Rotatória à vista

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As viagens recentes do Secretário de Estado norte Americano John Kerry lembram as pipocas estourando e dançando dentro de uma panela. Viagens em todas as direções. Segundo fontes jornalísticas asiáticas, os Estados Unidos já comunicaram a Rússia de sua virada estratégica na crise síria. Vendo o quadro atual, há duas frentes se opondo mediante a convocatória russo-americana por uma conferência internacional sobre a Síria: Genebra 2. Um grupo tenta sua realização e trabalha por seu sucesso enquanto o oposto cria obstáculos ou no mínimo eleva seu teto de revindicações no intuito de abortá-la.

O primeiro é liderado pela Rússia em coordenação com os Estados Unidos juntando ao Irã, ao Egito, ao governo em Damasco e aos membros da oposição presentes na Síria. O lado oposto é liderado pela Turquia, suportada pelo Qatar, pela conivente Arábia Saudita, pelos aliados europeus e pelas facções armadas sediadas no Exterior. O tabuleiro das negociações parece um campo minado. O grupo pró-Genebra 2 aponta para um diálogo interno entre os sírios sob a supervisão de Bashar Al Assad e esta é a razão pela qual o outro grupo trabalha por seu fracasso. O aspecto desse cenário que chama a atenção é a tranquilidade demonstrada pelo Irã em relação à posição dos Estados Unidos. Isso não provém de um vazio diplomático momentâneo, mas, de uma posição manifestada pelos Estados Unidos aos Russos, referida em mensagem enviada pelo ministro de exterior russo Sergei Lavrov à Teerã na qual Moscou relata parte das negociações mantidas com John Kerry no último dia 7 de maio.

Segundo as fontes iranianas do analista político Elie Chalhoub, de reconhecida credibilidade nos assuntos do Golfo Pérsico, o conteúdo da carta cita as palavras de Kerry: “Os Estados Unidos não são como uma motocicleta que consegue virar 180º sem sair do lugar. Os Estados Unidos é como um caminhão e sua carreta que para dar uma volta precisa dar um longo contorno. Nisso ele pode precisar entrar em bairros e ruas estreitas causando alguns danos em prédios e carros parados em ambos os lados, mas, no final acaba dando a volta”. O que condiz com este conteúdo, é a aprovação norte americana pela participação do Irã em Genebra 2 apesar da negativa da Arábia Saudita que demora em se manifestar tentando ganhar tempo e alguma barganha. Diferente do Qatar que já foi posto de lado.

Sem dúvida que os avanços do Exército Sírio nos campos de confronto com os fundamentalistas e mercenários em toda a Síria, em específico na fronteira com o Líbano, as respostas estratégicas de tornar o território do Golã “terra de resistência” assim como a declaração que novas armas sofisticadas serão entregues à resistência libanesa do Hezbollah e logo em seguida, a destruição de um carro militar de Israel ao ultrapassar as linhas de acordos do cessar fogo, deixaram uma nitidez de cenário que o fogo de uma guerra chegou às portas de Tel Aviv por sua fronteira norte. Ao mesmo tempo o Irã, que recusa receber o Emir do Qatar adiando suas visitas, quer uma definição objetiva das alternativas estratégicas do Emirado em todos os dossiês, inclusive o sírio e não uma política de “duplicidades”. Ao entender de todos os diplomatas, são desproporcionais as investidas do Qatar em relação a suas dimensões geopolíticas.

Num outro campo, há o governo da Turquia que também ultrapassou todos os limites da boa vizinhança. Toda vez que era aconselhado pela diplomacia russa e iraniana para reduzir o tom de suas declarações diplomáticas e posições em campo, a mesma respondia por mais animosidade e radicalismo. Daí volta à tona a ideia de culpar Ahmad Doglu, ministro do exterior turco pelo desastre da política externa da Turquia e poupar a imagem do Presidente Gul e do Premiê Erdogan, próximo candidato presidencial.  Talvez seja isso uma especulação de uma saída política para Erdogan.

Segundo as mesmas fontes jornalísticas, os europeus pensaram em Walid Al-Moalem, atual ministro do exterior da Síria como premiê do Governo de conciliação nacional porém suas posturas claras na defesa do Governo atual o distanciou disso na visão da diplomacia francesa e inglesa. Assim também foi a postura de Farouk Al-Sharaa que não possui respaldo ou força política depois de se apresentar como “salvador da Pátria”. Nesse contexto, a diplomacia alemã acordou de novo e busca um nome de consenso presente em Damasco: Abdallah Al Dardari. Será ele?

Por Assad Frangieh – analista do GT Árabe

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