de « Slava Ukraїni ! » (Glória à Ucrânia), o grito de guerra utilizado hoje pelo governo Zelensky e pelos democratas dos EUA. Nessa altura, os « nacionalistas integralistas » proclamaram a «independência » da União Soviética na presença de representantes nazis e do clero grego ortodoxo, não em Kiev, mas em Lviv, segundo o modelo da Garde Hlinka na Eslováquia et dos Ustachis na Croácia. Eles formaram um governo sob a liderança do Providnyk (guia) Stepan Bandera, do qual o seu amigo Yaroslav Stetsko foi o Primeiro-Ministro. Estima-se em 1,5 milhão de pessoas a sua base de apoio na Ucrânia. Quer dizer que os « nacionalistas integralistas » foram sempre muito minoritários.

Celebração da Ucrânia independente com os dignitários nazis. Por trás dos oradores, os três quadros expostos são os de Stepan Bandera, de Adolf Hitler e de Yevhen Konovalets.

Os nazis dividiram-se entre, por um lado, o Comissário do Reich para a Ucrânia, Erich Koch, para quem os Ucranianos eram sub-humanos, e, por outro, o Ministro dos Territórios Ocupados do Leste, Alfred Rosenberg, para quem os « nacionalistas integralistas » eram verdadeiros aliados. Finalmente, em 5 de julho de 1941, Bandera foi deportado para Berlim e colocado na Ehrenhaft (cativeiro honroso), ou seja, em prisão domiciliar como uma alta personalidade. No entanto, tendo os membros da OUN-B assassinado os chefes da facção rival, a OUN-M, os nazis sancionaram Stepan Bandera e a sua organização, em 13 de setembro de 1941. Foram deportados 48 dos seus dirigentes para um campo de prisioneiros, em Auschwitz (que não era ainda um campo de extermínio, mas apenas uma prisão). A OUN-B foi reorganizada sob comando alemão. Foi nesse momento que todos os nacionalistas ucranianos assumiram o seguinte juramento : « Filho fiel da minha Pátria, ingresso voluntariamente nas fileiras do Exército de Libertação Ucraniano e, com alegria, eu juro que combaterei fielmente contra o bolchevismo pela honra do povo. Fazemos este combate ao lado da Alemanha e dos seus aliados contra um inimigo comum. Com fidelidade e submissão incondicional, eu creio em Adolf Hitler como dirigente e comandante supremo do Exército de Libertação. Estou disposto a dar minha vida pela verdade, em todos os momentos ».

O juramento de fidelidade ao Führer Adolf Hitler dos membros da OUN.

Os nazis anunciaram que se havia descoberto muitos corpos em prisões vítimas de « judeus bolcheviques ». Além disso, os « nacionalistas integralistas » celebraram a sua «independência» assassinando mais de 30. 000 judeus e participando activamente na leva dos judeus de Kiev para Babi Yar, onde 33.771 foram fuzilados em dois dias, 29 e 30 de setembro de 1941, pelo Einsatzgruppen do SS Reinhard Heydrich.

Nesta agitação, Dmytro Dontsov desapareceu. Na realidade, dirigira-se a Praga e tinha-se colocado ao serviço do arquitecto da solução final, Reinard Heydrich, que acabava de ser nomeado vice-governador da Boémia e Morávia. Heydrich organizou a Conferência de Wannsee onde se planeou a « solução final das questões judaicas e ciganas » [4]. Depois, ele criou o Instituto Reinard Heydrich em Praga a fim de coordenar o extermínio sistemático de todas essas populações na Europa. O Ucraniano Dontsov, que residia agora em Praga no maior luxo, tornou-se imediatamente seu administrador. Ele é, portanto, um dos principais arquitectos do maior massacre da História. Heydrich foi assassinado em junho de 1942, mas Dontsov conservou as suas funções e os seus privilégios.

Reinhard Heydrich falando no castelo de Praga. Ele estava encarregado de dirigir a Boémia-Morávia. No entanto, a sua verdadeira função era coordenar a « solução final » das questões judaicas e ciganas. Dmytro Dontsov entrou na sua equipa, em 1942, e supervisionou os massacres em toda a Europa até à queda do Reich. O castelo de Praga foi o teatro da reunião da Comunidade política europeia contra a Rússia, em outubro último.

Stepan Bandera e o seu adjunto Yaroslav Stetsko foram colocados em prisão domiciliar na sede da Inspecção-Geral dos Campos de Concentração, em Oranienburg-Sachsenhausen (a 30 km de Berlim). Eles endereçavam cartas aos seus partidários e aos dirigentes do Reich com toda a liberdade e não sofriam de quaisquer privações. Em setembro de 1944, quando o Exército do Reich recuava e os partidários de Bandera começaram a se rebelar contra ele, os dois líderes foram libertados pelos nazis e reintegrados nas suas funções anteriores. Bandera e Stetsko retomaram a luta armada contra os judeus e os bolcheviques.

Mas já era tarde demais. O Reich afundou-se. Os Anglo-Saxões recuperaram Dontsov, Bandera e Stetsko. O teórico do nacionalismo integralista foi transferido para o Canadá, enquanto os dois praticantes dos massacres foram para a Alemanha. O MI6 e o OSS (predecessor da CIA) reescreveram suas biografias, fazendo desaparecer o seu envolvimento nazi e a sua responsabilidade na Solução Final.

Stepan Bandera durante o seu exílio, celebrando a memória de Yevhen Konovalets.

Bandera e Stetsko foram instalados em Munique para organizar as redes stay-behind (retaguarda-ndT) anglo-saxónicas na União Soviética. A partir de 1950, eles dispunham de uma grande estação de rádio, a Radio Free Europe, que partilhavam com os Irmãos Muçulmanos de Said Ramadan (o pai de Tariq Ramadan). A rádio era financiada pelo National Committee for a Free Europe, uma emanação da CIA da qual o Diretor, Alan Dulles, era membro, assim como o futuro Presidente Dwight Eisenhower, o magnata da imprensa Henry Luce e o realizador Cecil B. DeMilles. O especialista de guerra psicológica e futuro protetor dos Straussianos, Charles D. Jackson, era o presidente.

Vladimir Jabotinsky, esse, depois de ter vivido na Palestina, refugiou-se em Nova Iorque. Benzion Netanyahu (o pai do actual Primeiro-Ministro israelita) juntou-se a ele. Os dois homens redigiram os textos doutrinários do « sionismo revisionista » e a Enciclopédia Judaica.

Bandera e Stetsko deslocavam-se muito. Eles organizaram operações de sabotagem em toda a União Soviética, e particularmente na Ucrânia, assim como o lançamento aéreo de panfletos. Para isso, criaram o Bloco das Nações Anti-bolcheviques (ABN) que reunia os seus homólogos da Europa Central [5]. O agente duplo britânico, Kim Philby, informava os Soviéticos sobre as ações dos banderistas com antecedência. Bandera encontrou-se com Dontsov no Canadá para lhe pedir que assumisse a chefia da luta. Uma vez mais, o intelectual recusou, preferindo consagrar-se aos seus escritos. Ele mergulhou então num delírio místico inspirado nos mitos dos vikings varangianos. Anunciava o combate final dos cavaleiros ucranianos contra o dragão russo. Bandera, por sua vez, aliou-se ao líder chinês Chiang Kai-Shek que conheceu em 1958. Mas foi assassinado no ano seguinte em Munique pelo KGB.

Exéquias do criminoso contra a Humanidade, Stepan Bandera.

Exéquias do criminoso contra a Humanidade, Stepan Bandera.

Iaroslav Stetsko prosseguiu a luta através da Radio Free Europe e da ABN. Ele foi aos Estados Unidos para testemunhar perante a Comissão das actividades não-americanas do Senador Joseph MacCarthy. Em 1967, fundou com Tchang Kaï-Chek, a Liga anti-comunista mundial [6]. A Liga incluía muitos ditadores Pró-EUA do mundo inteiro e duas escolas de tortura, no Panamá e em Taiwan. Klaus Barbie, que assassinou Jean Moulin em França, depois Che Guevara na Bolívia, fez parte dela. Em 1983, Stetsko foi recebido na Casa Branca pelo Presidente Ronald Reagan e participou, com o Vice-Presidente George Bush Sr, nas cerimónias das « Nações Cativas » (quer dizer povos ocupados pelos Soviéticos) de Lev Dobrianski. Por fim, morreu em 1986.

Mas a história não termina aqui. A sua esposa, Slava Stetsko, assumiu a chefia das suas organizações. Ela também percorreu o mundo para apoiar todas as lutas contra os Russos e os Chineses, ou melhor, contra os comunistas. Quando a URSS foi dissolvida, limitou-se a mudar o título da Liga para Liga Mundial pela Liberdade e Democracia, denominação que ainda hoje tem. Então consagrou-se retomar a acção na Ucrânia.

Slava Stetsko concorreu às primeiras eleições da Ucrânia independente, em 1994. Ela foi eleita para a Verkhovna Rada, mas tendo sido destituída de sua nacionalidade pelos Soviéticos, não pôde tomar assento. Pouco importa, ela fez com que o Presidente ucraniano Leonid Kuchma viesse às instalações da CIA, em Munique, e ditou-lhe passagens da nova Constituição. Ainda hoje, esta estipula no seu Artigo 16: « preservar o património genético do povo ucraniano implica a responsabilidade do Estado ». A discriminação racial nazi continua, pois, a ser proclamada pela Ucrânia como nos piores momentos da Segunda Guerra Mundial.

Slava Stetsko inaugurando a sessão de 2002 da Verkhovna Rada.

Slava Stetsko foi reeleita nas duas épocas seguintes. Ela presidiu com solenidade às cerimónias de abertura das sessões de 19 de março de 1998 e de 14 de maio de 2002.

Em 2000, Lev Dobriansky organizou uma grande conferência em Washington com muitos funcionários ucranianos. Ele convidou o straussiano Paul Wolfowitz (antigo colaborador de Charles D. Jackson). No decorrer dessa reunião, os « nacionalistas integralistas » colocaram-se ao serviço dos straussianos para destruir a Rússia [7].

Dmitro Yarosh durante a fundação da Frente anti-imperialista contra a Rússia com os jihadistas. Atualmente ele é Conselheiro especial do Chefe das Forças Armadas ucranianas.

Em 8 de Maio de 2007, em Ternopol, por iniciativa da CIA, os « nacionalistas integralistas » da Autodefesa do Povo Ucraniano e os islamistas criaram uma «Frente Anti-Imperialista» anti-russa sob a presidência conjunta do Emir da « Ichquéria », Dokka Umarov e de Dmytro Yarosh (o actual Conselheiro especial do Chefe das Forças Armadas ucranianas). Organizações da Lituânia, da Polónia, da Ucrânia e da Rússia participaram nesta reunião, entre os quais separatistas islamistas da Crimeia, da Adigueia, do Daguestão, da Inguchétia, da Cabardino-Balcária, do Carachaevo-Cherquéssia, da Ossétia e da Chechénia. Impossibilitado de aí se deslocar devido a sanções internacionais, Dokka Umarov teve a sua declaração lida. Retrospectivamente, os Tártaros da Crimeia não conseguem explicar a sua presença nesta reunião, senão pelo seu passado ao serviço da CIA contra os Soviéticos.

O Presidente Pro-EUA, Viktor Iuchenko, criou um Instituto Dmytro Dontsov, no seguimento da « revolução laranja ». Iuchenko é um exemplo do branqueamento anglo-saxónico. Sempre fingiu não ter nenhuma relação com os nacionalistas integralistas, mas o seu pai, Andrei, foi guarda num campo de extermínio nazi [8]. O Instituto Dmytro Dontsov será fechado em 2010, depois reaberto após o Golpe de Estado de 2014. O Presidente Viktor Iuchenko, pouco antes do fim do seu mandato, elevou o criminoso contra a Humanidade Stepan Bandera ao título de « herói da Nação ».

Em 2011, os nacionalistas integralistas conseguiram fazer aprovar uma lei proibindo a comemoração do fim da Segunda Guerra Mundial porque havia sido vencida pelos Soviéticos e perdida pelos banderistas. Mas o Presidente Viktor Yanukovych recusou promulgá-la. Furiosos, os « nacionalistas integralistas » atacaram o cortejo dos antigos combatentes do Exército Vermelho, espancando os velhos. Dois anos mais tarde, as cidades de Lviv e Ivano-Frankivsk aboliram as cerimónias da Vitória e proibiram qualquer manifestação de regozijo. O Presidente Viktor Iushenko, pouco antes do fim do seu mandato, elevou o criminoso contra a humanidade Stepan Bandera ao título de « Herói da Nação ».

Em 2014, os Ucranianos da Crimeia e do Donbass recusaram-se a reconhecer o governo saído do Golpe de Estado. A Crimeia, que se havia declarado independente antes do resto da Ucrânia, reafirmou-o uma segunda vez e aderiu à Federação da Rússia. O Donbass procurou um compromisso. Os « nacionalistas ucranianos », liderados pelo Presidente Petro Poroshenko, deixaram de ali manter os serviços públicos e atacaram a população. Em oito anos, eles assassinaram, pelo menos, 16.000 pessoas perante a indiferença geral.

Foi também a partir do Golpe de Estado de 2014, que as milícias nacionalistas integralistas foram incorporadas nas Forças Armadas Ucranianas. No seu regulamento interno, elas obrigam todo o combatente a ler as obras de Dmytro Dontsov, nomeadamente o seu livro intitulado Nacionalismo.

Em Abril de 2015, a Verkhovna Rada declarou os membros da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) « combatentes da independência ». A lei foi promulgada pelo Presidente Poroshenko em Dezembro de 2018. Os antigos, Waffen SS tiveram direito retrospectivamente a uma pensão de aposentadoria e a todo o tipo de benefícios. A mesma lei criminalizou qualquer alegação segundo a qual os militantes da OUN e os combatentes da UPA colaboraram com os nazis e praticaram limpeza étnica de judeus e polacos. Publicado na Ucrânia, o presente artigo enviar-me-ia e a vós também para a prisão só por tê-lo lido.

Inauguração de uma placa comemorativa do criminoso contra a Humanidade, Dmytro Dontsov, na fachada da agência de imprensa do Estado, Ukrinform. Durante a cerimónia, o Diretor-geral da Ukrinform garantiu que Dontsov tinha fundado, em 1918,

Em 1 de Julho de 2021, o Presidente Volodymyr Zelenski promulgou a lei sobre os povos autóctones da Ucrânia que os coloca sob a proteção dos Direitos do homem. Como regra geral, os cidadãos de origem russa não podem mais invocá-los perante os tribunais.

Em fevereiro de 2022, as milícias « nacionalistas integralistas », que formavam um terço das Forças Armadas do país, planearam uma invasão coordenada da Crimeia e do Donbass. Foram impedidas pela operação militar russa destinada a aplicar a Resolução 2202 do Conselho de Segurança das Nações Unidas para abreviar o calvário das populações de Donbass.

A adjunta do Primeiro-Ministro canadiano, Chrystia Freeland, manifesta o seu apoio ao Presidente Zelensky junto com os membros da secção canadiana da OUN. Atualmente, a Srª Freeland é candidata ao secretariado geral da OTAN.

Em março de 2022, o Primeiro-Ministro israelita, Nafatali Bennett, rompendo com o « sionismo revisionista » de Benjamin Netanyahu (filho do secretário de Jabotinsky), sugeriu ao Presidente Volodymyr Zelensky que subscrevesse as exigências russas e que desnazificasse o seu país [9].

Encorajado por este apoio inesperado, o Ministro russo dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Serguei Lavrov, ousou trazer à tona o caso do Presidente judeu ucraniano, dizendo: « O povo judeu, em sua sabedoria, disse que os antissemitas mais ardentes são geralmente judeus. Todas as famílias têm a sua ovelha negra, como diz o ditado ». Foi demais para os Israelitas que ficam sempre inquietos quando se tenta dividi-los. O seu homólogo de então, Yaïr Lapid, lembrou que os judeus nunca organizaram o holocausto de que foram vítimas. Encurralado entre a sua consciência e as suas alianças, o Estado hebreu repetiu à saciedade apoiar a Ucrânia, mas recusou enviar-lhe o mínimo armamento. Por fim, o Estado-Maior decidiu e o Ministro da Defesa, Benny Gantz, cortou qualquer possibilidade de um apoio aos sucessores dos assassinos de judeus.

Os Ucranianos são os únicos nacionalistas que não se batem nem pelo seu povo, nem pela sua terra, mas por uma única ideia: aniquilar os judeus e os Russos.

Fontes principais:
Ukrainian Nationalism in the age of extremes. An intllectual biography of Dmytro Dontsov, Trevor Erlacher, Harvard University Press (2021).
Stepan Bandera, The Life and Afterlife of a Ukrainian Nationalist. Fascism, Genocide, and Cult, Grzegorz Rossoliński-Liebe, Ibidem (2014).

Tradução
Alva

[1A estratégia ocidental para desmantelar a Federação da Rússia”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 19 de Agosto de 2022.

[2A Polónia e a Ucrânia”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 14 de Junho de 2022.

[3« L’Holodomor, nouvel avatar de l’anticommunisme “européen” » (extrait de Le Choix de la défaite), Annie Lacroix-Riz (2010).

[4«The Wannsee Conference in 1942 and the National Socialist living space dystopia », Gerhard Wolf, Journal of Genocide Research, Vol 17 N°2 (2015). https://doi.org/10.1080/14623528.2015.1027074

[5Boletins do Bloco das nações anti-bolcheviques estão disponíveis na Biblioteca da Rede Voltaire. ABN Korrespondenz (auf Deutsch), ABN Correspondence (in english).

[6«La Liga Anticomunista Mundial, internacional del crimen», por Thierry Meyssan, Red Voltaire , 20 de enero de 2005.

[7Ucrânia : a Segunda Guerra mundial continua”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 26 de Abril de 2022.

[8Андрей Ющенко : “Персонаж и легенда”, Юрий Вильнер, Yuri Vilner (2007).

[9Israel aturdido pelos neo-nazis ucranianos”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 8 de Março de 2022.