Sobre as drogas dos “Pacificadores”

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Por Nikolai MalishevskiStrategic Culture. Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu.

Pelo 3º ano consecutivo, o Afeganistão ocupado pela OTAN cultivou número recorde de papoulas do tipo que produz ópio. Segundo relatório do Gabinete da ONU para Drogas e Crimes [orig. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC)], em 2013 as culturas de papoula de ópio no Afeganistão ocuparam a maior superfície de terra, ultrapassando todos os registros anteriores. Apesar das condições climatológicas desfavoráveis, sobretudo em áreas no oeste e no sul do país, as plantações para produção de ópio ocupavam um total de mais de 209 mil hectares, 36% a mais que no ano anterior.

Oficialmente, o cultivo da papoula-ópio – principal componente para a produção de heroína – é proibido por lei no Afeganistão, embora o número de províncias nas quais a planta está sendo cultivada não pare de crescer. A produção de ópio alcançou a marca de 5.500 toneladas, mostrando crescimento de 49% em comparação com 2012.

A propaganda ocidental culpa os Talibã pela produção de ópio, ou representantes do regime, que estariam imersos no tráfico de drogas. Mas essas alegações não se confirmam, se se observa o que está realmente acontecendo.

O comando da OTAN diz que os Talibã (…) opunham-se inicialmente às drogas, mas agora ou cultivam eles próprios, ou criam “impostos” sobre as colheitas das fazendas produtoras .

Mas os comandantes dos Talibã têm repetido, com insistência, que os mujahideen afegãos estão em luta de jihad contra as forças de ocupação; e que o Islã proíbe estritamente tanto o consumo de álcool quanto de drogas. E deve-se dizer que, sim, os islamistas fanáticos seguem essa regra ao pé da letra.

Quanto aos fantoches do ocidente, como Karzai e os que o cercam, aí, sim, há provas mais do que suficientes de envolvimento deles na produção e no comércio de drogas. Em outubro de 2013, eclodiu um escândalo em Kabul quando, durante inspeções no Afeganistão, descobriu-se que 65 altos funcionários da inteligência afegã eram dependentes de heroína. Alguns anos antes, se soubera que a CIA financiava Ahmed Wali Karzai, irmão mais moço do presidente Hamid Karzai, o qual era conhecido, já há mais de oito anos, como um dos principais traficantes de ópio na região.

Pesquisadores norte-americanos insistem que o tráfico de ópio nos EUA está sendo controlado por redes e cartéis que foram descobertos durante o caso “Irã-Contras” e que não suspenderam suas atividades desde os anos 1980s:

O pilar do regime de Karzai é o apoio que recebe do tráfico de drogas, e, para nós, esse pilar é intocável. Os EUA convertemos o Afeganistão no maior fornecedor mundial de heroína. E isso aconteceu sob o comando da CIA – observam aqueles pesquisadores.

Segundo informação recolhida de vários jornais de grande circulação (The Daily Mail, The New York Times, Pakistan Dail etc.), os principais fornecedores de heroína para o mercado global seriam:

  • Izzatullah Wasifi, governador da província Farah; presidente da Administração Geral Afegã Independente contra a Corrupção, cujas atribuições incluem o combate ao cultivo de papoulas e à produção de ópio, e amigo de infância de Hamid Karzai; e que foi preso por autoridades dos EUA, em julho de 1987, por tráfico de heroína de alto grau (!);
  • Jamil Karzai, presidente do Partido Nacional da Juventude Solidária do Afeganistão [orig. National Youth Solidarity Party of Afghanistan], membro do Conselho Nacional Afegão de Segurança e sobrinho de Hamid Karzai, que manteria relações de negócios com Haji Mohammad Osman, proprietário de um laboratório de produção de drogas no distrito de Achin, na província de Nangarhar (na pequena região do Damgal);
  • Abdul Qayum Karzai, membro da Câmara Baixa da Assembléia Nacional Afegã, ex-empregado da Unocal, empresa norte-americana, e irmão de Hamid Karzai, e que seria o grande barão da droga em Kandahar;
  • Shah Wali Karzai, irmão de Hamid Karzai, proprietários de campos de plantação de papoulas nas províncias de Kandahar, Nangarhar, Urozgan, Zabul, Paktia, Paktika e Helmand; e dúzias de autoridades do Executivo e do Judiciário afegãos, além de funcionários do Ministério de Relações Interiores do Afeganistão.

Se se acredita na imprensa-empresa ocidental, os responsáveis pelos crimes de produção e tráfico são fantoches do ocidente, como a família Karzai e seu círculo, aos quais a mesma imprensa-empresa ocidental culpa pelo rápido crescimento do número de dependentes de heroína em todo o mundo.

Mas a verdade é que só 20% das papoulas-ópio são cultivadas nos distritos do norte e do centro do Afeganistão, que são as regiões controladas pelo governo Karzai.

Todo o resto da produção desse veneno tão lucrativo vem das províncias do sul, da fronteira com o Paquistão – áreas controladas pelas forças da OTAN. O principal centro de produção de drogas é a província de Helmand, que está sob comando de forças do exército britânico.

Em vez de ajudar os agricultores afegãos a mudar-se para colheitas alternativas, os “pacificadores” limitam-se exclusivamente a discutir por que a produção só aumenta; e, segundo provas recolhidas de fontes locais e internacionais, os “pacificadores” também participam ativamente do “negócio”. Alguns analistas estão atribuindo essa “participação” ao fato de que os EUA tentam por todos os meios evitar um conflito potencial contra os barões da droga, cujo apoio político é importante para a existência do governo Karzai.

Mas o que se vê, de fato, é que os EUA estão ignorando deliberadamente o elo que há entre o tráfico de drogas, a crescente instabilidade no Afeganistão e o crescimento de atividade terrorista na região. Dito de forma simples: se os EUA estão garantindo aos barões da droga toda a liberdade de que precisam para manter o “negócio” (em troca de apoio político ao governo de Karzai), os EUA estão, de fato, trabalhando contra os próprios objetivos pelos quais invadiram o Afeganistão: garantir paz e segurança ao país.

Especialistas ocidentais como Thomas Ruttig, co-diretor do centro de pesquisa independente Afghanistan Analysts Network, observa que: (…) com a próxima retirada das forças da OTAN do Afeganistão, diminuiu muito a pressão, pelas autoridades, contra os plantadores de papoula-ópio. O relatório divulgado pela ONU diz, dentre outras coisas, que em 2013 as autoridades destruíram 24% de pés de papoula-ópio a menos, que antes.

Resultado: o Afeganistão está-se afirmando, consistentemente, como o maior fabricante de ópio do mundo, produzindo mais de 90% de tudo que o mundo produziu em 2013.

Há três anos, os mesmos analistas da ONU observaram que as papoulas estavam sendo cultivadas em apenas 14, das 34 regiões do país; no início de 2014, esse número já subiu para 20. Enormes plantações reapareceram em províncias do norte do Afeganistão, como Balkh e Faryab, nas quais a papoula-ópio havia sido declarada erradicada. Essas províncias afegãs são vizinhas de dois países da Commonwealth of Independent States (CIS, organização que reúne 11 repúblicas ex-soviéticas, inclusive a Rússia) – o Uzbequistão e o Turcomenistão.

Simultaneamente, se observa que está em andamento um processo para militarizar os grupos internacionais de drogas concentrados na região.

Viktor Ivanov, chefe do Serviço Federal de Controle das Drogas da Federação Russa [orig. Federal Drug Control Service of the Russian Federation (FSKN)], diz:

Já se vê que estão surgindo grupos armados que, vários deles, são ramificações dos cartéis de drogas no norte do Afeganistão. Esses grupos têm suas próprias unidades de combate (…) No Afeganistão, já está em andamento a rápida militarização de grupos ligados ao tráfico. De modo geral, são bem armados. Têm armas leves, armamento portátil, granadas e lança-granadas, e usam regularmente essas armas. O orçamento de grupos ligados aos tráfico como esses é de cerca de 18 bilhões de dólares norte-americanos. É dinheiro que obtêm da produção da droga, e motivo pelo qual esses grupos converteram-se em fator importante em tudo que tenha a ver com a situação política, econômica e criminal dentro dos estados da Ásia Central.

Já há muitos anos, os EUA vêm usando o tráfico de drogas para manter sua Guerra Fria contra os estados pós-soviéticos, porque consideram que a droga seria elemento eficiente para minar o potencial humano dos exércitos adversários naquelas áreas.

Às vésperas de se retirarem do Afeganistão, as forças de ocupação da OTAN tratam de reforçar a produção de papoulas-ópio, por todos os meios possíveis. Assim, contam com empurrar o conflito para confrontos cada vez mais violentos, usando grupos armados das máfias da droga, que se concentram ao longo da fronteira sul da ex-URSS. Por isso, lá circulam hoje tantas armas e tantos grupos armados mantidos pelo tráfico, mas que se ocultam por trás de “bandeiras” islamistas e de slogans “jihadistas”…

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