20/7/2016, Afra’a Dagher (jornalista de Siriana Afrona), in The Duran
Traduzido por Vila Vudu
A Síria foi tomada por alvo para ser destruída, porque tem papel crucial no Eixo da Resistência do mundo árabe contra a expansão de Israel e EUA. Por isso o Hezbollah – outra parte do mesmo Eixo – luta ao lado do Exército Árabe Sírio no conflito sírio, e a Síria apoia a luta do Hezbollah no Líbano.
O Hezbollah é movimento libanês islâmico, de resistência contra qualquer agressão em território libanês. Tem-se oposto aos planos israelenses para estabelecer uma ‘terra prometida’ de Israel (“Greater Israel“, aprox. “Israel Expandida”), que se estenderia do Nilo ao Eufrates, como desejavam os primeiros líderes sionistas e os atuais ideólogos do sionismo. E também se opõe à ocupação israelense da Palestina. O Hezbollah tem também consistentemente apoiado os palestinos e jamais agiu do modo degenerado como agem muitos governos árabes, cujas políticas para Israel são de rendição e aquiescência.
Em 2000, o Hezbollah libertou com sucesso o sul do Líbano, que havia sido ocupado por Israel. Em 2006, numa guerra que durou 33 dias, o Hezbollah derrotou o poder dos militares israelenses e repeliu o ataque de Israel ao Líbano.
Ao longo daqueles 33 dias, Israel mobilizou todo seu enorme poder militar, esperando vitória rápida, em 2, 3 dias. Em vez disso, os soldados do Hezbollah defenderam suas posições e derrotaram o ataque israelense contra o país deles.
A derrota de Israel diante do Hezbollah em 2006 foi golpe psicológico terrível para os israelenses, que derrubou o mito da invencibilidade e quebrou a aura de medo que até ali cercara Israel.
Sayyed Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah orgulha-se daquele feito: “Beirute foi destruída por Sharon e reconstruída por Hafez Al-Assad. Hoje dizemos ‘Longa vida a Al-Assad da Síria'”.
O presidente Hafez Al Assad, ex-governante da Síria, ajudou a criar o Hezbollah e foi dos primeiros a apoiar o movimento. Síria, Hezbollah e Irã formam, juntos, o que os árabes conhecem como Eixo da Resistência. Esse Eixo assumiu o compromisso de resistir contra Israel e de defender os interesses dos árabes, onde se oponham aos interesses de Israel e dos EUA.
Mas o Eixo da Resistência tem inimigos no mundo árabe. Opõem-se a ele os estados árabes conservadores, alinhados com os EUA.
Por exemplo, o caso do Egito. O povo egípcio apoiou o Hezbollah até quando o Egito esteve mais intimamente alinhado com os EUA, quando estava no governo o ex-presidente Hosni Mubarak. Mas o aparelho de inteligência egípcio prendeu egípcios que apoiavam o Hezbollah durante a guerra de 2006 com Israel. O Egito também fechou a passagem de Rafah na fronteira com a Faixa, quando Gaza estava sendo atacada por Israel.
Mas a rua árabe no Egito e por toda parte apoia o Hezbollah. Para a maioria dos árabes, Israel é o inimigo. É absolutamente natural apoiar o Hezbollah, como elemento crucialmente importante do Eixo da Resistência.
Isso cria para os governantes de muitos dos países árabes uma situação muito embaraçosa. A maioria deles querem reconhecer Israel e normalizar as relações com Israel. Mas o povo quer coisa diferente. Para os eleitores, esse movimento nada tem de ‘normalização’ e significa liquidar interesses árabes, do povo árabe, e entregar terra árabe a Israel. Resultado é que em quase todo o mundo árabe, povo e governo estão cada dia mais em campos separados.
Depois da guerra de 2006, a popularidade do Hezbollah aumentou muito entre os árabes. O que tornou ainda mais difícil a posição de vários governos árabes. A resposta deles, comandada pelas monarquias autocráticas reacionárias do Conselho de Cooperação do Golfo, foi conseguir que a Liga Árabe declarasse o Hezbollah “Grupo Terrorista”.
A triste verdade é que as monarquias ditatoriais de Arábia Saudita, Qatar e Bahrain essencialmente controlam a Liga Árabe, por causa do dinheiro e do poder que têm. Resultado é que podem servir-se da Liga Árabe para promover a própria agenda daqueles monarcas no Oriente Médio – agenda alinhada, não com os mais amplos interesses dos árabes ou o desejo das massas árabes, mas alinhada com agenda e desejos dos EUA e de Israel.
Resultado é que a Liga Árabe recebeu com entusiasmo a guerra no Iraque, apoia a agressão saudita contra o Iêmen e, em 2013 apoiou até a decisão dos EUA de bombardearem a Síria, assim como, antes, havia apoiado a decisão dos EUA de bombardearem a Líbia.
Assim se formou o cenário da guerra que a Síria enfrenta hoje.
Essencialmente, essa guerra é parte de um plano de EUA e Israel, com seus aliados árabes reacionários do CCG, para quebrar o Eixo da Resistência. De fato, o que querem é destruir o Hezbollah, movimento chave da Resistência contra Israel; estão tentando destruir a Síria, para cortar o apoio que a Síria lhe dá.
Isso implica dizer que as guerras no Líbano e na Síria não podem ser separadas uma da outra. O método aí é esfacelar a região em mil cacos, incendiando a violência religiosa. O Hezbollah é xiita; o presidente da Síria é alawita. Então, criaram o chamado ‘Estado Islâmico’ [que não é nem “estado”, nem “islâmico”], sunita.
Esse chamado Estado Islâmico foi concebido para atrair militantes Takfiri de todo o planeta, para que se unissem na guerra contra a Síria. Assim, a guerra para destruir a Síria e quebrar o Eixo da Resistência nunca enfrentou problema de falta de fanáticos a serem recrutados. A guerra é patrocinada e financiada pela Arábia Saudita, essa, sim, verdadeira fábrica do wahhabismo, e por países como Qatar e Turquia [antes da tentativa de golpe contra o governo de Erdogan].
O plano é derrubar o presidente Bashar al-Assad, que deu prosseguimento à política de seu pai, de apoio ao Hezbollah e ao Eixo da Resistência, e recusou-se a normalizar relações com Israel e a reconhecer a ocupação israelense de terra árabe e palestina. O plano é derrubar Assad e substituí-lo com algum representante dos “rebeldes moderados”, que tanto querem trabalhar com Israel e não veem Israel como inimigo, porque estarão obcecados com a ideologia do islamismo radical. Assim se alcançariam dois objetivos: o Hezbollah e o Exército Árabe Sírio seriam destruídos – as duas maiores forças militares que resistem contra Israel.
Quanto aos árabes, é necessário que compreendamos a natureza do jogo que está sendo jogado contra nós. Gaddafi teria sido derrubado na Líbia porque fosse xiita ou alawita? Claro que não. Foi derrubado porque era uma peça nesse jogo de dominós.
Quanto a alguma “democracia”, como poderíamos confiar em “democracia” que chegue até nós trazida pelos tanques norte-americanos? A história recente está aí, bem próxima de nós, para nos servir como guia! E quanto ao Iraque? Por acaso passou a ser “democrático” depois que os EUA invadiram o país? E não enforcaram Saddam Hussein, que era sunita, não era alawita nem xiita?
E que alternativa os EUA oferecem para pôr no lugar dos líderes derrubados? Só o caos. Só o chamado “Estado Islâmico”. Destruição como meio de vida. Suicidas-bombas.
É tudo só um passo a mais na direção do que Condoleezza Rice chamou certa vez de “o novo Oriente Médio”: região frágil, fácil de controlar, com recursos fáceis de pilhar.
Se conseguissem eliminar a Resistência na Síria, na sequência EUA e Israel passariam a tentar eliminar o Exército Árabe Sírio: principal frente de defesa dos árabes, ante os ataques israelenses.
Os EUA querem esfacelar o exército sírio, exatamente como uma vez esfacelaram o exército do Iraque, e pela mesma razão. Não querem que estados árabes mantenham exércitos fortes. E, para conseguir essas metas de destruição, os EUA estão preparados para fazer o que for necessário: jogar com diferenças sectárias ou pôr grupos étnicos, como os curdos, uns contra outros.
Síria, Irã, Iraque, Rússia e Hezbollah são as únicas potências que genuinamente dão combate ao terrorismo no Oriente Médio. No Oriente Médio, “terrorismo” é mais uma arma criada e usada pelos EUA para alcançar seus objetivos geopolíticos. Quebrar o Eixo da Resistência é prioridade absoluta. Por isso criaram a guerra na Síria.
O Hezbollah e o Exército Árabe Sírio não são agressores. Jamais quiseram atacar alguém. Apenas defendem o próprio povo e a própria terra, de agressões externas.
É guerra pela própria existência, para os povos árabes; e é guerra inventada. Mas é também uma única guerra: a guerra contra a Síria e a guerra contra o Líbano são uma e a mesma guerra. É não é guerra exclusivamente contra Síria ou Líbano: há outros alvos já definidos para serem também destruídos. Ninguém pode dizer que o Hezbollah luta só pela Síria. Nem ninguém pode dizer que a Síria defende só o Líbano ou só o Hezbollah. Todas essas forças lutam juntas, contra um mesmo plano do imperialismo, que já estava organizado desde antes de 2006. A luta das forças da Resistência não pode ser fracionada.*****
O Irã não se curva, nem a Síria, nem o Hezbollah, nem a luta palestina, nem a Coréia do Norte.
Muito menos a Rússia e a China.
Além da Venezuela, Cuba, Bolívia.
Está aí o Eixo da Resistência.
Até a Turquia está de distanciando do Ocidente.
O núcleo duro — é claro — da resistência são a Rússia e a China.