Rússia disposta a reaquecer relações, se Ancara desistir da Síria: “é gás versus água”

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A repentina presença não coordenada de mais de mil soldados das Forças Especiais Turcas apoiadas por dezenas de tanques e veículos blindados, numa nova base no norte do Iraque, despertou grave reação, não só em Bagdá, mas também entre aliados do Iraque. O governo turco não informou ao governo central iraquiano sobre esse aumento de forças, nem sobre a alocação delas numa nova base, a 100km de distância das fronteiras. A Turquia está fazendo mais e inimigos – e provavelmente mais sanções virão dos seus vizinhos.

A Turquia tem ferramentas de negociação e demandas de Bagdá a levar em consideração e sobre as quais decidir, antes de retirar seus soldados. É o gás versus a água.

A Rússia também tem uma condição, para restaurar suas relações com a Turquia. O preço é a Síria.


8/12/2015, in Elijah J Magnier Blog
Traduzido por Vila Vudu

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A Turquia manifestou a visitantes iraquianos que está disposta a pagar qualquer preço para que o gasoduto do Qatar atravesse terras turcas e avance até as fronteiras turcas para assim alimentar a Turquia com a energia de que o país precisa, temendo que venham novas sanções russas.

Dado que já não é possível usar o território sírio para esse objetivo, Ancara precisa criar uma alternativa para o gasoduto qatari, caso o Kremlin decida aumentar as restrições econômicas como reação à derrubada do Sukhoi Su-24, mês passado, sobre território sírio e a morte do piloto russo. A Turquia pode dar e ampliar, em acordo com o Iraque, todas as facilidades financeiras e econômicas e avais requeridos para levantar o dinheiro necessário e garantir todo e qualquer apoio militar para combater o terrorismo.

Ancara manifestou o desejo de liberar mais água se a crise for resolvida – ou reduzir, como ficou insinuado, se Bagdá recusar-se a negociar. Os níveis de água do Rio Eufrates a partir do leste da Turquia já foram reduzidos a menos da metade, em 2015.

Dado que não há acordo internacional sobre o Rio Tigre com o Iraque, as represas de Llisu e Cizre no Rio Tigre (tão logo estejam concluídas) e a represa Ataturk no Rio Eufrates podem ser reguladas”.

A Turquia vivia com zero problemas com os vizinhos antes da guerra síria; hoje tem zero amigos e zero paz com os países com os quais tem fronteiras e tradicionais aliados.

Forças turcas cruzaram a fronteira para dentro do Iraque, quebrando todos os tratados, convertidas em força de ocupação.

O grupo que se autodenomina ‘Estado Islâmico’ (ISIS) é considerado organização terrorista, e a Turquia será considerada estado terrorista se não retirar suas forças antes que se esgote o prazo do ultimatum que recebeu [48 horas, que terminam hoje] do governo do Iraque.

Bagdá tem acordo com Ancara para receber instrutores e especialistas. Esses podem permanecer como integrantes das forças da coalizão, para treinar forças de segurança iraquianas e Peshmerga, como previamente acertado.

Turquia e Iraque tinham excelentes relações e coexistiam em harmonia. Mas novas forças turcas penetraram 100 km dentro do território iraquiano, quando o tratado vigente estipulava um máximo de 25 km (no caso de terem de perseguir curdos do PKK em operação punitiva coordenada com o Iraque). Além disso, as dimensões da força turca que penetrou em território do Iraque ultrapassam qualquer nível que se possa considerar para treinamento ou proteção.

Essa força turca é composta de uma brigada de unidades especiais de cerca de 1.300 homens, um regimento de artilharia e dois esquadrões de helicópteros com base em Ba’shiqa. O objetivo das tropas turcas é ignorado. A força turca se posicionou num front demarcado pelo ISIS sem informar ao estado iraquiano qual seria seu objetivo.

Uma explicação possível é que ali estejam para dar proteção ao comboio de caminhões-tanque para transporte de petróleo que sai da Síria e do Iraque, uma vez que a Rússia não pode atacar o comboio em território iraquiano? Lá estará para apoiar o ISIS ou para chantagear o Iraque? Bagdá aceita qualquer apoio em sua luta contra o terrorismo, mas de modo algum está em falta de soldados em solo.

No momento, o Iraque, como estado, não está em posição de entrar em guerra contra a Turquia. A guerra contra o ISIS já mobiliza todos os recursos do país e mantém engajadas as forças militares nacionais. Por tudo isso, não será operação simples declarar guerra à Turquia. Mas enormes projetos econômicos estão ameaçados.

A relação Irã-Turquia também está sob risco. O Irã também busca parceiros alternativos, nas relações de que hoje participa a Turquia no campo da energia.

A situação só piora no Oriente Médio, especialmente pelo modo como a Turquia está chantageando, não só o Iraque, mas também a Europa.

Na questão dos refugiados, o presidente Erdogan está recebendo $3 bilhões de euros para cortar o fluxo para a Europa, de pessoas/populações deslocadas.

Mas hoje, a Turquia ainda agrava mais esse quadro e entra na área crítica de segurança do Irã, servindo-se do pretexto-cobertura sectário de “proteger os sunitas” assim como “o Irã protege os xiitas”.

O sr. Erdogan escapa da Rússia na Síria rumo às áreas do Curdistão Iraquiano, consideradas a frente mais fraca.”

Sobre a relação Rússia-Turquia – A Rússia impõe uma condição para reaquecer suas relações com Ancara. Além de pedido formal de desculpas, a Turquia deve retirar-se completamente de todo o dossiê sírio; deve parar de apoiar milícias que combatem em nome dela na Síria; e deve pôr fim a toda e qualquer ajuda econômica que hoje dá ao ISIS. A Turquia precisa muito do petróleo que recebe do território sírio ocupado pelo ISIS e dos negócios de troca que mantém com o ISIS. A Turquia é o principal fornecedor do ISIS de todos os tipos de itens.

Se a Turquia puser fim a todo esse relacionamento, a Rússia não buscará nenhuma outra reparação para o caso do Su-24.

A presença de novas forças turcas no Iraque hoje é um modo de a Turquia escapar para uma área onde a Rússia não está operando. Essa situação só se alterará no caso de Bagdá autorizar a Rússia a dar caça ao ISIS também no Iraque. Nesse caso, a Turquia perde a vantagem que mantém nesse momento em que está ocupando território iraquiano.”

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